Diversidade e inclusão são os objetivos do 1º Festival Internacional LGBTQIA+ de Vôlei

Leandra Cruber

Diversidade e inclusão são os objetivos do 1º Festival Internacional LGBTQIA+ de Vôlei

Leandro

Foto: Nathália Schneider

Neste final de semana, Santa Maria vai receber o 1º Festival Internacional LGBTQIA+ de Voleibol. A competição, que ocorrerá no Centro Desportivo Municipal (CDM), terá a participação de oito times, quatro deles de Santa Maria e Região, e outros quatro de Porto Alegre. Criado por Jean-Pierre Chagas Avila, treinador de vôlei e sócio e diretor da J. Avila Eventos, a ideia surgiu ainda em 2021 quando o treinador tomou conhecimento do Projeto de Lei nº 9290/2021, proposto pelo vereador Rudys Rodrigues (MDB), e que instituiu, em Santa Maria, o “Mês do Orgulho LGBTQIA+”, celebrado em junho.

De acordo com o PL, o mês tem por objetivo a promoção da visibilidade, e de garantir direitos e combater violências com as comunidades lésbicas, gays, bissexuais, travestis/transexuais, queer, intersexo, assexuado e demais grupos de variações de sexualidade e gênero. Assim, segundo a proposta, a ideia seria ocupar espaços públicos e privados para promover ações voltadas aos direitos e cuidados da população LGBTQIA+, a partir, sobretudo, da conscientização da sociedade sobre os temas concernentes. Além de prever o incentivo à programação com atrações culturais que valorizem a arte das pessoas LGBTQIA+.

Sancionada em 03 de dezembro de 2021, o projeto de lei se transformou na Lei Nº 6585/2021 e, a partir daí, Jean resolveu aliar os anos de profissão com a promoção da diversidade e inclusão.

– Me chamou atenção essa ideia de um mês voltado para a população LGBTQIA+ e, como gestor da Associação Voleibol Futuro (AVF), pensei em criar um evento voltado para o esporte e para a diversidade. Em 2015, trouxemos o Bernardinho para a cidade, e sabia que seria possível realizar algo grandioso novamente.

A iniciativa deu tão certo que, antes mesmo da primeira edição, já está garantido o 2º Festival Internacional LGBTQIA+ de Voleibol de Santa Maria. Em maio, o vereador Rudys Rodrigues (MDB) propôs um novo projeto de lei de número 9421/2022 que, agora, prevê a inclusão do campeonato no calendário de eventos oficiais do município de Santa Maria. Ou seja, independentemente da gestão que administrar a cidade, o festival seguirá.

Para competir, se divertir e interagir

Foto: Nathália Schneider

O festival tem oito times de três cidades do Rio Grande do Sul. De Santa Maria, o público verá as equipes Viva Vôlei A, Viva Vôlei B e Equiperigo. De Porto Alegre, são quatro: Battel Force, Maragatos, Malaguetas e Galáticos. E, ainda sem nome, compete também uma equipe de Júlio de Castilhos.

Para promover a diversidade, de fato, o idealizador do festival explica que foram criadas, também, cotas para atletas heterossexuais.

– Inicialmente, pensamos em um regulamento que previa somente a inscrição de times LGBTQIA+. Mas, conversamos com equipes como a Battel Force, que participa de campeonatos desse tipo em todo o Brasil, e achamos melhor incluirmos atletas heterossexuais. A ideia é que ninguém se sinta da forma como as pessoas LGBTQIA+ já se sentiram: excluídas – explica Jean.

Ainda, a ideia do festival é servir como um ponto de partida para a interação entre diferentes times e entre o público que vai acompanhar o campeonato:

– Sabemos que as pessoas de cidades da região como Agudo, Restinga Sêca e Júlio de Castilhos estão se mobilizando para ver as partidas. E, claro, queremos muito ver o pessoal de Santa Maria. É uma oportunidade de aproximar as pessoas do esporte e de viver um momento saudável de competição.

