com a palavra

Empresário lembra como a família deu a volta por cima após mercado pegar fogo

*da redação

Fotos: Arquivo Pessoal

O empreendedor Daniel Denardin, 40 anos, nasceu em Santa Maria e sempre morou no Bairro Camobi. Daniel acompanhou o início do empreendimento dos pais, Abel e Dilma Denardin, que começou como um bar, há 28 anos, e se transformou em um mercado. O antigo empreendimento ficava próximo do atual, o Supermercado Royal, o qual Daniel é dono junto aos irmãos, Luís Antônio e Eduardo. Daniel é casado, há 15 anos, com a bancária Cibele Cechin Denardin, 38 anos, com quem tem os filhos Amanda, 11, e Pietro, 6.

Nesta entrevista, o santa-mariense fala sobre os aprendizados com o pai, comerciante, a volta por cima dos três irmãos quando a primeira empresa pegou fogo, há 14 anos, e o trabalho em família.

Diário - Atuar no comércio tem influência de seu pai?
Daniel Denardin - Meus irmãos e eu crescemos dentro de um mercado e sempre lidamos com comércio. Meu pai trabalhou lá até morrer, em 1999. Foi quando assumimos o controle do local, eu tinha 21 anos. A nossa mãe, que ajudava o pai, trabalha com a gente até hoje. 

Com a mulher, Cibele Cechin Denardin, na Praia do Francês (AL)

Diário - Como é trabalhar junto dos irmãos?
Daniel - Para mim, é tudo de bom. Meus sócios são meus irmãos e melhores amigos. Tem gente que diz que não sabe como conseguimos trabalhar juntos e nos questionam sobre desentendimentos. É claro que brigamos, mas, como irmãos, em 10 minutos, estamos de bem e conversando novamente.

Diário - O que aprendeu com seu pai sobre o trabalho?
Daniel - Aprendi tudo. Primeiro, que temos que dar valor a Deus. Também, que a honestidade deve estar acima de tudo. Nós somos provas de que ela é necessária, porque, se não fosse por ela, não teríamos como recomeçar do zero quando o primeiro mercado incendiou. Nosso pai sempre dizia que, depois da palavra ser dada, não há como voltar atrás, isso me marca muito. Também lembro que ele sempre nos corrigia quando cogitávamos um negócio que não fosse totalmente correto. Além disso, aprendi com o meu pai que nosso cliente é nosso patrão e precisa ser bem atendido. 

Com os irmãos Eduardo (à esq.) e Luiz e a mãe, Dilma. Na festa de final de ano do Supermercado Royal em 2018

Diário - Quais são os desafios e as responsabilidades de ser um empreendedor?
Daniel - É difícil. Somos muito vigiados e cobrados. Nós, que empregamos, temos uma imagem ruim frente à sociedade e não deveria ser assim. Não temos direitos ou contrapartida. Sobre responsabilidades, temos 30 funcionários. São 30 famílias que são sustentadas por eles e, consequentemente, pela empresa. Percebemos essa responsabilidade e isso me preocupa. É uma das motivações que temos para lutar para que tudo dê certo. 

Diário - Já quis seguir outra profissão ou sempre se imaginou administrando o mercado?
Daniel - Eu não saberia fazer outra coisa. Quando terminei o Ensino Médio, fiz o curso Técnico em Edificações, porque sempre gostei da área de construções, mas na hora de mudar de ramo, eu não consegui. Estou sempre inventando alguma coisa diferente no mercado. O aprendizado é aproveitado ali.

Diário - Como é sua rotina?
Daniel - Eu fico no mercado de 12 a 14 horas por dia. Hoje, descanso mais, pois fiz cursos de desenvolvimento pessoal. Antes, eu não me desligava, queria fazer tudo. Eu deitava e, ao invés de fechar os olhos para dormir, ficava pensando no que poderia ser feito no outro dia. Ter realizado cursos para aprender a lidar com as pressões diárias e não sofrer por precipitação me ajudou a melhorar. 

Diário - Consegue dedicar tempo aos filhos?
Daniel - Consigo levar a minha filha para ficar comigo no mercado duas vezes por semana e a ensino de onde vem o nosso dinheiro. Acredito que as crianças, já nessa fase, precisam aprender que, na vida, não recebemos tudo de mão beijada. Mas não gostaria que ela desse continuidade na administração do mercado, desejo que ela estude e siga em outro ramo de preferência dela. 

Com os filhos, Amanda e Pietro

Diário - O que gosta de fazer nas horas vagas?
Daniel - Gosto muito de viajar para a praia, serra ou qualquer outro lugar. O que mais gosto mesmo é do trajeto, a ida e o retorno na estrada. O primeiro lugar onde vou, quando chego a outra cidade, é ao mercado. Estou sempre procurando algo diferente, eu gosto de ver e avaliar o que podemos nos espelhar para melhorar. 

Diário - Você e seus irmãos tiveram a iniciativa de doar alimentos em frente ao mercado para pessoas em situação de vulnerabilidade social, e isso ocorre até hoje. Como a ideia foi concebida?
Daniel - Nós já realizávamos doações quando as pessoas pediam. Meu irmão viu a ideia em uma reportagem sobre um mercado de Pernambuco e me mandou via WhatsApp. Realizamos a iniciativa sem imaginar tanta repercussão quanto houve. Uma cliente chegou, tirou a foto, publicou no Facebook e a notícia começou a se espalhar. Até uma rádio de São Paulo nos ligou querendo entrevista. Estamos sempre ajudando as pessoas porque a perda do mercado nos marcou muito. Às vezes, você tem muito, vai dormir com dinheiro e pode acordar sem.Formatura da cunhada Nicele, em 2016. No registro, com o irmão Luiz (à partir da esq.), a cunhada Patrícia, o sobrinho, Lucas, o irmão Eduardo, Nicele, Daniel, a mulher, Cibele e a mãe, Dilma. À frente, os filhos Amanda e Pietro

Diário - Em novembro de 2005, o primeiro mercado que tiveram incendiou. Qual reação vocês tiveram?
Daniel - Perdemos praticamente tudo, só não perdemos a vontade de recomeçar. Logo, reiniciamos na garagem da casa da nossa mãe, que fica ao lado do mercado atual. O terreno já havia sido comprado pelo nosso pai, mas não deu tempo de construir o mercado antes de ele morrer. Neste local, começamos em um cantinho e, depois, fomos expandindo a estrutura. Eu gosto de contar essa história porque, às vezes, acontece algo de ruim com alguém e isso joga a pessoa para baixo, enquanto outros acontecimentos servem para levantar. É necessário dar um passo para trás para podermos dar dois para frente. Não podemos nos abater na primeira dificuldade porque, se acontece algo ruim conosco, é porque algo bom está nos esperando lá no final, então precisamos ter força para seguir em frente sempre, por mais que tenhamos vontade de desistir.

*Colaborou: Gabriele Bordin

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