No momento, minha atividade principal consiste em assistir o complexo hospitalar Astrogildo de Azevedo. Costumo afirmar que minha tarefa não se reduz ao atendimento aos enfermos, mas à comunidade hospitalar na sua totalidade.
Isso quer dizer que, além do cuidado com os enfermos, tenho presente os servidores de todos os setores do hospital, desde a atenção com a saudação, com um sorriso ou com os votos de bom trabalho, até ajudar nas suas dificuldades sempre que solicitado. Tenho consciência de que é fundamental a visita junto aos leitos dos acamados, mas é importante e faz a diferença a presença nos corredores, por mais gratuita que seja.
Creio na força da oração, por isso ela precede qualquer outra atividade. A jornada começa de joelhos, na capela, onde oro por todos os que estão internados e por seus familiares. Ofereço o sofrimento de cada um, peço pela saúde e para que tenham confiança e fortaleza, rogo para que sua passagem pelo hospital seja uma oportunidade de crescimento na fé e de amadurecimento humano. Oro também por todos os servidores da entidade, especialmente, por aqueles que mais necessitam.
A pandemia mudou a rotina e a cultura do atendimento aos enfermos. Antes dela, as visitas aconteciam em todos os quartos, independentemente de solicitação. Agora, são visitados aqueles que no momento da internação incluem na sua ficha o desejo ou o pedido de visita religiosa, ou solicitação direta.
Ao visitar os enfermos, toco a fragilidade humana, experimento quanto somos frágeis e dependentes. Não há como não me perguntar quem é mesmo o ser humano. Constato que a doença não escolhe idade, cor, credo, condição social, não pergunta se tem diplomas ou honrarias, pois para a doença não há privilégios. Porém vejo, sim, privilegiados na fé, na grandeza de enfrentar a dor, na paciência e na sadia conformidade.
Recebo a cada dia grandes lições de amor à vida, gestos ternos de solidariedade e atitudes enternecedoras de carinho de familiares e de amigos dos enfermos. Aí me vem à mente com frequência a frase bíblica: “que é o homem, Senhor, para vos lembrardes dele com tanto carinho?”. Penso também o quanto a vida humana e seu sofrimento são misteriosos. Lembro-me com frequência da parábola do bom samaritano: aí estão os caídos à beira do caminho, que é necessário chegar perto, confortá-los sempre que possível.
Estar nessa missão é um enorme desafio, mas também um privilégio e uma graça. Tocar todos os dias a carne ferida e experimentar limites humanos, ver constantemente o quanto somos frágeis e necessitados ratifica minha visão da vida de que devemos servir sempre com muito amor, alegria e entusiasmo.
Viver um dia de hospital tem sido um retiro. Normalmente, ao chegar, estou carregado de força; ao sair, tenho a sensação de estar vazio, porém é apenas sensação, pois, com certeza, estou muito mais enriquecido.
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