Tornados, fortes rajadas de vento e queda de granizo. A região central do Estado vem contabilizando uma série de fenômenos naturais que causam grandes estragos, como o que ocorreu em São Gabriel no último domingo. E o que parecia surpreendente e inédito, para os meteorologistas, é corriqueiro. Depois da área central dos Estados Unidos, o sul do Brasil - em especial, o Coração do Rio Grande - é o local que reúne as condições meteorológicas mais favoráveis à ocorrência de eventos de tempo severo - nome dado para essas intempéries assustadoras. E a explicação para sermos terra fértil para tornado está na combinação das massas de ar frio vindas da Argentina e do Uruguai com os ventos quentes e úmidos vindos da região Amazônica. Essa junção é ideal para formar uma atmosfera instável, com muita energia.
Conforme especialistas, nesse tipo de ambiente, quando os ventos vindos de diferentes direções se intensificam com a altitude, ocorrem as condições perfeitas à formação de tempestades que criam tornados e microexplosões. Devido à trilha de danos estreita que ambos costumam deixar, tornados e microexplosões são comumente confundidos. A diferença é que tornados são colunas de ar em contato com a superfície, cujos ventos sopram em espiral. Já na microexplosão, os ventos são em linha reta, sem rotação. Em termos de velocidade do vento, os tornados geralmente serão os fenômenos mais fortes e estão associados aos danos mais severos.
Fenômenos em Dilermando e São Gabriel são diferentes
O que aconteceu no domingo, em São Gabriel, parecia ser o mesmo fenômeno que destelhou mais de 330 casas e deixou outras 14 completamente destruídas em Dilermando de Aguiar. Na ocasião, o interior do município, afetado de forma mais rigorosa, registrou rajadas de vento com cerca de 140km/h. Em menos de 15 minutos, aproximadamente 40% da rede elétrica foi arrancada e pelo menos 60 famílias ficaram desalojadas. Tinha tudo para ser um tornado. Mas o professor Vagner Anabor, coordenador do Grupo de Modelagem Atmosférica (Gruma) da Universidade Federal de Santa Maria, e o mestrando Maurício Ilha, também membro do Grupo, explicam que os ventos que atingiram as localidades vieram de fenômenos diferentes, mas formados a partir de características meteorológicas semelhantes. São Gabriel foi atingido por um tornado de pequena escala. Já em Dilermando de Aguiar, o que ocorreu foi uma microexplosão.
No caso de um tornado, as velocidades do vento variam de 100km/h até cerca de 320km/h. O fenômeno se caracteriza por formar colunas de ar giratórias que geralmente apresentam a aparência de um funil. Além disso, os tornados costumam afetar uma área estreita e duram poucos minutos minutos.
A microexplosão, por sua vez, é formada a partir de uma linha de tempestades que assume a forma de um arco. Pode cobrir uma ampla área geográfica, devido à sua grande extensão, e costuma causar danos comparáveis aos de um tornado, podendo, nos casos mais intensos, apresentar ventos de 200 km/h.
A reconstrução em Dilermando de Aguiar
Dez meses depois da tempestade que atingiu a região, ainda é possível perceber as marcas na zona rural de Dilermando de Aguiar. A maioria das casa está com telhado novo. Em alguns terrenos onde as residências foram completamente destruídas pelo vendaval, existem novas construções surgindo. Outros locais foram abandonados.
Silvéria Lima Medeiros, 75 anos, estava fazendo o almoço quando as paredes a sua volta cederam e ela fugiu para o quintal da casa com o filho. Hoje, vivendo em um galpão que resistiu aos ventos, com sua nova morada em construção ao lado, Silvéria não esquece do medo que passou.
- Foi feio. Sempre lembro da casa indo embora e agradeço ter sido de dia. Não sei o que aconteceria se fosse à noite - explica a dona de casa.
Já Aldecy Tavares Brasil, 70 anos, ficou sem o telhado, e o galpão que usava como garagem cedeu sobre seu carro ap"