Outro turista fatalmente vitimado pela Polícia Militar carioca, desta vez, uma sexagenária espanhola, o que, de novo, comove a nação e envergonha o Estado internacionalmente.
OPINIÃO: Quando o comportamento é a concorrência
Como dantes, a nós, de cá da parte de baixo do mapa do Brasil, cabe somente o acompanhamento pelas janelas que a imprensa da região central do País nos abre, a cada momento com uma versão diferente conforme a emissora, a hora, ou o dia, que vai desde a já diversas vezes propalada negligência policial até a culpa da própria vítima, invariavelmente.
Estamos tão longe geograficamente, mas tão próximos das realidades que propiciam tais acontecimentos que a nós é, sim, dada a faculdade de imaginar e conceber nossas hipóteses a respeito do ocorrido, como o músico que não lê a partitura, mas por conhecer o ofício e estar mais que familiarizado à peça, a “toca de ouvido”.
OPINIÃO: Hotel Itaimbé 40 anos
Assim, não é vedado pensar que o grupo de turistas do qual fazia parte a funestamente atingida senhora não se encontrava no âmago de uma das maiores e mais perigosas favelas do mundo inadvertidamente. Pelo contrário, por ali passeavam no exercício da atividade-fim que trouxe a todos ao Brasil: turismo.
Ora meu senhor, minha senhora, é sabido e não é de hoje que é advertido que não são nossos museus, nosso arcabouço intelectual, nossa história civilizatória ou mesmo nossas especialidades – futebol e carnaval – que atraem a maior parte dos homens e mulheres do velho mundo e países mais ou menos desenvolvidos. Tudo isso eles têm no original em suas terras, inspiradoras da nossa maneira de ser em regime de cópia.
Turista vai a este ou aquele lugar em busca da peculiaridade, da especialidade daquilo que o lugar visitado possui de mais notório e afamado, a exemplo do que brasileiros fazem quando vão ao continente Europeu sedentos por história, aos Estados Unidos sedentos por Mickey, Pato Donald e balangandãs, ou à África pretendendo também história mais aventura.
OPINIÃO: A tragédia do Colégio Goyases
Estamos sendo visitados pelo que temos de mais triste e trágico, sintoma do fracasso de todas as políticas sociais até então aplicadas: a miséria e a violência.
Assim como os daqui, quando lá se impressionam com as artes, arquitetura, desfiles de fábulas fantasiosas, pirâmides e animais selvagens, os de lá, quando aqui, impressionam-se com a barbárie urbana e a tolerância generalizada do povo e do poder público.
Causa-lhes espécie a capacidade brasileira para, mais do que a pobreza e o abandono da juventude e daquilo que deveria ser a cidadania, deixar verdadeiras cidades ao sabor da guerra urbana pesadamente armada e ostensivamente mortal sem qualquer reação eficaz por décadas e décadas.
Mais que a própria Amazônia, é isso que repercute a respeito do Brasil nas televisões, revistas, jornais, internet. Tudo seguido muito de perto pela tolerância, quase promoção da prostituição, infantil, inclusive.
A turista morta, coitada, viu de perto o que e como vive o brasileiro, em uma realíssima experiência cotidiana e pitoresca de seu povo.
Viu mais. Viu como se morre frugal e facilmente na terra tupiniquim.