Novo fóssil de um “tataravô” dos mamíferos que viveu junto com os primeiros dinossauros é encontrado em São João do Polêsine

Redação do Diário

Novo fóssil de um “tataravô” dos mamíferos que viveu junto com os primeiros dinossauros é encontrado em São João do Polêsine
Ilustração: Márcio L. Castro

O Rio Grande do Sul é conhecido mundialmente pelos fósseis dos “tataravôs” dos mamíferos – os cinodontes. Esses animais viveram durante o Período Triássico (entre 251 e 201 milhões de anos atrás), à sombra dos primeiros dinossauros que habitaram o planeta. O estudo dos fósseis desses animais é importante, pois é neles que estão as primeiras aparições de características que hoje definem o que é um mamífero.

Um estudo publicado no periódico científico Journal of Mammalian Evolution, descreve um novo espécime de cinodonte que viveu há cerca de 233 milhões de anos, durante o Período Triássico, onde hoje é a região central do Estado do Rio Grande do Sul. O estudo foi desenvolvido por pesquisadores do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Universidade Federal de Santa Maria (CAPPA/UFSM) e do Museu Argentino de Ciencias Naturales Bernardino Rivadavia de Buenos Aires, na Argentina. Trata-se de um novo e mais completo espécime de Prozostrodon brasiliensis, considerado um dos crânios de cinodontes melhor preservado do mundo para a idade (Carniano 237–227 milhões de anos atrás). O animal pertence ao grupo dos cinodontes derivados (Prozostrodontia), linhagem que inclui os ancestrais dos mamíferos atuais e representa a primeira radiação adaptativa do grupo.

A recente descoberta refere-se ao quarto espécime de Prozostrodon brasiliensis conhecido. O primeiro material fóssil (holótipo) da espécie foi coletado na década de 1980, em Santa Maria e é representado pela metade anterior do crânio, mandíbulas com dentição e partes do esqueleto pós-craniano. Originalmente, o material foi nomeado de Thrinaxodon brasiliensis, devido às semelhanças morfológicas com a espécie africana, Thrinaxodon liorhinus. Mais tarde, um novo estudo reavaliou o referido material fóssil e sugeriu que este pertencesse a um gênero diferente, passando, dessa forma, a ser chamado de Prozostrodon brasiliensis. Além do holótipo, outros espécimes de Prozostrodon brasiliensis são conhecidos atualmente. O segundo registro para a espécie, descrito em 2017, se refere a uma mandíbula direita encontrada em São João do Polêsine, enquanto o terceiro espécime, registrado em 2020, encontrado na mesma localidade fossilífera do holótipo, corresponde à parte anterior do crânio do animal e parte da mandíbula.

Foto: Leonardo KerberFoto: Leonardo Kerber

O novo registro da espécie foi encontrado também São João do Polêsine durante a preparação mecânica laboratorial de um grande bloco rochoso, com aproximadamente uma tonelada, contendo o esqueleto quase completo do dinossauro predador Gnathovorax cabreirai e espécimes de rincossauros (réptil herbívoro). Inicialmente, era conhecida apenas a presença de materiais fósseis desses répteis dentro do bloco rochoso. Com o andamento da preparação mecânica, em meados de 2016, foi encontrado o segundo espécime conhecido de Prozostrodon brasiliensis, representado por uma mandíbula direita com dentes, conforme mencionado anteriormente. Mais tarde, para a grande surpresa da equipe, no ano de 2017, foi encontrado um novo material – o quarto espécime conhecido, um dos mais completos e, provavelmente, melhor preservado, representado pelo crânio e mandíbulas.

O espécime de Prozostrodon brasiliensis em questão é excepcionalmente bem preservado, apresentado a região posterior do crânio preservada, até então desconhecida para os outros materiais. Esse novo achado fornece informações anatômicas adicionais importantes para a espécie, além disso, possibilita uma maior compreensão, por parte dos pesquisadores, a respeito das principais transformações anatômicas cranianas ocorridas nesses animais, antes do desenvolvimento das características mamalianas presentes nas formas modernas.

Segundo os pesquisadores, esse pequeno cinodonte se caracteriza por uma média corporal pequena (pesando um pouco mais de um quilo e com aproximadamente 40 centímetros de comprimento, quando adulto) e provavelmente, devido à sua dentição, teria uma dieta alimentar predominantemente carnívora/insetívora, alimentando-se de insetos e de animais menores. Possivelmente, Prozostrodon brasiliensis apresentava hábitos noturnos, sendo presa de predadores maiores, como dinossauros, tal qual o encontrado ao lado, no bloco rochoso.

O trabalho de pesquisa faz parte da tese de doutorado da paleontóloga Micheli Stefanello, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal da UFSM, sob orientação do Prof. Dr. Leonardo Kerber e contribuição técnica dos paleontólogos Agustín G. Martinelli, Rodrigo T. Müller e Sérgio Dias-da-Silva.

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*Informações da UFSM

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