Com a chegada do último grupo de militares gaúchos na madrugada de sábado, o Estado se despede da força de paz. A intenção é que a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah) termine neste ano e, em 2016, não haja mais militares estrangeiros no país caribenho.
Do grupo de 161 brasileiros que passaram pelo menos seis meses na tarefa de "peacekeepers" (protetores da paz) 79 atuam em quartéis de Santa Maria. Terminado o trabalho, chegou a hora de voltar para casa e rever familiares, tentando transmitir toda a experiência vivenciada em meio aos conflitos, à miséria e à solidariedade entre diferentes países
Não vou saber transmitir tudo, é difícil explicar. Só estando lá para ver a miséria, a sujeira. O que aqui a gente vê como supérfluo, para os haitianos é essencial, faz muita falta. Algo que trouxe para mim é que não podemos deixar nosso país chegar a esse estágio de degradação e miséria testemunha o 1º sargento Fabiano Nunes Nogueira, que serve no 29º Batalhão de Infantaria Blindada (29º BIB) e que, no Haiti, trabalhava no controle dos militares responsáveis pela patrulha ostensiva.
Depois de vivenciar situações de perigo e da confrontação pessoal com a pobreza, o desafio de Fabiano é reconquistar o carinho e a proximidade dos filhos gêmeos de seis anos, que acabaram se acostumando com a sua ausência.
Ao receber os últimos militares vindos do Haiti, na madrugada de sábado, no 4º Batalhão de Logística (4º B Log), o comandante da 6ª Brigada de Infantaria Blindada, general Fábio Benvenutti Castro, valorizou a participação das tropas locais na missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU):
É muito bom para o soldado. Aquilo que nós ensinamos aqui, na teoria, lá eles podem aplicar na prática.
Experiência transformadora
Quem foi enviado à missão e, agora, chega em casa, diz que verá as coisas de outra forma. O interesse e empenho do povo haitiano em, por exemplo, aprender idiomas, desperta admiração entre os brasileiros. Colega de missão de Fabiano, o 1º sargento Paulo Augusto Soares Cogo, que trabalha na intendência do 4ª B Log, relataram o caso de um haitiano que, por questão de sobrevivência, aprendeu a falar espanhol, francês, inglês e português e, em um pedacinho de papel, exercitava conhecimentos de alemão e russo. Ele considera transformadoras as experiências que teve.
Foi muito bom reencontrar colegas, fazer amizades, ver militares de vários países trabalhando juntos. Tudo o que vamos fazer agora é diferente, tem outro sentido conta Augusto.
Uma das transformações que os dois puderam presenciar foi a formação de 1,2 mil policiais haitianos, os primeiros do país, que também não tem forças armadas institucionalizadas. Agora, a distância, os brasileiros torcem para que a situação política e social do Haiti melhore com o tempo.