Da derrubada das portas ao início da obra de infraestrutura: construção do Memorial da Kiss completa um mês

Da derrubada das portas ao início da obra de infraestrutura: construção do Memorial da Kiss completa um mês

Fotos: Beto Albert (Diário)

No dia 12 de agosto, obras do Memorial da Kiss completaram um mês

É da janela do apartamento, que fica no prédio aos fundos da Kiss, que a professora aposentada Cleusa Saldanha Martins, 70 anos, acompanha de perto as obras do Memorial. Desde o dia 27 de janeiro de 2013, ela conta que a vista nunca mais foi a mesma. No lugar do movimento e da diversão característicos da boate, que ficava na Rua dos Andradas, um cenário cinza e melancólico. Agora, de perto, ela acompanha a construção do Memorial que, conforme Cleusa, dão um novo significado a memórias difíceis.


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O que eu lembro do dia? Os filhos. Eles moravam aqui no (edifício) Central e eu viajei por horas para encontrá-los. Um dos filhos ainda estava na fila para entrar na festa e outro dormindo, minha sorte. Acompanhei muitas homenagens aqui na frente e agora a obra... Acho muito importante – conta Cleusa, que lembra de tantos vizinhos que deixaram o prédio após a tragédia, para evitar as lembranças. 

Cleusa mora no prédio vizinho a boate

Para a auxiliar de limpeza Luciane Lopes, 54 anos, que trabalha no edifício, a obra foi um momento esperado. O antigo prédio onde funcionava a boate, por 11 anos, trouxe lembranças muito difíceis. Desde julho, ela acompanha as etapas da construção e não vê a hora do Memorial fazer parte da rotina já que, segundo ela, olhar para o prédio da frente é uma ação rotineira.

– Eu tenho acompanhado. No início, quando eles começaram a derrubar e recolher o material foi bem difícil porque veio toda aquela lembrança, principalmente para nós que estamos no entorno. Também é importante principalmente para que não aconteça porque foi muito grave o que aconteceu – conta Luciane.

Luciane trabalha no prédio vizinho a Kiss

Aos olhos de moradores como Cleusa e Luciane, as obras do Memorial da Kiss, iniciadas em 12 de julho, completam um mês. Data que marca também o início das fases relacionadas à infraestrutura. Na tarde desta segunda-feira, a equipe trabalhava na dobragem de ferragens que serão utilizadas nas fundações – como se fosse um alicerce da estrutura, característico das primeiras etapas de construção de um projeto.


Conforme a arquiteta urbanista, Taciane Diniz, após a derrubada da estrutura e limpeza do terreno, foi realizado o levantamento planialtimétrico, que ajusta os níveis do terreno de acordo com o projeto. Em paralelo, nas últimas semanas, a equipe trabalhou nas marcações de obra e no início das perfurações. Essas últimas etapas, realizadas desde a remoção completa do antigo prédio da boate, se caracterizam como as primeiras fases da obra, relacionadas à infraestrutura.


– Nesse momento, a equipe está nas fases iniciais da parte de infraestrutura. No primeiro mês, foi feita toda a parte de demolição e limpeza do terreno. Agora, a gente faz o nivelamento de acordo com o projeto. E também estão sendo feitas as perfurações das sapatadas, que faz parte dessa etapa inicial da obra em si – conta a arquiteta da obra.

Em agosto, a empresa responsável pela obra trabalha nas primeiras etapas da fase de infraestrutura


Ações do primeiro mês

A retirada do letreiro da boate Kiss e das portas de entrada, em ato simbólico na Rua dos Andradas no dia 12 de julho, marcou o início da obra do Memorial. Ainda na primeira semana, foram catalogados os objetivos que farão parte do acervo e teve início a retirada de materiais da boate como gesso, madeira, alumínio e espuma. O objetivo era dar o direcionamento adequado dos itens e abrir espaço para a entrada do maquinário.

Obra começou com a retirada das portas de entrada e letreiros da boate

Quase duas semanas depois, em 23 de julho, outro marco importante: a remoção do telhado e das estruturas internas do local. No dia seguinte, a fachada do prédio da Boate Kiss começou a ser demolida de forma manual, com a retirada de janelas e estrutura de madeira. Este foi o último passo antes da derrubada completa das paredes da boate, que ocorreu no dia 29.