Madrinha direto da Superliga

Foto: Reprodução

A madrinha do 1º Festival Internacional LGBTQIA+ de Voleibol de Santa Maria é a jogadora de vôlei Tifanny Abreu, primeira mulher trans a disputar uma partida oficial da Superliga Brasileira de Voleibol Feminino.

Até os 29 anos, a atleta jogava profissionalmente em ligas masculinas. Mas, por não conseguir mais se reconhecer, em 2012, Tifanny começou o processo de transição, mesmo com medo de não conseguir mais jogar em razão da legislação esportiva. Foi o único momento em que ela se afastou das quadras.

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Mas, em 2017, conseguiu retornar ao jogar na segunda divisão da Itália. Um ano depois, Tifanny voltou ao Brasil, foi contratada pelo Bauru e se tornou a primeira mulher trans a disputar a Superliga feminina. Hoje, defende as cores do Osasco Voleibol Clube. E, aos 37 anos, marcou 225 pontos na primeira fase da Superliga 2021-2022. Ela se destacou como a maior pontuadora da fase.

Mas, para poder viver esse momento de glória e de pleno exercício da profissão, ela precisou lutar contra o preconceito. Ao se tornar a primeira mulher trans a participar de um campeonato de alto nível, dezenas de esportivas, assim como comentários da mídia, afirmavam que ela tinha vantagem por ter nascido e passado a puberdade como homem. Além disso, notícias de descontentamento por parte de outros atletas da competição vieram à tona.

De acordo com as regras do COI (Comitê Olímpico Internacional), atletas trans precisam comprovar que o nível de testosterona está abaixo do limite de 10nm/l de sangue por um ano antes de entrar nas competições.Assim, Tifanny comprovou e garantiu seu lugar ao sol.

Hoje, é embaixadora da marca Rexona no Brasil e é atleta da Adidas. E, para Jean Avila, receber a jogador em Santa Maria, além de uma honra, marca um grande festival:

– É muito simbólico termos a Tifanny aqui. Ela é uma atleta excepcional que enfrentou críticas e polêmicas durante dias e dias e, hoje, ela inspira muitas pessoas, especialmente a população LGBTQIA+, que ama esporte mas se afasta por achar o ambiente inseguro. Ela se adequou à legislação esportiva e conseguiu continuar a fazer o que ama: jogar vôlei.

Nas redes sociais, a jogadora do Osasco Voleibol Clube falou sobre o evento e deixou um convite especial.

– Convido o público LGBTQIA+ e os amantes do voleibol para acompanharem o evento inédito. Para mim é gratificante ser a madrinha em um evento tão simbólico e representativo como esse – disse Tifanny.

A cobertura do Diário

O Grupo Diário irá transmitir os jogos finais do 1º Festival Internacional LGBTQIA+ de Voleibol, previstos para ocorrer durante a manhã deste domingo, no Centro Desportivo Municipal (CDM).

A decisão do terceiro lugar está prevista para o domingo, às 10h, e a grande decisão ocorre logo depois. Os duelos terão a transmissão, ao vivo, de forma simultânea, em quatro plataformas: com imagens, pela TV Diário, nos canais 26 e 526 da NET, no Facebook do Diário de Santa Maria, no Canal do Diário no Youtube, e via áudio, na Rádio CDN 93.5 FM.

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Segundo o organizador do campeonato, Jean-Pierre Chagas Avila, a transmissão dos jogos finais é um reconhecimento importante e que amplia a visibilidade do 1º Festival Internacional LGBTQIA+ de Voleibol.

– É muito gratificante quando vemos que empresas de Santa Maria estão empenhadas em contribuir para a promoção do esporte e inclusão ao apoiarem o campeonato. Isso credibiliza a importância e reforça o quanto será um evento diferenciado. As pessoas poderão ver, in loco, e terão, também, a possibilidade de acompanhar uma transmissão feita por um veículo, com pessoas daqui, e uma emissora daqui – comemora o treinador e organizador do evento.

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