Violência em São Gabriel

Integrantes de bondes dizem que andam juntos para se proteger

Lizie Antonello

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De cabeça baixa, aba do boné encobrindo o rosto, um adolescente de 17 anos aceitou falar com a equipe do "Diário" em um dos bairros da periferia de São Gabriel no dia 23 de fevereiro.

As respostas vinham com número reduzido de palavras. E, quando um familiar tentava completar uma frase, era repreendido com agressividade pelo adolescente: "Deixa que eu respondo."

Apesar de dizer que não pertence a nenhum bonde, o adolescente falou que conhece e que "andou junto" com os jovens de um dos bondes envolvidos no assassinato de Caio Cezar Cardoso Fagundes, 16, morto com um golpe de faca na Praça Fernando Abbott em 17 de fevereiro.

Sabedora das relações de amizade do filho, a mãe estava trabalhando quando ficou sabendo que um adolescente havia sido esfaqueado na praça durante o Carnaval. Desesperada, tratou de ligar para o filho. A mãe conta que o adolescente só cursou até o quarto ano do Ensino Fundamental, depois largou a escola para trabalhar porque queria ter dinheiro. A família é de baixa renda e vive com dificuldades em uma peque- na casa nos fundos do terreno onde há outro imóvel.

— Ele emagreceu muito, trabalha quando quer, porque passa as noites na rua. Quando disseram que tinham matado um na praça, fiquei desesperada — conta a mãe, emocionada.

Diário de Santa Maria — Você participa de algum bonde?
Adolescente — Não. Eu só andava com eles. Eu conheço o pessoal do bonde do Vieira.

Diário — O que faziam quando se reuniam?
Adolescente — Fazia festa. A gente se encontrava na avenida e ia para a praça (Praça Fernando Abbott).

Diário — Tem maiores e menores de 18 anos no bonde? Quantos são no total?
Adolescente — Uns seis ou sete. Antes, tinha maiores, agora não tem mais.

Diário — Por que não tem mais?
Adolescente — Porque foram presos e se aquietaram.

Diário — Vocês andavam armados?
Adolescente — Nunca andei armado. Quando os outros brigavam de faca, eu ficava de fora.

Diário — Por que você andava junto com o pessoal do bonde?
Adolescente — Andava com eles para se outros não se encarnarem em mim.

Diário — E por que parou de andar com eles?
Adolescente — A polícia disse para não andar mais, e eu parei.

"Essa coisa de bonde eu não sei"

A equipe do "Diário" voltou a São Gabriel no dia 5 de março. Na ocasião, a reportagem abordou um jovem que carregava uma marreta pela rua de um bairro da periferia da cidade. Ele negou participar do bonde do bairro, mas estava com o grupo na Praça Fernando Abbott no dia do último assassinato no município. Ele contou como os bondes ameaçam as comunidades que convivem com os integrantes.

Diário de Santa Maria — Pode me falar um pouco sobre os bondes?

Jovem — Essa coisa de bonde, eu não sei. Ando sempre sozinho.

Diário — O que você faz com essa marreta na mão?

Jovem — Só vou levar ali pro "fulano" (o nome não será revelado para não identificar a pessoa).

Diário — Os bondes usam muito facas...

Jovem — Facão. É pior, né, cortado (do que tiro). Eu já levei (golpes), só por causa desses guri (do bonde), de briga uns com os outros. Porque é de lá, da mesma vila, "vamo cortá". É isso que eles pensam.

Diário — Você tem muitas cicatrizes?

Jovem — Aham. Aqui (mostrando os dedos das mãos), aqui no pulmão e na cabeça.

Diário — Onde conseguem esses facões?

Jovem — Compram. Custa R$ 10 um facão deste tamanho (simbolizando, com as mãos, cerca de 40 centímetros)

Diár"

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