Poucos temas são tão apaixonantes e se prestam tanto a manipulações políticas e à explicitação da demagogia quanto a saúde pública, que, desde sempre, ao lado da segurança e da educação, forma o inevitável tripé básico das campanhas eleitorais em todos os níveis.
Ao leitor mais atilado não passará despercebido o fato de que, houvesse soluções efetivas e permanentes para essas angustiantes questões sociais, o discurso de boa parte dos aspirantes à condição de agentes políticos eletivos esvair-se-ia, desnudando o verdadeiro caráter das intenções subjacentes desse discurso.
OPINIÃO: Precisamos falar sobre ISTs
Tivéssemos investimentos em educação suficientes para atingirmos o nível mínimo de qualidade desejável, como ficariam os currais eleitorais? Como ficariam as negociatas envolvendo compra e venda de votos? Como se elegeriam os modernos coronéis do asfalto, que constroem suas longas trajetórias políticas sedimentadas na miséria, na ignorância e, muitas vezes, na inocente boa-fé de seus eleitores cativos?
Óbvio, quando se trata da esfera federal, por exemplo, que é mais conveniente aos interesses desses modernos coronéis políticos sustentar o voraz capital especulativo, que se farta de receber juros referentes ao serviço da dívida pública interna e que consome quase metade do orçamento da União, na qual, aliás, se concentram dois terços da arrecadação tributária do país.
Mas iniciei o texto me referindo à saúde. E assim o fiz porquanto é de saúde que quero falar. E, mais diretamente, de saúde em Santa Maria e na região. E, bem explicitamente, da interminável novela que envolve o Hospital Regional, desde os prolegômenos de sua construção, até seu incerto funcionamento.
Poucos temas têm-se prestado, em nossa comuna, a tantas manifestações apaixonadas e muitas vezes eivadas de evidente demagogia, quanto o Hospital Regional, desde a paternidade do projeto, passando por sua localização, até chegar em sua incerta gestão e improvável – para não dizer impossível – próxima abertura, pois nem mesmo se sabe quem será seu gestor, em que moldes se fará essa gestão, nem se teremos um estabelecimento com caráter 100% público em seu funcionamento, como alardeado antes e durante a demorada construção da obra, que, de resto, foi construída com recursos estritamente públicos ou se haverá parte do atendimento destinada à área privada (planos de saúde).
O hospital foi usado, flagrantemente, como mote eleitoreiro na eleição que passou, sem que ninguém tenha ficado sequer ruborizado com o uso escandaloso de métodos de conquista de votos que deveriam ter sido sepultados com a República Velha, nos anos 30 do século passado.
E não duvidem os senhores que, ano que vem (não nos esqueçamos, em 2018, teremos eleições), o hospital volte a ser tema de candentes promessas eleitorais e, mais uma vez, acene-se com sua imediata abertura e pleno funcionamento.
OPINIÃO: O silêncio das panelas
Enquanto isso (fazer o quê?), empilhem-se macas nos corredores do Husm e de outros hospitais públicos da região.