com a palavra

Capelão do Hospital de Caridade relembra infância e trajetória no sacerdócio


Fotos: Arnaldo Giuliani (arquivo pessoal)

Nascido no interior de Cachoeira do Sul, atual município de Dona Francisca, o padre Arnaldo Giuliani fez diferença em todos os lugares que andou. Criado no interior, ele batalhou muito para concluir os estudos e ser ordenado padre, em 1963. Na atuação presbiteral, passou por Vale Vêneto, Santa Maria e Porto Alegre,. Com abnegação, ele construiu uma trajetória exemplar. Atualmente, aos 86 anos, ele auxilia nos trabalhos da Paróquia das Dores e atua como capelão no Hospital de Caridade, levando esperança aos enfermos. Nesta entrevista, conheça um pouco mais desta história.

Diário - A família sempre foi base para o senhor?
Padre Arnaldo Giuliani
-Com certeza. Meus pais, Virgílio Benjamin Giuliani e Edwiges Roggia, depois de casados, moraram entre Faxinal e Dona Francisca, no lado sul do Cerro Comprido, onde está a Ermida de São Pio. Ali, eles permaneceram até 1960. Tenho 12 irmãos, Mateus, Catarina, José, Gema, Clotilde, Nelci, Lourdes, Bernardino, Teresinha, Maria do Carmo, Zenita e Benildes. Esta é a minha constelação familiar. Éramos pequenos agricultores na encosta do Cerro Comprido, no vale entre o Morro Santo Antônio.

Diário - Descreva a sua rotina na infância.
Padre Arnaldo - Lembro das reuniões com os vizinhos. Tinha pipoca, pinhão, rapadura, amendoim. No entroncamento, havia a escola, na qual aprendi o "beabá". Tinha, também, atividade para os homens adultos, que jogavam bocha, baralho e tomavam trago. Para os rapazes, havia campo de futebol. Já as meninas jogavam caçador e pulavam corda. E não podia faltar o catecismo, é claro. Minha saúde era frágil naquela época. Fui hospitalizado várias vezes. Na região, ainda, convivíamos com vários exemplos de solidariedade e de ajuda mútua, o que muito me ensinou.


A base familiar sempre foi importante para Arnaldo

Diário - Como eram essas iniciativas?
Padre Arnaldo - Quando alguém ficava doente, todos socorriam. Sempre que necessário, montávamos mutirões. Aos 10 anos, eu já era um dos voluntários nessas iniciativas. Na época, fabricávamos os nossos brinquedos. Eram simples, mas eram especiais para nós.

Diário - Fale sobre a trajetória acadêmica e a vocação.
Padre Arnaldo - Quando terminei o quarto ano do Ensino Fundamental, série máxima oferecida na escola em que eu estudava, quis ir para o internato em Vale Vêneto, mas o pai não podia bancar. Então, fiquei em casa trabalhando na roça como uma pessoa adulta, entre os 11 e 12 anos. Eu gostava de lidar com os bois. Em janeiro de 1946, meu pai me autorizou a ir para o internato. Em 7 de fevereiro daquele ano, ele me colocou na aranha, um tipo de charrete, e fizemos 20 quilômetros até Vale Vêneto. Devido a problemas de saúde, somente aos 15 anos consegui iniciar a primeira série do ginásio, o que equivale, hoje, ao 6º ano do Ensino Fundamental. Por incrível que pareça, com 30 anos, eu já havia concluído três cursos superiores: Filosofia, Teologia e Pedagogia. Há muitos milagres que não entendemos. Precisamos reconhecê-los e saber aproveitar as oportunidades.

Diário - Quando foi a sua ordenação presbiteral?
Padre Arnaldo - Em 7 de julho de 1963, em São Gabriel. Em 1964, fui a Vale Vêneto, onde fiquei por nove anos. Lá, dei aula de latim e grego e me envolvi na administração. Nos últimos quatro anos, eu era responsável pela direção. Eram 120 alunos internos. Consegui tornar o lugar autossustentável. Outro milagre. Tínhamos uns 50 hectares, nos quais plantávamos e criávamos animais.

Diário - O senhor morou em outras cidades?
Padre Arnaldo - Em 1972, me mudei para Porto Alegre, onde assumi o Colégio Vicente Palotti. Foi uma experiência dolorosa. Era outra realidade. Um ano depois, voltei para Santa Maria e ajudei na administração da Sociedade Vicente Palotti. Na busca de capacitação, cursei Administração na Federal. Anos mais tarde, em 1995, voltei para Porto Alegre. Desta vez, a experiência foi boa.

Diário - Foi muito diferente?
Padre Arnaldo - Foi o melhor tempo da minha vida. Peguei o colégio com 440 alunos e chegamos a ter 1,5 mil matriculados. Com mais de 100 colaboradores, saí sem nenhuma ação trabalhista. Junto ao colégio, tinha uma pequena paróquia. Quando saí da Capital, em 2010, fui homenageado.


Parte da delegação de Porto Alegre que acompanhou Padre Arnaldo na volta a Santa Maria

Diário - Como é ser capelão do Hospital de Caridade?
Padre Arnaldo
- Todos os dias, visito os pacientes, não apenas para catequizar, mas para levar alegria. Meu maior apostolado é o testemunho.

Diário - Que mensagem deixa para nossos leitores?
Padre Arnaldo - Assim como um provérbio de Einstein, mesmo que digam que não existem milagres, para mim tudo é milagre. É só fazer o pouco que está ao seu alcance. Deus é menos exigente do que somos uns com os outros. As dificuldades são oportunidades de crescimento e não castigo de Deus. Se eu não enfrentasse dificuldades até chegar à ordenação, não teria feito tudo o que fiz.

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