Foto: Arquivo Diário
Em 10 dias, Giuseppe Riesgo deixa a Assembleia Legislativa. Não obstante o aumento expressivo da votação (saiu de 16.224 votos em 2018 para 28.209 em 2022), o santa-mariense não se reelegeu. Nessa entrevista exclusiva à coluna, o jovem político (27 anos) avalia o resultado, avança sobre as razões da derrota e, sobretudo, projeta o futuro. Dele e de seu partido, o NOVO. Confira a seguir e no texto logo abaixo:
Claudemir Pereira – Como o senhor avalia o seu mandato?
Giuseppe Riesgo – A política, por mais curioso que possa parecer, é ambiente hostil às ideias. Nesse sentido, obviamente, para alguém, como eu, que vem de fora da política e acredita na política como instrumento de mudança, o ambiente no Parlamento gaúcho foi um tanto decepcionante. No entanto, junto com a Bancada do NOVO, não me deixei abater. Creio que conseguimos, não raras vezes, pautar o debate e defender o cidadão gaúcho que é, afinal, quem paga a conta de um Estado pesado e ineficiente.
Conduzi um mandato enxuto e eficiente. Barramos o tarifaço, revogamos taxas ilegais, combatemos privilégios e consolidamos mais de 500 leis estaduais, ajudando a simplificar parte do aparato legal do RS. Demos o exemplo e creio que honramos os votos recebidos nessa caminhada.
CP – Antes de jogar para o futuro, o que é mais importante, ainda há questões a ser superadas. Uma: afora a mera questão numérica, mas com ela na cabeça, como é possível acreditar que se faça 70% mais de votos e, ainda assim, não se reeleger? Há frustração? E por quê?
GR – As regras eleitorais do país, especialmente, as dispostas para elegermos nossos representantes legislativos não são representativas. Há sérios problemas de representatividade nesse sistema e nós sabíamos. São as regras do jogo e sabíamos os riscos impostos a nós. No entanto, a avaliação interna é que o clima de polarização também atingiu em cheio nossa nominata. Minha votação cresceu de forma expressiva, mas a nominata do meu partido não conseguiu manter o bom desempenho de 2018. Temos que entender a vontade popular e fazer uma avaliação interna acerca do nosso posicionamento político -, algo que, inclusive, já foi realizado.
Obviamente que alguma frustração se impõe. Tenho convicção que fizemos bom trabalho – amplamente reconhecido por diversos setores da sociedade civil, mas que por falhas internas e de posicionamento político não nos rendeu os votos suficientes para, ao menos, manter nossa bancada. É da política eleitoral, mas frustra. Ainda assim, temos que compreender e reavaliar nosso papel, para voltarmos mais fortes já no próximo ciclo eleitoral.
CP – Até que ponto as rígidas regras do NOVO, quanto às exigências para concorrer, por exemplo, inibem novas adesões?
GR – Não há dúvidas que as regras do partido, até então dispostas, inibiram nossa expansão e, consequentemente, nossa capacidade de aumentar a representação nessas últimas eleições. Quando foram criadas, nos preocupávamos muito em atrair pessoas honestas e com boas ideias para realizar uma verdadeira revolução na política nacional. Acho que cumprimos um bom papel nesses primeiros 7 anos de atuação. Chamamos atenção aos privilégios de uma elite funcional e política que vinha se apossando de fatias cada vez maiores do orçamento público. Pautamos o respeito aos recursos públicos em nossa atuação nas Assembleias e Câmaras pelo Brasil afora.
Acho que cumprimos bem esse papel, mas também creio que está na hora de crescer. Aprender com os erros e adequar as regras partidárias para o crescimento de nossas ideias. O país tem pressa e clama por liberdade. O NOVO precisa cumprir um papel mais relevante politicamente, nesse sentido.
Embora sem garantir, deputado deve ser protagonista no pleito municipal
Foto: arquivo Diário
Claudemir Pereira – O que o senhor pretende fazer agora? Quais os próximos passos do político, ainda bastante jovem, Giuseppe Riesgo? Será apenas advogado?
