Fotos: Beto Albert/arquivo Diário
Ainda são visíveis os impactos das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio deste ano. O episódio deixou centenas de municípios completamente ou parcialmente destruídos, pessoas desabrigadas, além de dezenas de feridos e mortos. Em Santa Maria, após 6 meses do ocorrido, a situação das áreas de risco segue em monitoramento.
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Em entrevista ao programa Bom Dia, Cidade, da Rádio CDN, na manhã desta sexta-feira (8), a geóloga e professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Andréia Nummer, falou sobre o projeto que resultará na elaboração do Plano Municipal de Redução de Riscos de Santa Maria.
As atividades, que consistem no mapeamento de áreas de risco alto e muito alto, começaram em julho de 2023, contemplando bairros e trechos da cidade como Urlândia, Santos, Lídia, Beco da Babilônia, Arco-Iris, entre outras. Atualmente, a equipe atua no Bairro Km3 e nas vilas Schirmer (Bairro Presidente João Goulart) e Bilibio (margens da BR-158, subida para Itaara).
– Essas comunidades foram escolhidas justamente por ter uma comunidade envolvida e o risco envolve afetar pessoas. Elas já estavam no Plano Municipal antigo. Muitas dessas áreas já saíram do risco, porque houve intervenção. E outras, por conta das chuvas intensas de maio, entraram na lista. Esse é o caso da Vila Bilibio. Ela não estava na nossa escolha de comunidade anterior, porque já tinha ocorrido intervenções e o local estava estável. Com as chuvas intensas, parte dela voltou a ser área de risco. Nós já mapeamos lá. É um trabalho árduo e longo. O mais legal desse estudo é que vai ficar depois para ser atualizado a cada ano pelo próprio pessoal que faz a gestão. Também ajudará a captar recursos – explica Andréia, que coordena o projeto.
Com prazo final previsto para o 2º semestre de 2025, a iniciativa também mapeará áreas próximas do Morro do Cechella. Em 1º de maio, um deslizamento de terra no local resultou na morte de duas moradoras da Rua Canário. Segundo Andréia, o monitoramento da chuva em áreas de risco precisa ser constante para que sejam tomadas as devidas providências:
– É um processo que não tem como controlar. É um problema que, quando a gente ouve um barulho, tem que retirar as pessoas. Percebemos que na Vila Schirmer, muitas pessoas já saíram com auxílio do Aluguel Social e isso já é um grande avanço. Mas ainda não terminamos esse trabalho. No nosso projeto, apontamos algumas soluções.
Ações como desassoreamento dos cursos d’água para evitar inundações, proteção e revitalização das margens, além de estudos técnicos com mais detalhes são algumas das medidas a serem consideradas no Plano Municipal de Redução de Riscos. A proposta busca inclusive evitar o agravamento das condições de determinadas áreas em Santa Maria, que pode se tornar de risco alto. Na entrevista, Andréia cita o exemplo da Vila Santa Terezinha:
– A Vila Santa Terezinha foi uma área que sabíamos que tinha processos muito lentos de movimento de terra. As casas poderiam ter alguma trinca ou rachadura muito leve, mas que não era perceptível. Com as chuvas, o material se movimentou mais rápido e nesse caso, houve estragos. Para nós, essa era uma área que não era conhecida, nem estava na nossa lista. Mas não sei se iremos conseguir tempo suficiente para incluí-la nos estudos, porque seria muito legal fazer isso.
Desalojados
Durante o evento climático de maio, algumas áreas de risco foram interditadas em Santa Maria, resultando na retirada e encaminhamento dos moradores para locais seguros. A medida também foi comentada pela professora da UFSM:
– Sempre falamos que a última das opções é retirar as pessoas, porque elas têm uma relação com a comunidade. Mas quando a pessoa está em alto perigo, não tem como não retirá-la. Essa é a solução imediata. Depois disso, com o passar do tempo, essas áreas passam a ser reavaliadas para delimitarmos melhor quais realmente são as populações que estão envolvidas naquele processo. Mas como medida emergencial, (a solução) é retirar o maior número de pessoas do local para protegê-las. Isso é o mais importante.
Avanços
Na avaliação da professora da UFSM, Santa Maria tem avançado no processo de redução de risco nas áreas citadas, mas ainda é necessário manter o compromisso com a pauta para os próximos anos.
– É um desafio gigantesco, porque é muita coisa para fazer. Mas esperamos que haja um comprometimento. Que (o assunto) entre na pauta do próximo governo como uma das questões que precisa continuar sendo tratada – conclui Andréia.