Desperto todos os dias com uma emissora de rádio fornecendo as principais notícias da região. Escuto atentamente a previsão do tempo, as últimas barbaridades sobre corrupção na política e os informes locais. Quase não acreditei quando ouvi sobre a morte de uma menina, de apenas 3 anos, em que os principais suspeitos seriam a mãe e o padrasto. O caso teria ocorrido em Santa Maria, em uma comunidade conhecida minha. O dia já amanhece com um gosto amargo.
OPINIÃO: Do papel de cada um dentro da sociedade
Logo, cogitei o que deve ter passado no pensamento de muita gente: certamente, não deveria ser a primeira vez que ela foi espancada. Crianças não ficam em silêncio nessas situações. Frequentava alguma creche? Brincava com outras crianças da sua rua? Ninguém viu manchas ou machucados suspeitos em seu corpo? Alguém deve ter escutado o choro outras vezes. Então, por que ninguém denunciou antes? Por que tanto silêncio em uma situação suspeita de violência?
OPINIÃO: Todos os homens do(s) presidente(s)
Outros questionamentos sobre a rede de atendimento vão se desenhando na minha cabeça. Quais os programas que podem auxiliar na proteção de crianças em nosso município? Conselho Tutelar, certamente. Existem creches nesse território? O Programa de Agentes Comunitários (Pacs) realiza visitas domiciliares e, geralmente, conhece a realidade das famílias. Durante as visitas, muitas vezes, identificam sinais de situações de violência contra mulheres, idosos, crianças, entre outros. Os casos detectados são encaminhados para os órgãos competentes. Populações mais vulneráveis, recebem olhar diferenciado e atento. Então, como deixamos escapar? Mais tarde, ao ler a notícia no jornal, havia uma frase que saltava aos olhos: ¿No local, testemunhas disseram que as agressões do padrasto e da mãe à criança eram recorrentes¿.
OPINIÃO: Curtir, comentar e compartilhar!
Se as surras eram habituais, como o mutismo permanece? Por que temos receio de denunciar? Complicado ¿meter a colher¿? Pois acredito que é menos complexo denunciar do que ouvir novamente notícias tão absurdas (já tivemos os casos Bernardo, Isabela Nardoni e outros tantos). Não dá para pensar na colher só depois que o caldo entornou. É preciso fortalecermos as políticas públicas de proteção aos mais vulneráveis. É fundamental quebrar a mudez. O silêncio pode custar uma vida.
Não podemos ficar impotentes frente situações tão dolorosas. O que podemos fazer? No mínimo, denunciar quando percebemos ¿cheiro¿ de maus tratos. Além disso, podemos ser proativos: estimular o debate acerca de potencializar programas já existentes, a criação de novos, parceiras com ONGs. Enfim, não podemos calar. Importante lembrar desse número, para denúncia de casos de abuso: Disque 100 – Disque Direitos Humanos – Disque Denúncia Nacional.