Deslizamentos de terra na região e no Estado ligam alerta e órgãos buscam planos para evitar desastres em períodos de maior risco

Deslizamentos de terra na região e no Estado ligam alerta e órgãos buscam planos para evitar desastres em períodos de maior risco

Foto: Nathália Schneider

É consenso dizer que o mundo está em constante alteração. O Rio Grande do Sul vive momentos de duas cheias históricas de rios em cerca de dois meses. Somente neste mês, mais de 28 mil pessoas foram atingidas no Estado. O principal problema enfrentado é fazer com que os riscos à população sejam minimizados. O país tem um mapeamento para redução de riscos em áreas de encostas, mas enfrenta com frequência problemas ocasionados por deslizamentos e grandes enchentes.

+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp

Na Região Central, Santa Maria também enfrenta adversidades. Em menos de um mês, o trecho entre Santa Maria e Itaara, na BR-158, registrou três deslizamentos de terra. Um deles deixou a rodovia parada por pelo menos três dias. Filas de caminhões e carros foram registradas no período. Uma contenção emergencial foi realizada. As forças de segurança tiveram que se manter no local para bloquear a passagem de trânsito. A chefe da 9° Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Ana Cristina Londe, explica que o momento era de risco tanto para quem teve que trancar a via a trabalho quanto para quem desejava fazer o trajeto por meio de transportes:

– Foi um trabalho integrado. O trânsito é um espaço coletivo. Tivemos que contar com o apoio de outras forças que nos auxiliaram para fazer essa fiscalização. Elaboramos um plano naquela época para a liberação da rodovia. Priorizamos a liberação primeiro dos caminhoneiros que se encontravam em Itaara e depois a liberação do sentido Santa Maria-Itaara.

Entenda

Plano de contenção

Desde março de 2023, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) trabalha na elaboração de um plano de contenção de deslizamento de terra no local. Segundo o órgão, ainda não é possível elencar quais ações serão feitas, visto que ainda estão em andamento. A expectativa de entrega é para o fim de 2023

– Naquele momento foi realizada uma contenção provisória para a liberação da pista o mais rápido possível. O Dnit desenvolve um projeto executivo de melhorias e restabelecimento de contenções de toda a encosta da serra Santa Maria - Itaara. Este projeto que apontará as soluções definitivas, contemplando inclusive o ponto que houve o deslizamento – explica um dos representantes. 

Um dos problemas era uma rocha que havia deslizado no local. Um carro acabou colidindo com a pedra e o motorista morreu no local. Segundo o órgão na época, o obstáculo não havia sido retirado por conta da necessidade de equipamentos específicos. Na última semana a rocha foi detonada.

Em 1999, houve um deslizamento da própria rodovia na BR-158 - próximo a casa noturna Corujão. No local, agora reconstruído, há um desnível de pista onde ocorreu a queda. No local foi realizada a drenagem da água: 

– Arrumaram a drenagem no local e reconstruíram. No entanto, ficou daquela forma e lembramos do deslizamento por isso também – explica a professora do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Andrea Nummer.

Santa Maria tem 118 áreas de risco mapeadas

São 118 as áreas de risco em Santa Maria. Em decorrência disto, o município foi inserido no Novo Programa Aceleração do Crescimento (PAC) para angariar recursos do governo federal. Desde abril, a prefeitura trabalha na atualização do Plano Municipal de Contingência de Proteção da Defesa Civil, que está previsto dentro do Programa Santa Maria Resiliente. 

No Santa Maria Resiliente, o município contará com um montante de R$ 264.251.429,27. O valor será investido para reduzir riscos em margens de rios como Vacacaí e Vacacaí-Mirim, além dos seus afluentes, segundo o chefe de gabinete do prefeito, Alexandre Lima. 

Em 5 de setembro de 2023, a prefeitura assinou contrato com a empresa Hopeful. O objetivo do contrato é a prestação de serviços de cursos e treinamentos  no valor de R$ 21,3 mil. O prazo é de três meses. O contrato segue o seguinte cronograma: 

  • Plano de Contingência  - Elaboração ou atualização, baseado em (3) oficinas entre órgãos
  • Simulados Progressivos  - Quatro (4) simulados, sendo 2 de mesas e 2 de áreas de risco
  • Protocolo de Comunicação - Elaboração e validação, baseado em (2) oficinas e micro simulado
  • Voluntariado (em desastres) - Elaboração de protocolos, baseado em (2) oficinas com órgãos e instituições
  • Educação Comunitária + Plataforma Online (Novo) - Elaboração de curso e material para palestras nas escolas de educação

As reuniões preparatórias já iniciaram, junto a Defesa Civil, Secretaria de Município de Elaboração de Projetos e Captação de Recursos (Secap), Instituto de Planejamento de Santa Maria (Iplan) e Secretaria de Infraestrutura para definição das áreas que receberão os estudos e as cartas geotécnicas. A partir de 2024 serão realizados os trabalhos de campo junto ao Serviço Geológico do Brasil

– O estudo realizado, resumidamente, será referente ao impacto da chuva nos terrenos e também da habitação humana nestes locais. Definir quais os perigos nestes locais e como enfrentá-los. 