Giuseppe Riesgo – Refleti bastante se ficaria ou não na política, dando a minha contribuição no debate público. Tive momentos em que pensei que deveria me retirar. Abrir espaço para outras lideranças e ajudar nos bastidores, de forma menos ativa. No entanto, muitas pessoas, ao longo desses meses após as eleições, me incentivaram a continuar. Sou jovem e creio que tenho muito a contribuir ainda. Como eu disse, refleti bastante e acho que a minha missão na vida pública ainda não acabou. Ainda não posso revelar o que farei a partir de fevereiro, mas em breve comunicarei publicamente a todos sobre o meu futuro. Só posso dizer, por enquanto, que continuarei participando ativamente da política estadual e nacional.
CP – O tempo da política é bem mais curto do que sugere a cronologia. Assim é que 2024 está ali na esquina. No último pleito municipal, o NOVO ignorou Santa Maria. Agora será diferente? E qual o seu papel?
GR – Certamente será diferente. É inadmissível Santa Maria não ter tido candidatos do NOVO em 2020. Se dependesse só da minha decisão, teríamos. Nosso partido enfrentou uma curva de aprendizado que culminou nos resultados verificados na última eleição. Novas regras estão sendo editadas e teremos maior flexibilidade para expandirmos o partido nas capitais e no interior. O objetivo é aumentarmos a adesão ao projeto, sem nos descuidar do zelo pelas nossas ideias e da qualidade técnica que marca a atuação de nossos mandatários. Obviamente, seguimos preocupados em atrair pessoas ilibadas e ficha-limpa. Isso é algo que não abrimos mão.
CP – O senhor imagina a possibilidade de concorrer a prefeito ou a outro cargo?
GR – Ainda não me decidi sobre 2024. Há muita água para passar debaixo da ponte. Sei do meu papel político em Santa Maria, até como uma liderança orgânica e de “fora da política”. Prezo muito pelos meus eleitores e agradeço demais pelo reconhecimento e confiança depositada em mim. Sempre quero ajudar. Entrei na política para ajudar. Se me sentir preparado, não descarto participar ativamente das eleições de 2024 em Santa Maria. Muitos são os pedidos para que eu concorra a prefeito. No entanto, ainda precisamos construir um projeto político-partidário para o NOVO em Santa Maria -, algo que ainda está incipiente. É só depois desse processo que iremos definir como participaremos das eleições municipais, bem como o meu papel nesse sentido.
Luneta
EMBAIXADOR
Como já se intuia, o gabinete do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação do Governo Federal, Paulo Pimenta, virou ponto de encontro dos gaúchos em geral e santa-marienses (e da região) em particular. O deputado, que já desempenhava papel fundamental nas relações locais e regionais com Brasília, agora, no Executivo, amplia suas ações, se tornando embaixador daqui na capital da República.
A PERDA
É lamentável que, normalmente, se mensurem a popularidade, as características de bondade e até os bons exemplos, apenas quando a perda se confirma. Feita essa ressalva, que se diga: a morte, na última quinta, 19, de Paulo Airton Denardin, ex-parlamentar municipal, deixou órfãos não apenas, o que já seria significativo, seus familiares e amigos, senão que a própria política santa-mariense.
A PERDA II
Afora os correligionários, que manifestaram toda sua dor pela partida do (Paulinho) Denardin, o mundo político expandiu-se em solidariedade. Rivais chamavam a atenção para o modo afável e fidalgo, além da lealdade do ex-edil. Singelo exemplo vem da frase dita por Luiz Roberto (Beto São Pedro) Simon do Monte, ex-colega e adversário: “o ‘gringo’ era um bom amigo entre os meus amigos”. Isso, exatamente isso.
A PERDA III
Foto: Marcelo Oliveira (arquivo Diário)
Raros lembram, mas Paulo Airton Denardin foi para o sacrifício eleitoral em 2014. Então, concorreu a uma cadeira na Assembleia Legislativa e, como tem sido praxe no PP da comuna, a opção preferencial foi mesmo pelos forasteiros. Ainda assim, cumpriu seu papel e teve desempenho digno nas urnas. Alcançou 5.038 votos em Santa Maria (foi o sexto mais votado na cidade) e chegou, no total, a 7.252.
PARA FECHAR
Não está descartado o retorno do empresário (e ex-candidato a deputado federal, pelo PL) Ewerton Falk ao primeiro escalão do governo municipal santa-mariense. Se ocorrer, não será necessariamente no mesmo posto, na pasta de Licenciamento e Desburocratização. De todo modo, a secretaria, desde a saída dele, desincompatibilizado para concorrer, conta com um interino (como consta no site da Prefeitura).