Os dias da família Trindade Bassan não têm sido fáceis após a morte de José Luiz Alves Trindade, 71 anos, vítima de atropelamento. No acidente, o pequeno Joaquin, 2 anos, ficou gravemente ferido. O que tem consolado é que José Luiz morreu como um verdadeiro herói. O idoso deu a vida para salvar o bisneto do atropelamento.
Após quase 20 dias internado no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), a maioria na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), Joaquim voltou para casa na semana passada e, agora, é questão de tempo para se recuperar totalmente. Conforme os pais, ele tem movimentos limitados devido aos ferimentos, acorda assustado e volta e meia pergunta pelo bisavô.
O trauma da família começou em 23 de outubro, quando José Luiz pulou na frente do bisneto momentos antes de a criança ser atropelada por uma carro que estaria em velocidade acima da permitida na Rua Zeferino Corrêa, no Bairro Noal. Conforme testemunhas e familiares, o idoso foi arremessado a pelo menos 10 metros de distância, e Joaquim a mais de 20 metros. José Luiz morreu no local, enquanto o bisneto foi socorrido com ferimentos graves.
Na última segunda-feira, os pais de Joaquim, Eduardo Bassan, 29 anos, e Larissa Trindade, 21, falaram à reportagem do Bei sobre o acidente. O casal relatou a dor da perda de seu Zé, como era conhecido o avô de Larissa, e a recuperação do filho.
– Foi triste ver aquela cena, ver a gravidade do acidente, ver meu filho voando 26 metros e ver o Zé, que para mim era um avô. Ainda é difícil ver meu filho assim. Ele melhorou, se recuperou. É difícil falar do que aconteceu e de como ele está hoje. Ainda tem muito processo para ele se recuperar totalmente, muita coisa para fazer, mas agradeço a Deus por ele estar aqui comigo. E sei que onde o Zé está, ele está feliz, porque conseguiu salvar o neto – diz o pai.
Os pais Eduardo e Larissa acompanham a recuperação de Joaquim, que ficou gravemente ferido após ser atropelado em 23 de outubro na Rua Zeferino Corrêa, no Bairro Noal. O bisavô da criança morreu para salvar o bisneto. Há poucos dias, o mascote de uma lanchonete da cidade visitou a casa da família. Foto: Arquivo pessoal (Divulgação)
Larissa não saiu do lado do filho em todos os dias em que ele estava internado no hospital. Ela diz que foram dias difíceis, e que agora vai cuidar para que Joaquim receba todos os cuidados necessários.
– O susto foi muito grande e está sendo difícil ainda acreditar em tudo isso, em ver meu filho entubado. Hoje a gente vê ele e não diz que é o Joaquim. Foi um milagre de Deus. Foi milagre porque cada dia que passou ele foi evoluindo, tendo força – conta a jovem.As marcas na cabeça, braços e pernas de Joaquim mostram a gravidade dos ferimentos causados pelo acidente. Mas Larissa afirma que ele está se recuperando bem. O filho fará fisioterapia, irá no psicólogo e no neurologista. Resta o trauma do acidente, que irá demorar para curar.
_ Ele é uma criança mudada, agora ele é outra criança. Tem vezes que pergunta do avô. Esses dias, ele olhou para o carro do avô e perguntou: “Cadê vovô?”. Ele via o avô todos os dias. Se a gente não ia lá, o vô vinha aqui. Eles eram muito apegados _ revela Larissa.
Sinalização
A comunidade da região fez protestos e pediu melhorias na Rua Zeferino Corrêa, que é uma das ligações do Centro com a região oeste da cidade.
– A prefeitura prometeu colocar sinalização, arrumar as calçadas, colocar quebra-molas para reduzir a velocidade. Eles vieram e cortaram as árvores da rua, deixaram os galhos na calçada, colocaram placas e só. Os quebra-molas ficaram para a história. Tem as placas sinalizando, mas não tem quebra-molas. Não foi só com o nosso filho que aconteceu, não foi só com o seu José. Já teve outra criança que morreu em acidente ali naquela rua – desabafa Bassan, ao lembrar da morte de Victor Kauã Fernandes Rodrigues, 8 anos, atropelado na mesma rua em julho de 2017.
O motorista que causou o acidente chegou a ser preso, mas foi liberado. Ele alegou que não prestou socorro porque teve o carro apedrejado por moradores e fugiu do local para se proteger.
Placas de indicação de redutor foram colocadas no início de novembro, mas estrutura não tem data para ser instalada no local
Rua Zeferino Corrêa ainda aguarda quebra-molas
O Bei nos Bairros desta quarta-feira (30) esteve na Rua Zeferino Corrêa, que cruz pelas vilas Lídia e Arco-Íris, no Bairro Noal, para averiguar o pedido de instalação de dois quebra-molas na via onde idoso e bisneto foram atropelados, em 23 de outubro. A segurança no trânsito da região foi um dos pedidos mais urgentes dos moradores devido ao perigo constante nessa via, já que os condutores excedem a velocidade.
Em 8 novembro, a Secretaria de Mobilidade Urbana sinalizou a Zeferino Corrêa com placas e pintura para a colocação de quebra-molas. Contudo, até ontem, o redutor de velocidade não havia sido instalado. Conforme o secretário Orion Ponsi, um estudo sobre o fluxo de veículos no local já foi feito, mas ainda não há prazo para a colocação dos quebra-molas.