Em 2007, o Ministério das Cidades elencou alguns pontos pelos quais acontecem desastres, como deslizamentos de terras. Confira alguns pontos do mapeamento:

  • Crise econômica e social com solução a longo prazo
  • Política habitacional para baixa renda historicamente ineficiente
  • Ineficácia dos sistemas de controle do uso e ocupação do solo
  • Inexistência de legislação adequada para as áreas suscetíveis aos riscos mencionados
  • Inexistência de apoio técnico para as populações
  • Cultura popular de “morar no plano”

Além disso, o mapeamento reforça de que modo o risco pode ser reduzido pensando nos motivos elencados. Reduzir o risco agindo no processo e sobre a consequência, evitando formação de áreas de risco, como o controle efetivo do uso do solo e convivendo com os problemas - neste ponto, seria necessário traçar planos preventivos pela Defesa Civil. A professora do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Andrea Nummer, explica que cheias e alagamentos sempre existiram. O principal problema é quando acabam impactando a população presente no local

– A nossa prioridade hoje com uma situação de escorregamento por conta dos grandes volumes de chuva é conhecer esse terreno. Chamamos isso de mapa de suscetibilidade. Temos que saber quais os locais mais suscetíveis para que isso aconteça. 

Situações de emergência

Foto: Nathália Schneider

Análises de encostas, como pontua o mapeamento, deveriam ser feitas com frequência. Os casos mais frequentes são de a análise ser realizada quando a ruptura já ocorreu. Solucionar, nestes casos, com uma contenção tem um alto custo. Nummer explica que a manutenção de contenções já existentes em alguns casos podem evitar que deslizamentos aconteçam:

– É pouco comum no Brasil fazer manutenção deste tipo de contenção, de grades segurando os blocos que caem. É comum fazer manutenção de um buraco na estrada. Mas não vemos manutenção deste tipo de área. Quando ela enche de rocha, o bloco já cai direto por cima da estrada. Deveria sempre ter esta manutenção. É preciso fazer a manutenção das pistas, e não é só do asfalto, mas de toda a parte de contenção – reforça.

Rochas na localidade ​

Foto: Nathália Schneider


A região de Santa Maria é composta por diferentes rochas. No entanto, em direção à serra, há uma mudança de característica nelas. Em decorrência disso, a forma que os deslizamentos acontecem também são diferentes. Nummer explica que este processo é a evolução da encosta e também é algo natural.

Rochas sedimentares

  • São arenitos. A característica dela é que desliza facilmente pela mão quando a pegamos, por exemplo. 

Rochas ígneas vulcânicas

  • Já na serra, muda o tipo de rocha: as ígneas vulcânicas. Elas, quando a lava resfria, contrai-se e quebra em blocos. Esses blocos são naturais e, quando chove, deslocam-se e caem. São também cobertas por um material chamado colúvio. 

Colúvio

  • Material instável que fica mais na parte de cima de encostas. Quando chove, ele escorrega por cima de estradas junto com os blocos rochosos.

Métodos de contenção ​

Retaludamentos

  • São obras de estabilização que partem de uma mudança geométrica das encostas. Neste método são realizados cortes e aterros, que podem ter ou não estruturas de contenção. Se redesenha inclinações da terra com terraplanagem. Assim, o local tem uma inclinação menor e intercalam com espaços planos. 

Muros de gravidade

  • São muros de pedra seca, argamassa, gabião (pedras presas em gaiolas metálicas de fios de aço), concreto ciclópico e concreto armado. Neste caso, o peso da estrutura suportará o local que precisa ser estabilizado. 

Obras específicas para maciços rochosos

  • As obras específicas para blocos rochosos vão desde a quebra manual, até as mais complexas, que incluem muros com custos mais altos.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

5ª edição do Encontros Insólitos contará com palestra sobre experiências sobrenaturais Anterior

5ª edição do Encontros Insólitos contará com palestra sobre experiências sobrenaturais

Farmácia de Medicamentos Especiais estará fechada nesta terça-feira em Santa Maria e outras 5 notícias Próximo

Farmácia de Medicamentos Especiais estará fechada nesta terça-feira em Santa Maria e outras 5 notícias

Geral