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'O espírito é de gratidão pela vida preservada', relata freira amarrada durante assalto

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Foto: Renan Mattos (Diário)

Um dia após o assalto ao Provincialado Cristo Rei das Filhas do Amor Divino, na Rua Silva Jardim, as marcas da ação dos dois bandidos ainda são visíveis no interior da residência. Tais marcas são tanto físicas, com uma porta arrombada, gavetas reviradas e um computador danificado, quanto emocionais - as sete freiras amarradas durante a ação ainda estão chocadas com os momentos de apreensão vividos na tarde de segunda-feira.

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Uma irmã, de 82 anos, que prefere não se identificar, foi quem abriu a porta para um dos assaltantes e explica como tudo aconteceu. Por volta das 15h, um rapaz chegou pedindo se as irmãs recebiam doações, já que elas atuam em um projeto social no Bairro Nova Santa Marta que presta esse tipo de serviço. Com a resposta positiva, ele voltou mais tarde, às 15h44min, com uma cestinha de supermercado com algumas roupas.

- Eu abri a porta, peguei a cestinha. Então ele entrou, colocou a mão no meu ombro e disse assim: "mas escuta, é um assalto!". No começo nem me assustei, mas quando vi que ele tinha uma arma na mão fiquei assustada, me deu um calafrio - conta a freira.


Ela foi levada para a sala de convivência, ao lado da entrada. O homem pegou as chaves do Provincialado, o celular da irmã e danificou o telefone fixo do local. Logo depois, abriu a porta para o comparsa, que começou a revistar a residência. Em um quarto, pegaram lençóis e toalhas que utilizaram para amarrar as freiras, que chegavam aos poucos. Quatro vieram da rua e foram recebidas pelos bandidos. Outras duas estavam no térreo da residência e também foram trazidas e amarradas.


Foto: Felipe Backes (Diário)
Local onde ficaram as freiras amarradas durante a ação

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- As outras colegas iam chegando, que estavam fora, e quem abria a porta era ele. Uma que não entendeu direito o que estava acontecendo, ele pegou e jogou ela contra a porta e machucou um pouco o braço - relata a religiosa.

Enquanto um ficava vigiando as irmãs, portando uma arma que as religiosas descreveram como sendo um revólver, o outro buscava dinheiro e celulares pela residência. Como o Provincialado tem dois andares e uma casa em anexo, as freiras que estavam trabalhando em seus quartos, no segundo andar do anexo, não perceberam a ação dos bandidos.

- Uma irmã estava vindo da lavanderia e quando chegou no refeitório encontrou um deles. Ele perguntou pelo cofre, mas acho que a irmã não entendeu direito. Então ele pegou ela, com a roupa passada e trouxe para a sala. Mandou ela sentar e amarrou ela ali com as roupas que tinha acabado de passar. Tem uma irmã de 85 anos que veio ver, curiosa, o que estava acontecendo, e foi amarrada também - descreve a idosa.

No momento de maior tensão, o bandido chegou a ameaçar de morte uma das religiosas.

- Uma delas conseguiu se desvencilhar e entrou numa sala ao lado. Ela entrou e chaveou a porta. Quando o rapaz chegou e viu, ele quis entrar. Ele então começou a chutar e veio correndo contra a porta e meteu o pé na porta. Ele gritava: "abre aqui, abre aqui!". A porta entortou e a irmã não conseguiu mais abrir a porta. Ele contou até três e falou: "se você não abrir, eu vou te matar. Abre a porta que eu vou te matar!". Ela começou a gritar: "Pelo amor de Deus, não me mate, não consigo abrir a porta". Foi um pânico. Depois ela conseguiu abrir, mas a porta ficou arrebentada - descreve a freira de 82 anos.


Foto: Felipe Backes (Diário)
Detalhe da porta arrombada pelo bandido

O Provincialado não tem um cofre, mas o bandidos levaram cerca de R$ 2 mil, além de celulares. A ação durou em torno de uma hora, mas não foi captada pelas câmeras de segurança, já que os bandidos desconectaram o sistema de monitoramento assim que entraram no prédio.


Foto: Felipe Backes (Diário)
Computador da central de monitoramento foi danificado

Antes de ir embora, a dupla levou as sete freiras para a biblioteca, onde também fica o centro de monitoramento, e trancou a porta. Quem encontrou as irmãs foi outra religiosa, que trabalhava na casa anexa.

- Tinha um senhor na outra casa fazendo reparos na eletricidade. A irmã que estava acompanhando foi buscar uma lâmpada mas não encontrou ninguém, nem na cozinha, nem na lavanderia, o que não é normal. Quando ela viu que a porta da biblioteca, que fica sempre aberta, estava fechada, foi ver e encontrou as outras - conta outra irmã, de 48 anos, que estava na outra casa e não teve contato com os ladrões.

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Assustada, e achando que os bandidos permaneciam no local, a freira voltou para o segundo andar, se trancou em um quarto com as outras seis irmãs que lá estavam. Como não lembravam o número da Brigada Militar, solicitaram ajuda pela janela. Os transeuntes perceberam a movimentação e acionaram as autoridades, mas os bandidos já haviam escapado.

- Quando ficamos sozinhas na biblioteca, rezei muito, pensando nas outras e nas que estavam no andar de cima. Rezei para que elas não descessem para dar de cara com os ladrões - relata a freira de 82 anos.

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Apesar de toda essa situação, a idosa não culpa os bandidos.

- Eu não fiquei com ódio deles. Eu vi que aquilo não era certo, mas só Deus sabe. Entre nós todas, o espírito é de gratidão pela vida preservada, por não ter acontecido nada de grave. Vai ser complicado reaver os bens, trocar as chaves, e tem o dinheiro que a gente sua para ter, mas isso se readquire, se consegue de novo, mas a vida não volta mais - finaliza.

* colaborou Felipe Backes

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