O Brasil é uma terra de amores, da qual um dia – como diz aquela velha canção – um anão se levantou! A canção do subdesenvolvido, Carlos Lyra e Francisco de Assis. Procurem no Google, especial de boa.
Mas hoje é pior. Somos mais Terra da Cruz, hoje, do que da Santa Cruz! Faço de conta, então, que não estou por aqui. Voo sem rumo, qual uma pluma no ar. De repente pouso em Honfleur, onde o Sena encontra o mar.
OPINIÃO: Justiça, vingança e desorientação
Uma cidade de marinheiros. Quase lá, quando o rio Sena passa, devagarzinho, trazendo traços de Paris e Rouen. Uma cidade além de si mesma, mas aquém, onde futuro, passado e presente superpõem-se.
Um dia escrevi sobre uma loja de violinos que havia na Rue Saint-Leonard e lá estará, amanhã, mas não consigo agora enxergar. Uma cidade de piratas, onde não há lugar para corsários – quem me lê há de saber que piratas são aventureiros de boa estirpe; corsários, os que hoje aparecem nos jornais de nossa terra...
OPINIÃO: Estado, educação e cidadania
Ouço, ao longe, marinheiros do Fernando Pessoa gritando ahò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò - yyy... schooner! Ao lado deles, o alucinado do Vieux Bassin. Aquele que, na Idade Média, debatia-se contra si mesmo na margem do cais, atirou-se ao mar da Normandia e foi engolido por uma fenda do oceano.
Há três excelentes navios ali no porto, com víveres e outras coisas necessárias à viagem, como escreve o Jean, Jean de Léry. Novembro de 1556 ou agosto de 1555? Não importa, pois – repito – o tempo é ficção, em especial sob o comando de Villegagnon. O que o leitor deveria fazer, em vez de perder tempo comigo, seria ler a respeito da encrenca (palavra que, dizem, vem do alemão, ein kranke) entre o Léry, calvinista, e o André de Thevet, frade franciscano. Os dois escrevendo a respeito de nossa terra.
OPINIÃO: Uma lava-jato na saúde
Quanto a mim, volto a Honfleur. Andamos os três pelo pequeno cais, Eugène Boudin, Claude Monet e eu. Os dois com suas paletas, eu com a minha hasel. Encontrávamo-nos seguidamente na Ferme Saint Siméon, hoje um belo hotel da burguesia, acolhidos por madame Toutain. De quando em quando Alphonse Allais e Érik Satie. Você aí, que está perdendo tempo aqui, tem duas opções: ir à Wikipedia [aproveite para mandar seus R$ 25 – está tudo muito ruim por toda parte, de verdade – ou ouvir aquela canção de Henri Salvador, Mourir à Honfleur.
Tu não sabes, tenho certeza, no entanto o Museu das Belas Artes, no Rio de Janeiro – Brasil! – conserva uma bela coleção de quadros de Boudin. A vida é mesmo maravilhosa! Um dia que virá, quando não sei, contarei ou lerás a história de umas fotos que saquei da catedral de Rouen, fartando-me de luz, inconclusivamente. A catedral esbanjando cores em múltiplos tons!
PS: termino de escrever este artiguinho exatamente agora, manhã de 19 de agosto, dia do meu aniversário! Eu, Monet, 77 anos, duas pernas! Lá vou eu, ahò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò - yyy... schooner!