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Sem data para início da coleta seletiva, associações agonizam

Pâmela Rubin Matge

Sem energia elétrica há um mês por falta de dinheiro, a Associação de Reciclagem Seletiva de Lixo Esperança (Arsele), que tem sede em um pavilhão na Avenida Borges de Medeiros, teme encerrar as atividades, que, há cerca 15 anos, são o sustento de 12 famílias de Santa Maria.

Lixeiras da UFSM recebem novas identificações para melhorar coleta

O motivo, segundo os associados, é que, desde que a prefeitura rescindiu o contrato do serviço de coleta seletiva, em março deste ano, não tem mais chegado material para que possa ser reciclado e vendido. A situação é extensiva às outras quatro associações da cidade.

– Antes, a Asmar (Associação dos Selecionadores de Materiais Recicláveis) recolhia e, uma vez por semana, trazia o material aqui (em média, uma tonelada). Agora, não vem mais. Tudo o que recebemos é um caminhão da UFSM que faz a coleta solidária lá dentro da universidade e nos traz. Tem família que não tem de onde tirar renda. Procuramos a prefeitura, e só dizem que estão resolvendo ou se queixam da burocracia – lamenta Lise Brasil, artesã que, há 10 anos, é voluntária na Arsele.

Após trocar de sede, Asmar teme encerrar as atividades

Foto: Lucas Amorelli / New Co DSM

Próximo dali, na Associação de Catadores e Reciclagem Noêmia Lazzarini, que atende seis famílias, há pelo menos 10 anos, a rotina mudou drasticamente nos últimos três meses, conforme conta o presidente, Paulo Moraes da Silva.

– Parou tudo aqui. Mal conseguimos dinheiro para comer. Eu sigo saindo nas ruas para conseguir materiais, o que dá uns R$ 7 por dia – comenta.

Outro problema que afeta diretamente a Arsele e demais moradores da região é a paralisação dos serviços de uma cozinha comunitária, que funciona no mesmo pavilhão. No prédio, também há espaços que sediam oficinas de artesanato.

– Só recebemos verduras e batatas. Ninguém vive só com isso. E, sem luz, está tudo fechado, freezer desligado. Os temperos e saladas que chegam, distribuímos para quem usava a cozinha. Eram refeições para umas 80 pessoas, todos os dias – conta a presidente, Terezinha Magda Ayres.

A coordenadora da Asmar, Maria Margarete Vidal da Silva, relata que, apesar de continuar fazendo a coleta seletiva no município, a associação não recebe mais repasses da prefeitura e, por isso, mantém-se com recursos próprios, que só cobrem as despesas com o combustível e a manutenção dos dois caminhões e da comida dos associados da Asmar e da Associação de Recicladores Pôr do Sol (Arps). Isso porque, desde abril, ambas dividem o mesmo espaço no Bairro Nova Santa Marta, depois que a Asmar teve que sair da sede em decorrência de uma reintegração de posse.

– Nós diminuímos o que ganhávamos e sabemos das dificuldades das outras associações. A prefeitura não ajuda em absolutamente nada. Até propomos usar aquele dinheiro (do contrato) e dividir entre todas as associações, para que cada uma se mantivesse, mas não deu em nada – conta Margarete.

COLETA SELETIVA
Em abril, o secretário de Meio Ambiente, André Domingues,  informou que a ideia era  implantar, até julho, em Santa Maria, a coleta seletiva de lixo seco por meio de contêineres. A discussão estava entre a empresa que recolhe o lixo na cidade, a Conesul, as associações de recicladores e o setor jurídico da prefeitura. 

Foto: Lucas Amorelli / New Co DSM

Em pleno agosto, o município ainda não abriu o processo licitatório e conta com apenas cinco contêineres de coleta seletiva (na cor laranja). Domingues também explicou, à época, que os resíduos sólidos dos novos coletores seriam destinados à Asmar e à Arps, mas, segundo as associações, não é o que acontece:

– Nem faço ideia do que tem dentro daqueles contêineres, e nunca recebemos nada – afirma Margarete.

Conforme o secretário André Domingues, a população não está respeitando os procedimentos de separação e acaba dispensando lixo seco e lixo orgânico no mesmo local. Contudo, a prefeitura já trabalha em projetos de conscientização nos bairros da cidade. O primeiro, já nos próximos dias, será o Perpétuo Socorro, que receberá dois contêineres na cor laranja. Depois, será o Nossa Senhora de Lourdes, ainda sem data definida.

Ele ainda menciona que, atualmente, percebe acomodação por parte de algumas associações de recicladores e falta de conscientização das pessoas em relação ao dispensamento e à separação do lixo.

Já a instalação dos demais coletores de resíduos sólidos segue sem data definida, bem como a nova licitação para a coleta seletiva. Domingues explica que as condições para implantar o serviço estão sendo estudadas pelo Executivo. É preciso várias alterações, diferentes do modo como funcionava no antigo contrato. Isso leva em consideração alguns apontamentos do Tribunal de Contas do Estado (TCE), como a ausência, até então, de uma planinha de custos fornecida pela empresa contratada. A ideia da prefeitura, segundo Domingues, também é ampliar a coleta para que se recolha um volume de material 20 vezes maior:

– Há uns cinco anos, o TCE vem apontando irregularidades, e nós estamos estudando uma coleta adequada para cidade. 

Foto: Lucas Amorelli / New Co DSM

COMPROMISSO SOCIAL E AMBIENTAL
A responsabilidade pelo lixo que se produz, bem como a destinação, é de cada cidadão. Além de separar o lixo seco do lixo orgânico, os coordenadores das associações de recicladores de Santa Maria podem receber, diretamente em suas sedes, resíduos sólidos. Abaixo, os endereços:

- Associação dos Selecionadores de Materiais Recicláveis (Asmar) – Rua dos Branquilhos, nº 79, no Bairro Nova Santa Marta
- Associação de Recicladores Pôr do Sol (Arps) – Rua dos Branquilhos, nº 79, no Bairro Nova Santa Marta
- Associação de Reciclagem Seletiva de Lixo Esperança (Arsele) – Avenida Borges de Medeiros, nº 101, Bairro Divina Providência
- Associação de Catadores e Reciclagem Noêmia Lazzarini – Rua João Batista G, nº 8, Bairro Divina Providência
- Associação de Recicladores de Camobi (Arca) – Rua Nérsio de Oliveira, n° 55, Bairro Camobi


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