"Nós nos despedimos dando um abraço longo e apertado, gesto universal que independe de língua, raça ou credo", Deni Zolin relata os últimos momentos em Marrakech

Durante os últimos dias, eu e o colega Gilberto Ferreira vivemos momentos inimagináveis em Marrakech, no Marrocos. Depois de uma riquíssima experiência de conversar com gente do mundo todo na 10ª Conferência Internacional de Geoparques Globais da Unesco (a gente tentava se entender em inglês, espanhol, português e até por gestos e sorissos), sentimos por cerca de 1 minuto uma sensação que ficará marcada para sempre na nossa memória. A Terra chacoalhou demais. Por alguns instantes, achei que o hotel iria mesmo desabar, pois o tremor era forte demais. Pensei que iria morrer ou ficar preso sob os escombros.


​Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp


Depois do minuto de pânico e de reencontrar Gilberto e os amigos gaúchos sãos e salvos, ficamos 40 horas sem dormir com receio de um novo tremor e para fazer a cobertura do evento da Unesco.


No sábado e no domingo, fomos à cidade antiga, nas Medinas (bairros fortificados há 1 mil anos, quando Marrakech era alvo de guerras e tentativas de invasão). Entramos em algumas casas centenárias que ruíram e onde pessoas morreram. Elas ficam em meio a vielas estreitas, onde há séculos passa o povo berbere (originário do Marrocos) e outras etnias.

Com ajuda de um guia turístico que falava inglês, conseguimos algumas informações a partir do que ele falava com os moradores. E nós, brasileiros, mesmo não entendendo nada do que eles falavam, tentávamos dar algum carinho e apoio, do jeito que podíamos. Um aperto de mão e um abraço forte era o que podíamos dar.


Encontramos o pai e a mãe de uma menina de 3 anos que morreu soterrada. Nos olhos do casal árabe, um sofrimento humano que qualquer um de nós percebe e nos faz sofrer juntos. Nós nos despedimos dando um abraço longo e apertado, gesto universal que independe de língua, raça ou credo.


Além do abraço no colega Gilberto logo após o pânico, o momento mais emocionante que tive foi quando o porteiro do hotel, um típico árabe de quase 70 anos, magrinho e barbudo, veio falar comigo em francês, ainda na madrugada do terremoto, quando passamos a noite em claro em frente ao hotel Rawabi. Tentamos nos entender e perguntar se estávamos bem. Nunca o tinha visto antes e acredito que nunca mais o verei. Não sei quantos filhos tem nem nada da sua vida. Lembrei e agradeci muito por ter minha esposa e meus filhos esperando em casa por mim e por ter ouvido suas vozes no telefone. 


Mas o fato de sermos humanos nos uniu naquele momento. Nós nos demos um abraço apertado e, pela primeira vez após o terremoto, o instinto de sobrevivência que me mantinha firme e alerta, foi-se embora. Chorei, agradecendo pela minha vida e de todos os amigos, seja conhecidos ou os marroquinhos desconhecidos, que se salvaram desse terremoto.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Depois de subir seis metros acima do nível normal, Rio Jacuí, em Agudo, recua; Defesa Civil mantém o monitoramento Anterior

Depois de subir seis metros acima do nível normal, Rio Jacuí, em Agudo, recua; Defesa Civil mantém o monitoramento

Chuva forte deve chegar ao Estado nas próximas horas; confira as regiões que apresentam riscos Próximo

Chuva forte deve chegar ao Estado nas próximas horas; confira as regiões que apresentam riscos

Geral