“Deixar de falar não é solução” aponta autora de livro sobre a tragédia da boate Kiss que inspirou série da Netflix

Bernardo Abbad

“Deixar de falar não é solução” aponta autora de livro sobre a tragédia da boate Kiss que inspirou série da Netflix

Guilherme Leporace/Netflix

TODO DIA A MESMA NOITE. (L to R) PAULO GORGULHO as RICARDO, THELMO FERNANDES as PEDRO, LEONARDO MEDEIROS as GERALDO in TODO DIA A MESMA NOITE. Cr. Guilherme Leporace/Netflix © 2023

Foto: Guilherme Leporace (Netflix, divulgação)

Em um hotel próximo à Avenida Paulista, coração de São Paulo, a equipe da minissérie Todo Dia a Mesma Noite, da Netflix, recebeu nesta quinta-feira (19), profissionais da imprensa do país para o lançamento da produção que narra os eventos da tragédia da boate Kiss. Estiveram presentes alguns atores do elenco da produção e os criadores da minissérie: a diretora Julia Rezende e o roteirista Gustavo Lipsztein. Junto a eles, estava também a premiada escritora e jornalista mineira Daniela Arbex, autora do livro de mesmo nome que inspirou a produção.

Ao ser questionada sobre a escolha de fazer uma dramatização dos fatos, a diretora apontou que somente a dramaturgia permite estabelecer, de fato, uma conexão com o telespectador:

– A ficção nos permite criar empatia com os personagens, ao mesmo tempo que temos liberdade e licenças poéticas que estão para além do que um documentário ofereceria.

O roteirista Gustavo Lipsztein completou, apontando que o formato do documentário fala de algo que já aconteceu e a dramaturgia permite contar um pré-fato:

– É importante para criar uma conexão, além de poder entrar em momentos íntimos dos personagens e ver como eles estão passando por isso.

Conforme pode ser conferido nos cinco episódios da série, o foco da narrativa recai sobre o longo período de luto dos familiares dos mortos, principalmente os pais, e como os mesmos decidiram que a luta por justiça deveria ser incessante. De acordo com Gustavo, quando ele leu no livro de Daniela Arbex as passagens relatando que quatro pais chegaram a ser processados pelos promotores do caso, e que a justiça até hoje não ocorreu, ele decidiu que esse deveria ser o foco da minissérie.

CONSCIÊNCIA

Conforme já pôde ser visto no trailer, a fiel reprodução dos cenários de Santa Maria, principalmente o da fachada da boate Kiss, são bastante realistas. Para não gerar um desconforto na população, foi optado por não realizar gravações na cidade. Contudo, ocorreram oito dias de gravações em Bagé. Conforme Julia Rezende, era um desejo dela trazer a cultura gaúcha para a produção, além de o interior do Estado ser, de fato, o lar de vítimas da tragédia, na série e na vida real.

– A fachada da boate está no imaginário coletivo, então tivemos uma preocupação muito grande. Tudo foi reconstruído em estúdio no Rio de Janeiro, inclusive o interior da casa noturna. Mas queríamos essa presença gaúcha, então fomos a Bagé. Foram muitos desafios, mas estamos satisfeitos com esse material sensível e importante que o público poderá conferir.

Em seu primeiro trabalho como atriz, a modelo e influencer mineira Paola Antonini interpreta Grazi, uma das sobreviventes da tragédia. A trama é nitidamente inspirada em Kelen Ferreira, que teve 18% do corpo queimado e a perna amputada devido ao incêndio da boate Kiss.

_ Foram muitas conversas com a Daniela para fazer esse trabalho desafiador. Eu sabia da responsabilidade e queria por meu coração nisso, então estudei e li muito. A cena que mostra que o namorado da personagem na época do ocorrido não segurou a barra e a deixou, por exemplo, apesar de rápida é importante é importante e tem um significado enorme, porque fala de todas as nuances e consequências dessa tragédia – contou Paola.

Daniela Arbex contou que sua participação na produção foi, principalmente, fornecer informações para auxiliar a equipe. Como ela nunca se afastou da história, desde o lançamento do livro em 2018, a escritora pôde compartilhar novas narrativas, que não estão no livro.

– O meu papel também foi o de zelar para que a história fosse contada com o maior respeito e delicadeza possíveis. Quem assistir a série, vai entender imediatamente que ela é um retrato da luta por justiça no Brasil e uma recusa ao esquecimento. Esquecer é negar a história. Precisamos lidar com o passado para mudar o futuro. Deixar de falar não é solução. Precisamos mergulhar nessa história para criar uma consciência coletiva – finaliza.

A série estreia no dia 25 de janeiro na Netflix. No elenco estão artistas consagrados como Debora Lamm, Thelmo Fernandes, Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Raquel Karro e Bel Kowarick – que interpretam personagens cujas vidas foram destroçadas pela perda dos filhos –, além de Erom Cordeiro e Laila Zaid, que dão vida aos policiais responsáveis por investigar o caso. O ator santa-mariense Flávio Bauraqui interpreta o advogado das famílias. Paola Antonini, Nicolas Vargas, Manu Morelli, Luan Vieira, Miguel Roncato e Sandro Aliprandini interpretam jovens vítimas da tragédia.

*O repórter viajou a São Paulo a convite da Netflix

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