plural

PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

No meio do caminho
Neila Baldi 
Professora universitária

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Com a primeira dose tomada, começamos a fazer planos. Com a segunda, muita gente passou a realizá-los. Mas tinha uma variante Delta no meio do caminho... No meio do caminho, tinha a Delta.

Desde março do ano passado, meus sonhos estão adiados. Só vejo amigos e amigas pelo celular. A maior parte da família também não encontro. Quando pensei que ia começar a retomar sonhos, a Delta veio dizer que não é bem assim. O risco alto voltou.

Tem uma variante no meio do caminho. No meio do caminho tem a Delta. Descoberta em fevereiro, na Índia, se espalhou pelo mundo antes que a cobertura vacinal fosse o suficiente. Resultado: infecções em alta e, em alguns casos, mortes também.

Tem uma variante no meio do caminho... e parece que nunca vamos sair dessa pandemia.

MAIS VACINAS

Por aqui, 15 asilos com surtos. Hospitais com surtos - alguns já controlados. E o número de casos em alta, de novo. Porque tinha uma delta no meio do caminho... mas, sobretudo, porque nunca a nossa taxa de transmissão baixou o suficiente. Optamos por conviver com o vírus.

Estudos indicam que pessoas infectadas pela variante Delta apresentam uma carga viral 300 vezes maior que a cepa original. Isso significa que o vírus se espalha mais facilmente e provoca mais infecções e hospitalizações. Com isso, segundo cientistas, a saída é a vacinação massiva. De acordo com matéria do UOL, cientistas indicam que, com a Delta, a percentagem para a imunidade de rebanho aumentou de 70% para 85%. É hora de acelerar a vacinação!

Tem uma delta no meio do caminho e, por causa dela, precisamos não apenas adiar nossos sonhos, mas rever concessões. Estamos há 17 meses com algumas restrições e, em alguns setores, como o de eventos e a cultura, muitas seguem. Infelizmente, não é hora do "liberou geral".

ESPERAR

Tinha uma Delta no meio do caminho e, por causa dela, governos estaduais anteciparam a segunda dose das vacinas, diminuindo o intervalo entre elas - recomendação que o Ministério da Saúde só oficializou esta semana. Tinha uma Delta no meio do caminho e o que acontecia nos outros países podia ter nos alertado. Caminhamos, sim, para uma quarta e gigantesca onda. Tanto que, enfim, o governo federal anunciou esta semana uma dose de reforço para idosos e idosas acima de 70 anos e pessoas imunossuprimidas a partir de 15 de setembro.

Tem uma Delta no meio do caminho e, por causa dela, precisamos continuar usando máscara e mantendo o distanciamento. Como diz a canção da Legião Urbana: espera que o sol já vem. Ainda não dá voltar a viver os sonhos. Apenas sonhar. Porque tem uma Delta no meio do caminho.

A cultura do menos pior

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

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O povo brasileiro costuma ser criticado de vários modos. Somos considerados sem cultura, sem regras. Exemplo disso é que, nos aeroportos, nosso passaporte é discriminado. Embora eu despreze essas descrições, existe outra que nos define, no meu ponto de vista, a "cultura do menos pior". Quando éramos alunos, nas eleições para líderes de sala, fazíamos escolhas conscientes. Votávamos no João ou na Maria porque queríamos o João ou a Maria, como diriam alguns ... "oh tempinho bommm". Hoje, em nossa fase adulta, o sentimento que nos move para votar, muitas vezes, é do candidato menos pior, e isso se estende desde a eleição para síndico de prédio até para presidente da República. 

Onde ocorreu a mudança se somos os alunos de ontem? Infelizmente, a mudança nem sempre se dá de forma positiva, pois, com a idade, passamos a ponderar nossas escolhas, nossas vontades, e porque não dizer que, às vezes, temos medo, medo de se lançar a candidato, de dar a cara a tapa para se candidatar, medo de receber críticas de amigos e parentes, medo de se posicionar perante o público. Sou deste ou daquele partido. Porém, ao mesmo tempo, egoisticamente, queremos e exigimos pessoas que nos representem, que lutem por nós, quando devíamos respeitar estas pessoas por terem se colocado nos lugares que não queremos, mas exigimos que alguém ocupe, para nos representar. 

Não podemos esquecer que as pessoas que estão nestes lugares não são perfeitas, e, como as demais, têm peculiaridades, individualidades e, portanto, diferentemente da Coca-Cola, não podem ser definidas pelo rótulo - ladrão, corrupto e etc. 

O ser humano é extremamente egoísta. Não quer trabalhar no Natal, mas quer ter um médico de plantão se cortar o dedo numa taça de cristal, e exige que sua empregada doméstica trabalhe até as 23h, sem receber nenhuma compensação pecuniária. Não quer trabalhar no feriado do 20 de Setembro, mas fica furioso se o mercadinho da esquina não tem aquela marca de carvão que ele usa no churrasco. Então, não existe o menos pior, mas alguém que está ali fazendo o que você não quer fazer. Você não gosta de fazer, mas exige que alguém o faça e mais, que realize exatmente do modo como você faria se estivesse no lugar dele. 

Como diz Guy Debord, autor em diversos círculos intelectuais e universitários, e incluo aí também parte da população, temos que parar de ser "doutor em nada". Não dá mais para brincar de ser gente, de colocar o individual acima do coletivo. A Covid-19 nos mostrou o quanto o individualismo ceifou vidas. Então, não existe o menos pior, mas pessoas que pensam diferente de nós, o que não lhes tira o direito de serem respeitados.

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