Vida de beco

Como é a vida em becos marcados pelo crime

Naiôn Curcino

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Pouco mais de uma semana depois de o Beco da Tela, na Vila Schirmer, bairro Presidente João Goulart, na região nordeste de Santa Maria, ter sido alvo de uma grande operação da Polícia Civil a fim de evitar que uma das facções mais perigosas do Estado, os Bala na Cara, fixassem-se na cidade, o “Diário” voltou ao local para conhecer o cotidiano das pessoas que moram nesses locais e no entorno. O mesmo foi feito em outros dois becos de Santa Maria conhecidos por, não raras vezes, servirem de cenário para a criminalidade: o Beco do Nego Zê, no bairro Carolina, e o Beco do Beijo, em Camobi.

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Em comum nesses locais, há a falta de estrutura básica para os moradores, a submissão dessas comunidades em relação a quem está a serviço do crime, por conta do medo de represálias, mas também endereços de inúmeras pessoas de bem.
Segundo o cientista político, sociólogo e professor da Unipampa Guilherme Howes, a falta de políticas públicas nesses locais não é responsável apenas pela ausência de infraestrutura, mas também é determinante para a quase exclusão dessas pessoas da sociedade:

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– Há uma ausência do Estado nesses locais. Eles (moradores) pagam impostos, são consumidores, mas não são contemplados em um Estado de proteção. O Estado, na verdade, tutela esse silêncio das pessoas quanto ao tráfico, e isso é uma grande violência contra o cidadão. O Estado permite que essa violência se estabeleça – explica Howes.

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Reduto de preconceito

Além de todos esses problemas, os moradores desses locais também precisam enfrentar diariamente o preconceito. Nem mesmo o direito a um endereço eles têm. E até serviços como entrega de correspondências e tele-entregas ficam prejudicados.

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– A única diferença desses becos para os morros é geográfica, mas são lugares muito parecidos. Estão encravados próximos aos centros, e apenas uma rua, uma linha, divide a cidadania da marginalidade, a inclusão da exclusão. Há um abismo social, e isso é muito grave. O endereço postal inscreve você geograficamente no mundo. Se tu não tens isso, significa que tu não existes para o mundo, isso é roubar a cidadania de uma pessoa – ressalta o cientista político.

Confira as peculiaridades de cada beco visitado e as semelhanças entre eles:

Beco do Nego Zê



– Moradores relatam que o movimento de compra de drogas é grande no local
– Os clientes são diversos: universitários, ricos, pobres e até idosos
– Diferentemente de antigamente, os usuários apenas compram drogas e saem do local
– Há pouca interação entre os moradores do Beco e os vizinhos dos arredores
– "A gente olha e faz que não vê, porque é me"

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