Quando olho para trás, vejo quantas bobagens perpetrei ao longo da vida, quase sempre por imaturidade, por afobamento, por impulsividade. Felizmente, penso que, com o passar dos anos, aprendi a domesticar meus instintos, a controlá-los, a fazer deles um aliado e não um adversário. Assim, aprendi a escutar, a estender a mão, a abraçar. E procuro não agredir ninguém, procuro fugir do egoísmo e dos preconceitos. Acho legal ser gentil, cordial. Gosto de gostar das pessoas, sem me julgar senhor de nenhuma verdade exclusiva. Gosto de semear afetos. E, não tenho dúvida, os tenho semeado em bom número. De igual sorte, é a natural contrapartida, muitos afetos tenho colhido. Até, em razão disso tudo, me atribuem qualidades que não tenho ou virtudes que passam ao largo da minha capacidade de ser generoso e altruísta. Sou, rigorosamente, um ser humano comum, desses que gostam de coisas comuns, de coisas simples, de gente simples. E tenho razoável capacidade de compreensão das motivações individuais, tanto que, até mesmo a deslealdade, que é a pior das vilanias, com o tempo, eu perdoo.
Talvez o que me diferencie de outras pessoas igualmente comuns seja a capacidade que tenho de gostar de coisas diversas. Nas letras, por exemplo, gosto dos ditos clássicos da literatura à rima pobre das trovas galponeiras. Na música, gosto do erudito ao mais brega e popular. Claro, cada coisa na sua hora, no seu lugar. Tenho amigos nas vilas mais pobres da cidade e nos mais fechados, exclusivos e luxuosos condomínios. Quando militava politicamente era (pe)emedebista desde sempre e tinha (tenho) irmãos, de coração, petistas de carteirinha. Sou gremista e tenho fraternos amigos colorados. Tenho formação (e convicção) espírita e cultuo sólidas amizades com católicos, judeus, islamitas, etc. Aprecio um bom escocês e um tinto mais refinado, mas, em regra, prefiro a popularíssima cerveja. Só não gosto de cachaça, essa é uma velha implicância de meu fígado.
Todavia, não pensem que estou querendo me exibir, que estou me achando. Quero apenas ponderar, a partir da minha própria experiência de vida, que é possível e saudável aprender com as diferenças e com elas conviver harmonicamente. Que é possível o convívio das variadas visões de mundo, das diversas possibilidades de ações e interações individuais e coletivas. Os pressupostos são o respeito à ética, à mínima coerência, o apreço pela dialética e pela dialógica e a disponibilidade para a empatia e para alteridade.
Só não tenho mesmo – este é um defeito que preciso corrigir – muita paciência para a burrice. Burrice, não desinformação ou ausência de educação formal. Burrice, não menor aptidão para determinadas tarefas. Conheço analfabetos e pessoas desinformadas muito mais inteligentes do que eu e pessoas incultas (rudes até) que me deixam embasbacado com as habilidades que possuem. Infelizmente, a burrice, que deforma, não tem conserto. E assim é quando ela se manifesta na política e no futebol. Assim é quando ela se faz presente na vida.
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