20 anos do diário

VÍDEO: a história da menina que vendeu pão de mel para fazer cirurgia no coração

Natália Müller

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Marcelo Oliveira 

Se tem uma palavra que define muito bem a adolescente Maria Clara Mendes Derzette, 14 anos, é persistência. Quando tinha apenas nove anos, a menina foi diagnosticada com cardiopatia congênita e precisou passar por uma cirurgia delicada. Sem verba para o procedimento, a família moveu Santa Maria em um ato coletivo de solidariedade. A venda dos pães de mel da Maricota ganhou a mídia local e as páginas do Diário, que acompanhou toda a história da pequena guerreira.


Atualmente, com uma vida saudável e cheia de sonhos, a jovem recebeu a equipe de reportagem para falar sobre estudos, profissão e futuro. A mãe, Cicernair Mendes, 41 anos, e a avó, Maria Juliana Pinto, 66, lembram da trajetória de luta e superação da família, que permeou as páginas do Diário diversas vezes mesmo antes do diagnóstico e da campanha. Há 10 anos, a história da família de Maria Clara e do Diário se cruzam em histórias de superação. 

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ESTREIA
Tudo começou em 2011, quando Maria Clara foi uma das vencedoras de duas promoções do Diário, uma na Páscoa e outra no Natal. Na época, com quatro anos, ela teve um desenho publicado no jornal impresso e ganhou uma caneca personalizada, que ela guarda até hoje.

No ano seguinte, novamente a menina virou notícia. Mas desta vez, em função de um acidente que impactou a família.

- Ela tinha cinco anos e ficava com o vô Athaydes enquanto trabalhávamos. Um dia, a casa pegou fogo, e quando o vô foi tentar apagar, caiu e fraturou a bacia. Ela saiu correndo para pedir ajuda. Sete homens que trabalhavam na construção ao lado conseguiram salvá-lo. Depois disso, o Diário proporcionou o encontro com esses anjos da guarda. Foi lindo e emocionante - lembra Cicernair, a Ciça, mãe da menina.

Maria Clara mantinha o olhar distante enquanto a mãe falava sobre o incêndio. Isso porque, mesmo sendo salvo, depois de 10 meses, o avô Athaydes Vieira Derzette morreu devido a complicações da fratura e descoberta de um câncer.

Os olhos só voltaram a brilhar quando o assunto foi a cirurgia que deu uma nova vida para ela.

DOCE ESPERA
O período entre o diagnóstico da condição cardíaca e o dia da operação foi marcado por muito empenho e dedicação. E nada melhor do que mãe, pai e avó para formar uma equipe.

- Aos sete anos, Maria Clara tinha dificuldades em subir as escadas do prédio em que morávamos. No início, achamos que era manha, já que depois do incêndio precisou tratar o trauma com acompanhamento psicológico. Mas a dona Mari, que cuidava dela na época, alertou que poderia ser algo mais grave - lembra Ciça, que, na ocasião, levou a filha para consultar na Unidade Básica de Saúde Dom Antônio Reis.

Os primeiros exames, feitos no pulmão, não detectaram nenhum problema e Maria Clara foi encaminhada a um cardiologista.

- O médico descobriu um tipo de cardiopatia congênita e ela precisava de uma pequena prótese para manter o funcionamento do coração. Como a iniciativa pública não cobria, teríamos que pagar pelo procedimento na rede particular. A partir daí começou a nossa luta - diz a mãe.

Assim como na gestação, foram nove meses de campanha que deram uma nova vida à Maria Clara. Mas conforme a mãe, isso só foi possível graças a uma reportagem feita pelo Diário.

PORTAS ABERTAS
A ideia de vender pães de mel veio do marido, o motorista Gedeão Derzette, 38 anos. Depois de fazer a primeira fornada e vender pelo centro da cidade, a mãe não se deu por satisfeita e aproveitou a alta temporada de verão para levar os pães pro litoral:

- Eu pegava o ônibus para Capão da Canoa nas madrugadas de domingo e passava o dia vendendo na praia. Lá, conheci um senhor que, ao entender a nossa situação, sugeriu que vendêssemos em um rodeio no Minuano, que ele participaria em algumas semanas depois. Então me preparei para isso.

Com uma vaquinha organizada e um vídeo da Maria Clara no YouTube, a campanha ganhou espaço. A notícia recortada do jornal era carregada por Ciça a todos lugares:

- Quando fomos no rodeio na Estância do Minuano vender os pães de mel, fui questionada sobre a veracidade da campanha. Quando mostrei a matéria do Diário, acreditaram em mim. Foi ela que deu a credibilidade que precisávamos para a campanha dar certo. O Diário foi uma porta que Deus abriu, e a partir dali não paramos mais.

