Marcio Felipe MedeirosSociólogo e professor universitário
Dia 28 Junho foi comemorado o Dia Internacional do orgulho LGBTQIA+, tema que gera confusão e é, ainda, fruto de muita ignorância e preconceito por parte de uma parcela significativa da sociedade. A data está relacionada ao ano de 1969, quando um grupo, cansado de ser perseguido pela polícia e sociedade, resolve fazer manifestações nos EUA. Quando se aventa tratar ou explanar esse tipo de tema em ambientes educacionais, por exemplo, muitas restrições são estabelecidas em decorrência da não aceitação do debate sobre o assunto. Muitos pais, em geral, relacionam o tema a algo “fútil’’ ou de “pouca vergonha”.
Uma questão fundamental sobre o Mês do Orgulho LBTQIA+ é o orgulho que pessoas que não pertencem ao universo cis e heteronormativo tem de ser quem são. Qual o motivo de se falar em orgulho? Simples. Boa parte da sociedade ainda encara aqueles que não são cis e heterossexuais de forma pejorativa, jocosa e agressiva. No ano de 2021 foram registradas a morte de 316 pessoas, assassinadas simplesmente por serem LBTQIA+. Ou seja, 316 pessoas morreram apenas por existir.
Se considerarmos espancamentos, agressões verbais e outras formas de violência, só em 2021, tivemos um registro de 1.719 pessoas LBTQIA+ agredidas, sendo que oito dos 26 Estados brasileiros não informaram dados a respeito, o que sugere que os números são ainda maiores.
A violência, como os números nos informam, é grande. Por isso, há tanto debate sobre a construção de redes de proteção e criminalização da homofobia. Quem se posiciona contrário a isso, geralmente quem não pertencem ao quadro de ódio, desconsideram que o debate acerca da criminalização da homofobia está intimamente associado à preservação da vida. Essa discussão, portanto, não é um tema de “importância menor” ou “mimimi”, como muitos declaram em conversas privadas (por medo da retaliação caso expusessem seus preconceitos em público).
Ainda há aqueles que minimizam o debate através do argumento de que pessoas morrem das mais diversas causas, e que seria um exagero tratar do Orgulho LBTQIA+. Esse pensamento incorre em diversos problemas, já que não apenas discrimina grupos como também hierarquiza mortes. Além disso, quando falamos em mortes de minorias, precisamos entender que grupos minoritários são alvo de violências por razões diferentes. O racismo (contra indígenas e negros), a misoginia e a homofobia existem na sociedade por razões diferentes, mas tem como consequência mais grave o mesmo resultado: a morte.
A luta contra o preconceito passa pela compreensão da razão de sua existência e pelo combate sistêmico visando a mudança de comportamentos e padrões culturais nocivos. Em suma, se faz necessário debater, informar e compreender, ao invés de desmerecer, diminuir e fazer chacota com temas tão caros à sociedade.
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