Sétimo dia de júri tem depoimento mais longo e debate sobre função do MP

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)

O extenso depoimento de Gerson da Rosa Pereira, 56 anos, que à época da tragédia era chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, gerou comentários de indignação entre os familiares de vítimas, fez com que a maioria se retirasse do plenário, bem como fez o juiz do Caso Kiss, Orlando Faccin Neto, elevar o tom pela primeira vez desde o começo da julgamento. Em seu sétimo dia, esse já se consagra, pois, o mais duradouro júri da história do Rio Grande do Sul. Até então, o júri do Caso Bernardo havia durado cinco dias.

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Em depoimento, o bombeiro chegou a chorar durante e falou repetidas vezes do estigma que carrega por ter respondido a um processo _ já arquivado por prescrição_ que o condenava por ter fraudado documentos da boate. Gérson afirmou que alvará da Kiss estava vencido desde agosto de 2012, mas isso não impedia se continuar operando mediante o pedido de renovação, inclusive, chegou a mencionar que a "boate era segura" e que as portas de emergência da Kiss não estariam erradas. Ele também criticou o inquérito feito pela Polícia Civil e às interpretações geradas a partir da imprensa sobre o caso. 

- O delegado de polícia jogou minha dignidade em um saco - disse ele. 

Em outro momento, o juiz foi quem interferiu:

- Coloque-se no seu lugar. O banco de testemunhas não é palanque.

Antes dele, outras duas pessoas foram inquiridas: Nivia e Venâncio. Nivia da Silva Braido, 35 anos, a segunda depor ontem, acabou sendo ouvida em plenário na condição de informante (ela é terceira pessoa que muda de modalidade neste júri) devido ao seu relacionamento passado com um ex-advogado da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). Em 2012, ela foi procurada por Elissandro para colocar um papel de parede na boate. Em depoimento, ela explicou a diferença de projeto arquitetônico e projetos complementares, como é o caso de um projeto acústico e contou que chegou a questionar o proprietário da casa noturna se ele havia consultado responsáveis técnicos para reformas.

Já o depoimento de ex-operador de áudio da banda Gurizada Fandangueira, Venâncio da Silva Anschau, 40 anos, que abriu o sétimo dia de júri, marcou pelos relatos densos, com diversas pausas e choro incontido. A comoção se revelava ao lembrar da esposa, que estava gestante de 40 semanas sendo internada no mesmo dia que ele, que inalou fumaça e precisou de internação. O operador foi quem desabilitou o som quando percebeu o incêndio, afirmou que o uso de artefatos pirotécnicos eram comuns nos shows da banda e que não se sentia vítima dos réus.

Às 21h17min, iniciou a fala de Nilvo José Dornelles, 53 anos. Ele era proprietário de outra casa noturna de Santa Maria em 2013. A testemunha, convocada pela defesa de Marcelo de Jesus dos Santos, falou sobre a utilização de pirotecnia em show da Gurizada Fandangueira e outras bandas. Segundo ele, o uso era comum tanto na Kiss quanto em outras casas. No decorrer do depoimento, a defesa de Luciano Bonilha Leão e representantes da acusação discutiram, e o juiz teve que intervir com pedidos de "contenção". Pais chegaram a deixar o plenário.

- Ninguém é mais ou menos certo porque fala mais ou menos alto. Vamos terminar essa oitiva, mas vamos terminar com serenidade - disse Faccini Neto.

MP FISCALIZA?
Uma discussão entre a defesa de Mauro Hoffmann e o promotor David Medina movimentou o plenário e colocou em cheque a atuação do órgão: Ministério Público Fiscaliza? Medina afirmou que não. O advogado Bruno Seligman de Menezes sustentou que sim.