Artigo

OPINIÃO: Governo e luta pelo poder

Sergio Blattes

Há os que entendam que a História é cíclica, isto é, sempre encontraremos semelhanças entre o momento atual e momentos passados. Claro que em circunstâncias diferentes, mas essencialmente semelhantes. 

Platão, quatro séculos antes de Cristo, já criticava a luta pelo poder como antítese da arte de governar. No seu diálogo ¿As Leis¿ aponta como nefasta ¿a luta pelo poder, quando os que se sagram vitoriosos se apropriam dos cargos públicos.... e cada partido passa a vigiar o outro, com receio de uma insurreição. Com certeza, negamos que essas formas de governo sejam realmente formas de governo, como negamos que sejam leis verdadeiras as que são não são feitas a favor do interesse comum de todo o Estado¿. 

Qualquer semelhança com os dias de hoje não é mera coincidência.Governar não é simplesmente ocupar o poder. Governar é usar a autoridade que o poder confere com a finalidade de regrar, organizar, promover o bem estar da população e o governante deve ser ele mesmo um exemplo a ser seguido por todos os cidadãos. Deve ele pautar sua vida pessoal e política de forma a induzir os governados a seguirem a mesma ética. Quando isto não acontece, diante da prática do ¿enfeudamento¿ ( nomeação de ministros e demais cargos sem critérios éticos definidos), a população deixa de ver, no mandatário, alguém que mereça o seu respeito, além de sentir seus interesses excluídos das decisões governamentais.

A Constituição Federal foi concebida para o sistema parlamentarista e, contraditoriamente, adotou o presidencialismo, o que terminou gerando o aleijão de um presidencialismo de coalizão, com base parlamentar voraz por cargos e verbas e, por isso mesmo, volátil. Soma-se, ainda, a completa ausência de disciplina programática dos partidos. Este é o caldo de cultura que cerca nossa crise.

O impeachment de Collor teve como fundamento uma Fiat Elba mal adquirida e um pseudo empréstimo uruguaio. Verdadeiros crimes de bagatela, comparados com Mensalão e Lava-Jato. Dilma foi impedida por ¿pedaladas fiscais¿, que todos seus antecessores praticaram impunemente. Entretanto, os verdadeiros motivos, em ambos os casos, foi a perda do controle do Congresso, por não atender a voracidade dos parlamentares.

As recentes pesquisas de opinião apontam que o presidente da República ostenta 94% de rejeição a si e a seu governo. O índice é alarmante. Somam-se as sérias acusações de improbidade do primeiro mandatário, que estão pendentes de licença (de quem?) da Câmara dos Deputados.

O caso de Temer é mais expressivo do que foram os de Collor e Dilma, existe pedido da Procuradoria Geral da República para abrir inquérito para apurar o cometimento de crime (público e notório) no exercício do mandato, mas o presidente instalou um balcão de negócios, ao qual afluem deputados vorazes por benesses e voláteis em suas convicções, com objetivo de barrar a possibilidade de ser processado. O presidente está voltado, custe o que custar, para lutar para se manter no poder.

O velho ditado diz tudo: ¿quem não deve, não teme¿. Por que Temer teme? O trocadilho é inevitável.

Nossa crise política se origina em muita luta pelo poder e pouco governo.

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