Após a remoção da estrutura, foi realizada a limpeza do entulho e nivelamento do terreno. Nada sobrou do antigo prédio da boate. Em vez disso, no espaço, um canteiro de obras pronto para receber a infraestrutura. De perto ou dos prédios vizinhos da boate, é possível observar as movimentações no terreno como as primeiras perfurações e o trabalho inicial para a base da construção.


Próximos passos

Dentro do próximo mês, a empresa Infa Incorporadora, responsável pela obra, deve seguir com as etapas relacionadas à infraestrutura como perfuração, ferragem e concretagem. Após, serão realizadas ações como a estrutura frontal, composta por tijolos à vista, colocação do piso granito e a composição em vidro de partes do Memorial previstas no projeto. Além disso, será feito o madeiramento que vai sustentar a cobertura com madeiras comprimidas e sustentadas por 242 pilares.

Depois da etapa de construção civil, a equipe deve trabalhar com o paisagismo e fases finais como instalações elétricas e limpeza. A obra, iniciada em julho, deve durar oito meses. Assim, o Memorial está previsto para ser entregue em março de 2025. 


Cronograma 

*De acordo com cronograma físico e financeiro da obra

  • Julho de 2024: retirada e categorização dos objetos do acervo e a classificação dos materiais da boate como madeira, alumínio, gesso e espuma foram retiradas. Último passo foi a remoção completa da estrutura da boate;
  • Julho de 2024 a março de 2025: construção Civil. Nessa etapa, serão realizadas ações como a estrutura frontal, composta por tijolos à vista, colocação do piso granito e a composição em vidro de partes do Memorial previstas no projeto. 
  • Outubro de 2024 a fevereiro de 2025: Instalação de ar-condicionado no Memorial;
  • Novembro de 2024 a fevereiro de 2025: Em paralelo com a finalização da construção civil, será iniciada a etapa de paisagismo. Conforme Paulo Kull, engenheiro responsável, essa fase também inclui a procura por espécies nativas da região, que estão previstas em projeto. Para isso, serão feitas parcerias com universidades de Santa Maria;
  • Março de 2025: Limpeza da obra e entrega do Memorial


O projeto 

O Memorial será construído na Rua dos Andradas, onde ficam as ruínas da boate Kiss. O projeto de 383,65 metros quadrados será feito em um único pavimento, para facilitar a acessibilidade e a manutenção. O custo será de R$ 4,8 milhões oriundos do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados (FRBL), presidido pelo Ministério Público (MP), que destinará ao Memorial os valores provenientes de multas e acordos judiciais por danos causados à coletividade. Além disso, a prefeitura dará uma contrapartida de R$ 800 mil.


O arquiteto Felipe Zene Motta é o responsável pelos ambientes que serão construídos no memorial. Ele foi o ganhador do concurso realizado, em 2018, pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RS) para escolher o projeto. 


  • Fachada – A proposta traz um muro de concreto e tijolos que bloqueia quase que inteiramente a visão do espaço interior, se vista da rua. De acordo com o autor do projeto, a austeridade da fachada representa o luto da cidade e exige respeito do visitante ao que aconteceu;
  • O interior – Em contraste, ao atravessar o muro, encontra-se um espaço de luz e fluidez. O atravessar busca trazer uma signification do luto e do pesar;
  • No centro – No coração do projeto, haverá um jardim circular de flores. À sua volta, 242 pilares de madeira, cada um representando uma vítima da tragédia, suportam uma cobertura radial que abriga as diversas salas do conjunto;
  • Ao fundo – Será instalado um auditório, composto por um palco central e plateia em lados opostos. Uma sala multiuso de caráter cultural abrigará o acervo em formato de exposição permanente multimídia. Do outro lado, optou-se por criar uma sala única que abrigará a sede da AVTSM, assim como demais áreas de reunião e atividades coletivas


Tour virtual

Na terça-feira (27), quando a tragédia completa 11 anos e sete meses, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) apresentará um recurso importante para o pedido de reparação e para compreensão da tragédia: o memorial virtual.


O memorial em maquete 3D do prédio da boate foi desenvolvido pelo Projeto Memória, Justiça e Tecnologias Digitais Interativas, coordenado pela professora Virgínia Vecchioli, do Departamento de Ciências Sociais. A maquete foi usada como recurso no júri da tragédia na boate, em dezembro de 2021, e estará disponível ao público em geral pela primeira vez. O acesso será possível neste link


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Um mês de obras em fotos:

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