Especial

Rede do Tráfico: Quando a violência bate à porta

Lizie Antonello

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Desde janeiro deste ano, Santa Maria vive uma onda de violência que colocou em alerta autoridades da segurança pública da cidade e do Estado. Chegamos ao começo de junho com a marca de 35 assassinatos - 30 homicídios e cinco latrocínios (roubo com morte) -, três a mais que o dobro do registrado no mesmo período do ano passado (16 homicídios). Mesmo assustada, grande parte da população vê esses crimes ocorrerem com certo distanciamento. É como se essa violência toda não atingisse o cidadão comum, que vê como alvos os pequenos traficantes, devedores do tráfico, presos ou egressos do sistema prisional.

Essa impressão é reforçada pelo mapeamento dos assassinatos - a maioria ocorreu na periferia da cidade (32 casos) e apenas três na área central, entre 19h e 5h (17 casos), em locais ermos, de pouca circulação e com pouca ou nenhuma iluminação, ou nas casas das vítimas (29 dos 35 casos).

Mas essa acaba sendo uma visão distorcida da realidade, já que o tráfico de drogas, que está por trás da maioria dos crimes contra a vida, também alicia crianças e adolescentes e alavanca o crescimento de outros delitos, como os contra o patrimônio, deixando, sim, vulnerável toda a comunidade.
- Muitos dos traficantes de hoje começaram com roubos e migraram para o tráfico. Mas, para capitalizar o "negócio", fazem ou encomendam roubos, com uso de violência - diz o delegado Sandro Meinerz, titular da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) sobre a máquina do tráfico.

No primeiro trimestre deste ano, foram 35,68% a mais de roubos do que nos três primeiros meses de 2013. Os furtos aumentaram quase 18% no mesmo período comparativo. Isso faz com que o cidadão comum, o pedestre, o comerciante, o empresário, eu e você, ou seja, todos sejamos, sim, alvos em potencial da violência.

A explicação para o distanciamento da população em relação aos assassinatos, de acordo com o coordenador do Núcleo de Segurança Cidadã da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma), Eduardo Pazinato, está no fato de que, em geral, as pessoas nunca viram alguém sendo morto. Elas tomam conhecimento por meio de jornais, TV e rádio. Dessa forma, esse tipo de crime não afeta diretamente a sensação de segurança delas. Ao contrário, a maioria das pessoas sofreu ou conhece alguém de suas relações que foi vítima de furtos ou roubos. Por isso, esses delitos praticados contra a propriedade impactam mais na sensação de segurança da população do que os crimes que resultam em morte.

Para o especialista em segurança pública, o risco do cidadão se tornar uma vítima da violência cresce com o aumento da incidência de assaltos na cidade, "porque o limite para que um roubo com arma de fogo se transforme em latrocínio é muito tênue."

Em três dos cinco casos de latrocínio que tivemos neste ano, os autores não tinham a clara intenção de matar ao praticar o roubo. A decisão de matar as vítimas teria sido tomada durante o assalto. Em geral, isso ocorre quando o ladrão interpreta um movimento da vítima como reação, uma ameaça ou um empecilho ao sucesso da ação, mesmo que não seja.

Cliente de lancheria foi vítima do primeiro latrocínio do ano

O primeiro latrocínio do ano em Santa Maria é exemplo de como o cidadão comum pode ser atingido pela violência. O servente de pedreiro Jurandir da Silva Figueiredo, 54 anos, tinha acabado de jantar com a mulher, a filha e o genro na lancheria Mano Lanches, no bairro em que que morava há mais de 20 anos, a Nova Santa Marta. Após a refeição, fez o que qualquer pessoa faria: levantou-se da mesa e foi em direção ao caixa para quitar a despesa. Nesse momento, um ladrão entrou e anunciou o assalto.
- Quando menos esperávamos, o marginal entrou. Acho que, quando ele (vítima) levantou a mão para me pagar, o ladrão pode ter achado que estava levantando a mão para ele (assaltante) e, por isso, atirou - conta a dona da lancheria, Rosane de Fátima Miler.

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