plural

PLURAL: os textos de Valdo Barcelos e Rony Cavalli

Sobre vergonha e responsabilidade
Valdo Barcelos
Professor e escritor-UFSM

Certa feita, o pai ao chegar a casa, ao final de um dia de trabalho, percebeu que a filha de 6 anos estava triste e sem querer falar. Nem olhar direto para ele a pequena queria. Estava acabrunhada, como se diz aqui no sul. O pai acercou-se e como quem não quer nada foi perguntando: "O que está acontecendo filha querida, estás tão calada, não quer nem olhar para o pai que te ama tanto...". A menina saiu de seu silêncio e respondeu muito tímida: "...é que hoje de manhã comi toda a barra de chocolate que me destes e não ofereci nem um pedacinho para meu irmão...". O pai colocou a menina no colo e enquanto afagava seus cabelos foi dizendo: "...filha o que você está sentindo se chama vergonha...Não fiques assim tão triste, pois o pai fica feliz que estejas com vergonha do que fizestes. O que você está sentindo quer dizer que você sabia o que deveria ter feito e não fez. Agora está sentindo. O pai consola a filha dizendo que ela estava assumindo, espontaneamente, a responsabilidade pelo que tinha feito e isso é maravilhoso.

Há quem diga que a vergonha é a emoção humana mais reveladora do nosso modo de viver em comunidade. E me refiro à comunidade de viver humana no respeito, na liberdade, na responsabilidade, enfim, no amor ao outro. Importante ressaltar que viver no amor ao outro só é possível se conservarmos, cotidianamente, uma relação que adote o amar como o verbo que orienta nossas ações. Nós, seres humanos, não somos um mero amontoado de informações genéticas. Somos isso e muito mais. 

Somos o resultado do modo de viver que vivemos. Somos uma grande síntese cósmica de todas as relações que estabelecemos desde nossa chegada a esse mundo. Um mundo que nos é apresentado pelos adultos com os quais vamos estabelecendo nossas relações na intimidade do viver. Se for um viver na confiança, no respeito, no acolhimento, no deixar aparecer, enfim, um viver no amar será isso que conservaremos. Se assim vivermos saberemos, prontamente, quando estivermos fazendo algo que não esteja em acordo com a forma de viver que tenho vivido. A menina dessa pequena história sentiu vergonha porque sabia que não estava fazendo o certo. Não era o mais coerente com o modo de viver que ela experimentava na sua família. É o fato de sabermos o que estamos fazendo que nos permite fazer escolhas. Portanto, quando fizemos uma escolha e, depois sentimos vergonha é a prova de que sabemos que não deveríamos fazer aquilo que fizemos. Então, sentimos vergonha de nós mesmos. Não é necessário que ninguém nos diga isso, que nos corrija pelo feito. Sentir vergonha é a melhor maneira de revermos nossas ações. Sentir vergonha é o começo de nossa reflexão sobre o que fazemos ou deixamos de fazer. Essa reflexão mostra o que queremos manter e o que não queremos manter no modo de viver que escolhemos viver.

Termino essa coluna da mesma forma como comecei. Com uma pequena história. Na semana passada, encontrei em um aeroporto, na primeira viagem que fiz depois do dia 13 de março de 2020, um ex-aluno com quem tive uma ótima relação. Quando o reconheci, cumprimentei-o. Percebi que ele não estava me reconhecendo. Cheguei mais perto e falei meu nome e brinquei: assim com essas máscaras, a gente não reconhece as pessoas. Ele me cumprimentou, mas senti que estava bastante constrangido. Como estávamos no balcão de uma cafeteria, o convidei para tomar um café. Ele meio sem jeito me falou algo mais ou menos assim: "...sabe professor, eu fiz uma grande bobagem....". Perguntei o que tinha acontecido e ele respondeu: "votei no Bolsonaro em 2018... Estou muito envergonhado disso". Deixo os comentários para os(as) leitores(as) que me acompanharam até aqui.

Discurso x realidade
Rony Pillar Cavalli
Advogado e professor universitário

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A esquerda adora um discurso bonitinho, que soe agradável aos ouvidos de seus encantados eleitores, os quais aderem e os repetem aos quatro ventos, o que os faz se sentirem pessoas especiais, preocupadas com o social e com minorias. Além deste discurso enfadonho e despreocupado com a realidade dos fatos, acusam-nos de "fascistas" por discordar e adotar discurso real, factível e possível. 

Só o fato de nos acusar de fascistas já demonstram que são o que costumo chamar de "papagaios de bordel", que repetem os palavrões ouvidos no ambiente sem ter a menor noção do significado, pois acusar um liberal econômico de fascista é tão contraditório quanto afirmar que socialistas são democráticos, já que o liberalismo econômico justamente prega e quer menos Estado, mais liberdade, muito ao contrário do fascismo. 

Donald Trump foi massacrado por sua política imigratória, especialmente quanto à construção de um muro na fronteira dos EUA com o México para tentar impedir a passagem dos imigrantes ilegais que aportam o país por esta fronteira. 

O discurso de campanha de John Biden certamente era mais afável, agradável aos ouvidos sensíveis, pois dizia que faria exatamente o contrário de Donald Trump, arquivando o projeto de muro na fronteira do México e adotando política receptiva aos imigrantes, mesmo os ilegais. Este discurso de promessa de campanha desencadeou uma série de caravanas de imigrantes rumo aos EUA, diante a promessa de Biden de flexibilização e afrouxamento do regramento de acesso ao país.

Por outro lado, mais uma vez, a realidade se sobrepõe ao discurso fácil e afável do politicamente correto da esquerda. Esta semana, os EUA, sob a gestão do democrata John Biden, deportaram centenas de haitianos, partindo vários voos americanos lotados de volta a Porto Príncipe.

Não se trata da direita conservadora ser xenófoba ou, simplesmente, não querer receber estrangeiros e sim é ser contra a imigração ilegal e desordenada, pregando que a recepção aos imigrantes deve se dar dentro do regramento posto pelo país receptor, combinado com o regramento internacional ao qual o país adere. Na verdade, os imigrantes são extremamente importantes para os EUA, os quais até dependem desta mão de obra, porém se forem as fronteiras simplesmente abertas e efetivamente afrouxadas as regras de ingresso ao país, certamente se instalará o caos.

Costumo comparar a política imigratória com a administração da nossa casa. Planejamos a nossa gestão doméstica e adquirimos suprimentos baseados no número de habitantes da nossa família e algo mais para receber nossos convidados. Os países não são muito diferentes, pois são planejados para seus cidadãos, que vem a ser a família local, e para seus convidados, que são os imigrantes legais. Experimentem deixar o portão de seu pátio aberto na hora do almoço, incentivando o livre acesso na sua residência para compartilhar a refeição que está sendo servida naquele momento e me digam após o que aconteceria.

Não é sem motivo que diante da despressurização da cabine em voos, a recomendação é colocar a máscara de oxigênio primeiro em si, para tão somente após ajudar outra pessoa, mesmo crianças e idosos. Somente conseguimos ajudar outra pessoa estando bem e um país somente consegue estender sua ajuda a imigrantes estando organizado e permitir a sua desorganização implicará o caos para seus cidadãos e a impossibilidade de ajudar imigrantes.

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