Em 1 ano e meio, Rota arrecadou R$ 82 milhões, mas gastou bem mais

Deni Zolin

Em 1 ano e meio, Rota arrecadou R$ 82 milhões, mas gastou bem mais
Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Duas das afirmações mais comuns entre os motoristas que pagam cinco pedágios na RSC-287 desde setembro passado para andar os 204 km de Santa Maria a Tabaí são:

1) “Para fazer as praças de pedágio, foram rápidos, mas para fazer as obras de melhoria, não”.

2) “A gente paga, mas não tem retorno, até porque a duplicação de Santa Maria vai ser daqui a 20 anos”.

Mas afinal, qual o lucro mensal da concessionária Rota de Santa Maria atualmente? Quanto ela arrecada e quanto gasta por mês? O Diário foi atrás dessas respostas, e elas surpreendem.Segundo a Agência Gaúcha de Regulação do Serviços Públicos Delegados (Agergs), só até dezembro de 2022, a Rota gastou R$ 125 milhões em obras de recuperação da rodovia, custos operacionais e de manutenção das praças de pedágio. Porém, isso não inclui gastos com salários, despesas administrativas e impostos. A Agergs não tinha ainda os dados de 2023. Já a Rota de Santa Maria diz que o investimento total chega a R$ 180 milhões. Enquanto isso, a arrecadação de pedágios, nesse primeiro ano e meio de concessão, atingiu R$ 82 milhões.A coluna pediu todas as tabelas mensais de gastos e arrecadação dos pedágios para a Agergs. Nos primeiros 12 meses, só funcionavam as praças de Venâncio Aires e Candelária. Em março de 2022, por exemplo, a praça de Venâncio arrecadou R$ 2,166 milhões, enquanto a de Candelária, R$ 1,493 milhão, totalizando R$ 3,659 milhões. Em novembro do ano passado, primeiro mês cheio de arrecadação de mês nos cinco pedágios, foram R$ 7,5 milhões pagos pelos motoristas. Em dezembro, chegou a R$ 7,979 milhões. A tarifa básica é de R$ 4,10.Atualmente, em média, a Rota tem arrecadado R$ 8 milhões por mês com os cinco pedágios, segundo dados da Agergs, agência reguladora, mas gasta atualmente cerca de R$ 10 milhões em obras de melhorias e R$ 3 milhões em gastos operacionais, como salários e toda a manutenção dos serviços, segundo a Rota.

730 empregos

Em março, a concessionária tinha total de 313 funcionários, e a construtora Sacyr, que faz parte das obras na rodovia, 232 trabalhadores. A Sacyr está selecionando mais 191 trabalhadores para a duplicação.– A expectativa é obter as licenças e começar as duplicações até junho deste ano. Com isso, o valor com investimentos vai dobrar, passando de R$ 10 milhões para R$ 20 milhões por mês. O valor em custos operacionais deve seguir quase o mesmo – afirmou Bortoletti.Segundo a concessionária, os R$ 180 milhões foram gastos em investimentos e compra de equipamentos previstos no contrato, o que incluiu todas as obras de melhoria na rodovia, aquisição de guinchos, ambulâncias e viaturas blindadas para o Batalhão Rodoviário, instalação de torres de telecomunicação e câmeras de monitoramento e construção das novas praças de pedágio, além da reforma das antigas e pagamentos de salários.Só em câmeras, radares e redutores, serão investidos pela Rota R$ 30 milhões em 2023.

Fiscalização da AGERGS

Carlos Alvim, diretor de Tarifas da Agergs, diz que a agência recebe, a cada três meses, os balancetes de receitas e gastos da Rota para fazer o controle.– O controle sobre a execução do serviço da concessionária é feito pelos compromissos assumidos em termos de melhoria, definidos conforme cronograma do Programa de Exploração Rodoviária. Logo, o acompanhamento é mais de natureza física e menos financeira, conforme o contrato – diz Alvin, reforçando que outro setor da Agergs faz vistorias semanais na rodovia.Segundo ele, o contrato prevê que, em caso de a Rota não cumprir com prazos para melhorias, pode ser penalizada com reajuste menor da tarifa de pedágio. Mas a Rota pediu uma revisão da tarifa extra.– A concessionária alega que houve obrigações assumidas não previstas no contrato, decorrentes de defeitos no asfalto e necessidades de remoção de terraplenos. Tais casos levaram a concessionária a pedir revisão tarifária extraordinária, cuja análise do mérito está sendo feita pelo Poder Concedente e pela Agergs. Se for reconhecido como procedente o pedido, haverá sim um ajuste na tarifa acima da inflação.

Promessa

A Rota promete que, até junho, resolverá os problemas mais graves da rodovia com os reparos profundos, refazendo toda a base e colocando asfalto novo nesses trechos. É o mínimo que os motoristas esperam, pois a situação estava muito ruim.

Concessionária alega que terá “lucro” somente a partir de 2036

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Se hoje a Rota de Santa Maria está gastando mais do que arrecada, você deve estar se perguntando: afinal, quando ela vai ter retorno do que está investindo? O diretor da concessionária, Renato Bortoletti, compara a concessão com a construção de uma casa, em que o morador pega um pouco de dinheiro da poupança e um empréstimo no banco e ergue o imóvel, passando a pagar o financiamento. Só após a quitação do empréstimo é que a pessoa passará a ter retorno (“lucro”), pois não estará pagando mensalidade nem aluguel.

R$ 1 bilhão emprestados do BNDES

No contrato, o Estado já exigia que a empresa vencedora deveria colocar em caixa da concessionária um valor mínimo para garantir que tinha condições de assumir a rodovia e fazer as obras. Para assinar o contrato, o grupo espanhol Sacyr colocou R$ 75 milhões nos cofres da Rota. Ainda de acordo com Bortoletti, até setembro de 2022, o total que os espanhóis depositaram na Rota chegou a R$ 230 milhões, havendo depois um complemento de R$ 35 milhões. Com isso, a Rota já recebeu R$ 265 milhões do grupo espanhol até agora. Como já gastou cerca de R$ 180 milhões, ainda tem dinheiro em caixa para ir tocando as obras.– No mês que vem, deve sair o financiamento de R$ 1 bilhão que vamos pegar junto ao BNDES – diz Bortoletti, citando que isso dará a garantia para fazer as obras de duplicação.A meta da Rota é duplicar 130 km da rodovia, de Tabaí a Novo Cabrais, de junho deste ano até 2026, o que vai custar R$ 1,5 bilhão. Serão pelo menos três anos de antecipação em relação ao previsto no contrato.A concessionária acredita duplicar a estrada vai trazer mais veículos para a RSC-287 e, portanto, maior arrecadação. Mas como estará pagando o empréstimo de R$ 1 bilhão, Bortoletti diz que a concessão só começará a dar “lucro” a partir de 2036, no 15º ano do contrato, quando já estiver concluindo os investimentos e não terá gastos mensais tão elevados.– Os dividendos (retorno do lucro), o acionista só vai tirar a partir do 15º a 18º ano da concessão – projeta Bortoletti.

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