PLURAL: sobre o luto

Redação do Diário

A coluna Plural deste final de semana traz os textos de Maria Giselma Melo e Diógenes Chaves sobre o tema Bem estar e saúde mental. Os textos da Plural são publicados diariamente na edição impressa do Diário de Santa Maria. A Plural conta com 24 colunistas.

Diógenes ChavesPsicólogo clínico

O luto pode ser compreendido como um processo dolorido causado por uma perda significativa, por um rompimento de conexão importante para o sujeito. O luto pode acontecer diante da perda de uma pessoa amada ou até mesmo de um emprego, de um casamento, de um objeto de grande estima, enfim. No entanto, o luto ainda é fortemente associado à morte.

Mas, como entender o luto?

Realmente, perder alguém não é nada fácil, a dor é inexplicável. Só quem já perdeu tem autoridade para traçar uma opinião mais coerente com esta realidade. Certamente, você já ouviu falar que cada um é único, que somos indivíduos, isto é, somos uma manifestação singular no universo. Contudo, não é bem por aí. Podemos ser indivíduos no CPF, na digital, na forma de significar a realidade, mas, no fundo, somos um conjunto de inúmeros fatores, cujo produto final somos nós.  

Somos aquelas pessoas importantes para nós, somos a nossa história misturada com a delas, somos as experiências de sucesso e de fracasso junto a elas. Somos também tudo o que introjetamos dessas pessoas: o perfume, o sorriso, a presença, as palavras, suas expectativas, suas tristezas. Somos um misto que nos monta, que nos constrói ao longo do tempo. Portanto, perder alguém que nos compõe é retirar repentinamente uma “peça” de um organismo que vinha funcionando dentro de uma sincronia afetiva que nos sustentava e nos dava sentido, e que, agora, pela sua ausência, abre um espaço promovendo um vazio. É a quebra de uma ponte que fere o fluxo causando congestionamento e impactando literalmente em todo o sistema.

Portanto, superar uma perda não é, simplesmente, ir em uma loja e comprar outra “peça”, porque ela é única. O que resta é tentar preencher este vazio com outra “peça”, que jamais terá a mesma originalidade, mas que, de alguma forma, permita ao organismo se regenerar e recompor a sua sincronia. Por isso, é importante o período do luto porque a regeneração exige um tempo para que o próprio sistema promova o seu reequilíbrio.Quando perdemos uma pessoa, não é esta pessoa que morre para nós, porque ela ainda pode continuar vivendo dentro da gente e para sempre. Somos nós que morremos para ela, por isso, a angústia e o sofrimento, porque, talvez, nada seja mais dolorido do que morrer para alguém que amamos. Portanto, o luto não é pelo abraço que não poderemos mais dar, mas pelo abraço que não receberemos mais; o luto não é pelo beijo que não daremos mais, mas pelo beijo que não mais ganharemos; o luto não é pela falta da oportunidade de falarmos o que sentimos, mas pela impossibilidade de não sermos mais ouvidos, ainda que falássemos.

Leia o texto de Maria Giselma Melo

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