Agressão a Gabriel Marques Cavalheiro é confirmada, mas causa da morte ainda é desconhecida

Pâmela Rubin Matge

Agressão a Gabriel Marques Cavalheiro é confirmada, mas causa da morte ainda é desconhecida
Sem quaisquer previsões para a emissão do laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP), o qual deve apontar a causa da morte de Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, jovem sem antecedentes criminais, que foi abordado, espancado, levado por uma viatura da Brigada Militar (BM) e encontrado morto na localidade de Lava Pé, no município de São Gabriel, há mais de uma semana, o caso segue envolto de mistério e sem novas informações. Nesta sexta-feira (26) completam-se 15 dias do começo dos fatos e oito que corpo do jovem foi retirado de um açude. A revolta da população e a angustia famílias permanecem. 

O delegado regional Luis Eduardo Benites, que preside o inquérito da Polícia CIvil esclareceu que o prazo para a conclusão da perícia é de 30 dias. A partir do laudo do IGP, é que a Polícia Civil parte para fase de interrogatório dos três policiais suspeitos da morte de Gabriel: Arleu Júnior Cardoso Jacobsen, Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso. A coleta dessas informações podem implicar no pedido de reconstituição do crime, bem como de uma acareação. A prática da acareação prevê um confronto entre as partes, ou seja, suspeitos, testemunhas ou envolvidos no processo são colocados frente a frente para esclarecer divergências nas suas declarações. Por enquanto, Benites reitera que isso é apenas uma possibilidade, que será avaliada posteriormente:

– Todos os depoimentos feitos no Inquérito Policial Militar foram subsidiados à Polícia Civil. O que temos hoje é a prisão decretada dos policiais, a constatação da agressão a Gabriel e indícios de autoria para um homicídio doloso. O restante é possibilidade. As últimas diligências foram a apreensão de um carro e de armas na casa dos policiais.

Relato importante

A versão de como transcorreram os fatos entre a noite de 12 e a madrugada de 13 de agosto por meio do relato  da mulher que chamou BM quando Gabriel teria forçado o portão para entrar na casa onde ela mora, pode ser decisivo e mudar o rumo das investigações. Em pelo menos duas ocasiões, ela foi ouvida. Informações extraoficiais asseguravam que ela seria ouvida novamente quinta-feira (25), o que não foi confirmado nem descartado. Até o momento, a Polícia Civil informou que ela foi inquirida no último domingo. Já a  corregedoria-geral da BM confirmou que, na última quarta-feira, outros policiais prestaram depoimento na condição de testemunha, pessoas da comunidade, bem como a própria mulher, que depôs acompanhada por um advogado. O conteúdo de nenhuma oitiva foi informado. 

No depoimento de uma das testemunhas ouvidas pela Polícia Civil consta que o soltado investigado Cléber Renato Ramos de Lima teria dito que “caso não achassem o familiar dele (Gabriel) iriam largá-lo longe para não retornar mais para o local incomodar”.

O corregedor-geral da BM, Vladimir Luís Silva da Rosa, reiterou que o trabalho segue em curso, mas não adiantou detalhes. Ele disse não ter previsão para que os laudos dos IGP (viaturas, celulares e causa da morte do jovem) sejam concluídos, mas destacou que está sendo dentro do prazo legal e de modo que a celeridade não interfira em prejuízo na investigação:

– É um procedimento padrão e, por isso, foram ouvidas as guarnições de todos que estavam trabalhando nos dias 12 e 13 (agosto), pois é importante saber o que perceberam, qual a visão deles, assim como de outras pessoas, que, no  Direito, ajudam a refazermos o que chamamos de “rastro do crime”. A BM segue firme e buscando a verdade dos fatos. Somos uma instituição legalista, com 185 anos de atuação e pedimos que a população siga confiando no nosso trabalho. 

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O caso

Sexta completam-se 15 dias que Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, natural de Guaíba e sem antecedentes criminais desapareceu e oito dias que seu corpo foi encontrado. Ele foi visto vivo pela última vez entra a noite de 12 e a madrugada de 13 de agosto, no Bairro Independência, em São Gabriel. Segundo o relato de uma moradora, ela teria chamado a Brigada Militar (BM) após o jovem ter forçado a grade da casa dela e tentado entrar no local.

Ela mesma filmou parte do atendimento da BM. Os policiais foram até o endereço, abordaram, algemaram Gabriel e o colocaram no porta-malas da viatura. O corpo dele foi encontrado dia 19 de agosto, em uma barragem na região conhecida como Lava Pé. Os três policiais (Arleu Júnior Cardoso Jacobsen, Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso) que abordaram o jovem foram presos na sexta-feira (19) e estão no presídio militar em Porto Alegre desde então.

Investigações

Além do inquérito da Polícia Civil, que conta , o delegado José Soares Bastos, há uma investigação feita pela Corregedoria da Brigada Militar. A encarregada  pelo Inquérito Policial Militar (IPM) é a major Carla de Moura Incerti, cedida do Comando Regional de Polícia da Fronteira, sediado em Santana do Livramento.

Um despacho do processo que tramita no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ/RS)  traz trechos de depoimentos que integram a investigação da Polícia Civil e referem o jovem sendo espancando. A juiza designada é Juliana Neves Capiotti.O delegado Benites confirmou as agressões relatadas por testemunhas. O Ministério Público – representado pelos promotores Lisiane Veríssimo Villagrande da Fonseca e Diego Barros – acompanha o caso, mas não se pronuncia desde quarta-feira. 

Timeline Caso Gabriel de Diário de Santa Maria

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