Dificuldade de acesso e falta de água potável: entenda a situação das aldeias indígenas após as chuvas

Thais Immig

Prejuízos nas casas, pontes danificadas e falta de água têm feito parte da rotina dos santa-marienses após as fortes chuvas que atingiram a cidade e região. Nas aldeias indígenas, não foi diferente. As dificuldades de acesso às comunidades impedem a continuidade das aulas, atendimentos de saúde e o trabalho da população indígena que reside nas aldeias Kaingang e Guarani


Ponte danificada 

A aldeia Kaingang Kéty Jug Tegtú está localizada em um terreno na estrada de Canudos, distrito de Arroio Grande, zona rural de Santa Maria. Com as fortes chuvas registradas na semana passada, a ponte foi danificada, o que impede a passagem de veículos. Assim, o trajeto de mais de dois quilômetros até a aldeia precisa ser feito a pé. Conforme o cacique Natanael Claudino, também houve deslizamentos de terra na encosta da via que dificultam a travessia.

– Todo mundo passou por necessidades, não só as aldeias indígenas. O acesso já estava difícil antes e, durante a chuva, toda a comunidade passou por dificuldade. As casas da aldeia são de “segunda mão”, ou seja, já foram desmanchadas e construídas em outro lugar. Então, não aguentaram essa chuva que deu e molharam a maioria das casas, roupas e alimentos que tinham – afirma o Cacique.

Foto: Beto Albert


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Com a ponte danificada, professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Augusto Ope da Silva não conseguem dar aula. Assim, a a instituição de ensino tem funcionado com carga horária reduzida, apenas com professores da comunidade. O mesmo acontece com os atendimentos no posto de saúde. que não estão sendo realizados porque o médico que atende a região não tem acesso à aldeia.

Além da educação e da saúde, a economia também foi afetada. A maior parte da renda dos moradores é resultado da venda de artesanato que, devido às condições da estrada, não acontece desde a última terça-feira. 

Posto de Saúde da aldeia está sem atendimento. Foto: Eduardo Ramos (Arquivo Diário)


Falta de água potável 

Por conta das fortes chuvas, a comunidade Kaingang ficou quatro dias sem energia elétrica. Agora, o problema tem sido a água potável que não chega no local desde a última segunda-feira. De acordo com o Cacique, a única fonte tem sido uma vertente que é imprópria para consumo:

– Estamos há quatro dias sem água. Antes disso, a gente racionava o que tinha e pegava só para beber. Temos uma vertente dentro da aldeia que costumávamos usar para lavar roupa, dar de beber aos animais e para banheiros. Mas a gente foi obrigado a consumir essa água. Mesmo com medo, a população consome porque a comunidade não está tendo acesso a água potável.

As doações têm chegado à comunidade que ainda precisa de roupas, colchões e cobertas que foram molhadas pela chuva. Ainda não há previsão para o conserto da ponte e o retorno da água. Até lá, segundo o Cacique, a aldeia tem adaptado a rotina para lidar com as dificuldades impostas pela chuva. 


Aldeia Guarani também foi afetada pelas chuvas

As fortes chuvas também afetaram o cotidiano da aldeia Guarani Guaviraty Porã. O acesso à comunidade foi dificultado devido às condições das estradas. Conforme a vice-cacique, Germânia Kerexu, a água também invadiu casas e deixou prejuízos.

– Entrou água e muita roupa molhou. Alguns eletrodomésticos também estragaram. Não foi muita coisa, mas a gente tem pouco. Então, passamos dificuldades aqui – afirma Germânia.

Nos últimos dias, a aldeia também foi afetada pela falta de água, que voltou na terça-feira (9). Com isso, as aulas na Escola Estadual Indígena de Educação Básica Yvyra Ija Tenondé Vera Miri, que, atualmente, atende cerca de 70 alunos, foi normalizada, mesmo sem a presença de alguns professores que não conseguem acessar o local. Ainda conforme Germânia, as chuvas na região também afetaram a saúde das crianças da comunidade que, por conta do mau tempo, ficaram doentes. Até o momento, as famílias receberam cestas básicas. Nenhum medicamento foi levado à comunidade.


O que diz a prefeitura

A Prefeitura, por meio da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos, Secretaria de Desenvolvimento Social e Defesa Civil Municipal informa que no começo da semana, todas as estradas do interior do Município passaram por avaliação. Neste contexto, também foram vistoriadas a Estrada Pedro Cesar Saccol (Distrito Industrial) e Estrada de Santo Antão (popularmente conhecida como Estrada da Fundae); bem como a Estrada Querino Rosa e Estrada de Canudos (Distrito de Arroio Grande).

A ponte que dá acesso à aldeia Kaingang, na Estrada Querino Rosa, distrito de Arroio Grande, é uma das 30 pontes que sofreram avarias com o denso volume de chuvas da última semana. Uma vistoria já foi realizada, sendo constatado que a força das águas no Arroio Vacacaí Mirim danificou as cabeceiras da referida ponte. A trafegabilidade nesta ponte será restabelecida nos próximos dias, conforme as condições técnicas e climáticas. Posteriormente será realizada a recuperação de toda a estrutura.

Em relação a água, por conta da questão de trafegabilidade, que impede a chegada do caminhão pipa à aldeia, a Defesa Civil do Município não consegue abastecer o reservatório da comunidade com água potável. No entanto, está sendo providenciada a entrega de água engarrafada. Desde o início das chuvas, a Secretaria de Desenvolvimento Social, por três ocasiões, levou água e mantimentos para ambas as aldeias. Também está sendo pensada uma ação com o apoio da Universidade Federal de Santa Maria. A aldeia Kaingang possui uma vertente de água, a partir da qual a Defesa Civil orientou coletar água e fervê-la para consumo, até a situação ser normalizada.


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