A família conseguiu apoio jurídico para conseguir recursos e com a repercussão, ganharam aliados como os integrantes da Legião do Bem, que ajudaram nas vendas dos pães.

Foram R$ 34 mil levantados em nove meses até a cirurgia, realizada em 7 de julho de 2017. Hoje, Ciça não fabrica pães de mel por falta de espaço, mas tem tudo guardado para retomar a fabricação no futuro. 

PLANOS PARA O FUTURO 
Responsável e dedicada: é assim que Ciça vê a filha, que desde muito cedo superou traumas e levou os desafios com leveza. Conforme a mãe, desde que ajudava na produção dos pães de mel, Maria Clara é engajada e alegre. A mãe atribui essas qualidades como fatores que ajudaram a recuperação rápida no pós-cirurgia da filha.

- Foi tudo muito rápido. Depois do procedimento, só fiquei uma semana no hospital para evitar o deslocamento para Santa Maria e logo já foi "vida que segue". Atualmente, tenho uma vida normal, só vou uma vez ao ano fazer avaliação com o médico, mas nada além disso - conta a jovem, sob o olhar atento e cuidadoso da mãe.

Mesmo depois de tantos obstáculos, Maria Clara é uma típica adolescente que adora redes sociais e é cheia de sonhos. Na porta do quarto, um painel com imagens de tudo o que ela ainda pretende realizar, como o vestido da festa de 15 anos, o dia da formatura e o emprego na Nasa.

Com a mesma leveza e determinação com que lidou em todo o processo de campanha e pós-operatório, ela corre atrás de tudo o que está neste mural dos sonhos. Um deles já foi alcançado: a aprovação para o Colégio Militar de Santa Maria, onde estuda. Nas mãos, segura o boletim que registra as notas máximas, prenúncio do que está por vir:

- Estudei bastante para conseguir essa aprovação. Não passei na primeira vez, mas também não desisti. Mudei a estratégia e passei na segunda tentativa. Eu amo exatas, números e cálculos, fui selecionada para participar da próxima Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obemep) e pretendo ser engenheira aeroespacial, que lida muito com isso - conta a jovem.

Em um diálogo fluido e tranquilo, Maria Clara agradece aos que já ajudaram a família em algum momento. Para ela, traumas não existem, já que o presente é uma grande oportunidade de construir o futuro:

- Persistência é uma das palavras que me definem. É importante lembrar que isso é muito diferente de insistência. Persistência é quando a pessoa tem um objetivo e segue um plano de ação. Foi isso que eu aprendi e tento aplicar na minha vida. Tem uma frase que gosto muito que é: "a diferença entre o ordinário e o extraordinário é exatamente o extra". Isso quer dizer que quando a gente fizer algo extra, a gente alcança nossos sonhos, e esse é um dos meus propósitos - diz Maria Clara.

Que a força esteja com você! 

Gabriela Perufo
editora de Geral

Lembro da primeira vez que bati à porta da casa da família Mendes Dezertte. Da entrada, o cheiro de pão de mel saindo do forno virou marca registrada. Em segundos, uma menina sorridente me recebeu e conversamos sem parar. Foram algumas idas até aquela casa, no Parque Dom Antônio Reis. Em todas, a Ciça sempre produzindo os doces que caíram no gosto de todos, inclusive da redação do Diário. Também encontrei Darth Vader e Stormtrooper, personagens do Star Wars, na cozinha, ajudando a finalizar ou embalar aquelas delícias. Os vilões em questão eram voluntários da Legião do Bem, e ajudavam naquela campanha em que todo dinheiro das vendas era guardado para a cirurgia. E os Jedis também deixavam a rixa de lado com seus arqui-inimigos para se empenhar na produção.

E entre uma informação e outra, Maria Clara me arrastava para brincadeira. Recordo de vê-la bolando planos infáliveis para se tornar uma atriz de novelas infantis. Hoje, quando a vejo estudiosa e responsável, empenhada para trabalhar na Nasa, sinto um orgulho enorme.

Na vida real, não existem vilões ou mocinhos, mas existem doenças que fazem crianças lutar pela vida. A saga da doença no coração chegou ao fim e tem final feliz, mas as aventuras da Maricota continuam. Se uma menina conseguiu unir a Ordem Jedi com o Império Galático, trabalhar na Nasa e explorar outros universos será imperdível. Maria Clara, que a força continue com você.

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