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Em entrevista ao Diário, Larré relembrou sua trajetória e falou da saudade de Santa Maria

Da redação

Foto: Charles Guerra (Arquivo Diário)

O escritor, cronista e jornalista José Bicca Larré morreu aos 89 anos. Patrimônio cultural de Santa Maria, Larré teve uma vida intensa, produzindo trabalhos de destaque tanto na área cultural, principalmente na literatura, quanto na social.

Cronista do Diário por 14 anos, concedeu entrevista ao "Com a Palavra", conduzida pela jornalista Tatiana Py Dutra, em 1º de maio de 2017. Relembre nela a relação dele com a cidade:

COM A PALAVRA
O alegretense José Bicca Larré confessa que tem se sentido um tanto"ensimesmado e sorumbático".Os modos introvertidos e tristonhos, ele atribui à não adaptação à vida na Capital gaúcha, para onde se mudou há um ano e meio, após mais de 50 anos vivendo em Santa Maria: 

- Não conheço ninguém, não convivo com ninguém e também me sinto ninguém - contou.

Mas quem conhece o jornalista e escritor de 87 anos ("Se facilitarem, vou para os 88 antes do fim do ano", diz ele) sabe que graça se chistes são mais condizentes com seu espírito. Na entrevista abaixo, ele relembra sua trajetória profissional e fala sobre a vida na Capital.

Diário de Santa Maria - No jornalismo,o senhor á fez um pouco de tudo. Como foi essa trajetória?
J. Bicca Larré - Iniciei minha carreira com 14 anos, em 1943, no mais antigo jornal do Estado,a Gazeta de Alegrete.Transferi-me depois para o jornal A Razão, de Santa Maria. Depois para o Diário de Notícias e A Hora, de Porto Alegre e Caxias do Sul. Aí, pedi demissão dos Diários Associados e trabalhei como editor do jornal O Pioneiro, de Caxias do Sul,de onde fui demitido por me negar a me filiar ao partido integralista, proprietário do dito semanário. Criei, então, o meu próprio jornal Panorama, semanário como os demais, polemista, de muitas diatribes, como ocorria com os jornais e os jornalistas panfletários de então. Aí,tive a mais profícua experiência nessa profissão,quando ganhei mais dinheiro e pude escrever coma mais absoluta liberdade. Panorama tinha formato reduzido, mas ilustrado, e era distribuído gratuitamente, com tiragem expressiva, sem assinaturas, sustentado apenas pela publicidade. Nele, eu não tinha empregados e fazia tudo sozinho.

Foto: Lauro Alves (Arquivo Diário)

Diário - Mas o senhor não se aposentou como jornalista... Passou a ser a sua atividade principal?
J. Bicca Larré - Quando em Caxias do Sul, concursei-me na Justiça do Trabalho e preferi ser nomeado para a Junta de Conciliação e Julgamento de Santa Maria, onde me aposentei. Como podia acumular o jornalismo com a função pública do Poder Judiciário Federal,voltei a trabalhar em A Razão, antes e de depois da Revolução de 64, quando fui preso por mais de dois meses, sob a ridícula acusação de "subversivo". Depois, fui editor do jornal O Expresso. Abandonei as atividades de repórter-redator e fui convidado para ser colunista, com uma crônica semanal, no glorioso Diário de Santa Maria, desde a 1ª edição, durante 14 anos seguidos. Devo ao jornalismo, também, minha carreira de escritor, em que fui um dos fundadores da antiga Associação Santa-Mariense de Letras e da atual Academia Santa-Mariense de Letras, na qual ocupo a Cadeira nº 4.

Foto: Fernanda Ramos (Arquivo Diário)
Com Ruth, na cerimônia de posse da Academia Santa-Mariense de letras  (ASL)

Diário - Por anos, o senhor escreveu diariamente. Mantém esse hábito?
J. Bicca Larré - Hoje,por questão de coisas que se situam na cabeça, como memória fraca, visão deficiente, audição prejudicada e cansaço mental, acho que aquele alemão que atormenta os velhos, um tal de Alzheimer, está me cobiçando! Não escrevo mais diariamente. Ando me amesquinhando mais e poupando os leitores.

Diário - O senhor se mudou para Porto Alegre há um ano e meio. Adaptou-se bem à Capital
J. Bicca Larré - Até agora, não me adaptei. Pouco saio de casa, leio pouco e os meus hábitos se tornaram ensimesmados e sorumbáticos. Não conheço ninguém, não convivo com ninguém e também me sinto ninguém. Felizmente, a família da Gládis, e as suas amizades, são ilustres e numerosas. O fato é que sou bicho do mato e por demais caseiro. Ao contrário daí, onde conhecia todo mundo e recebia inúmeras visitas.

Foto: Germano Rorato (Arquivo Diário)
Ao lado de Eros Grau, na abertura da Feira do Livro de Santa Maria 2016

Diário - Do que sente mais falta em Santa Maria?
J. Bicca Larré - Sinto enorme saudade de Santa Maria! Dos meus amigos, dos meus irmãos, dos meus colegas de jornal, da minha casa e da minha rua, do "cheiro". Enfim, de tudo o que é daí. Imaginem que eu cheguei a receber o título de Cidadão Benemérito dessa cidade que me adotou como sua e, aqui, poucos mais do que os seguranças e os porteiros do edifício me conhecem...

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