Durante os quatro anos, quatro meses e sete dias em que esteve à frente da 3ª Região Policial, que compreende Santa Maria e outros 20 municípios da região, o delegado Marcelo Mendes Arigony diz que "cumpriu sua missão". Ele afirma que fez o trabalho da melhor maneira possível, enfrentou desafios, sofreu críticas e até uma possível perseguição política. Desde 22 de dezembro de 2015, o delegado responsável pelo inquérito da tragédia da boate Kiss não é mais o titular da Delegacia Regional da Polícia Civil. Como o seu substituto ainda não havia sido nomeado, ele segue até a próxima segunda-feira como responsável. Em seu lugar, assume Sandro Meinerz, atualmente na Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec), que também atuou no inquérito da Kiss.
- Com a ascensão do partido do prefeito (o PMDB), que hoje comanda o Estado, no final do passado começaram a surgir notícias no sentido de que queriam que eu e o delegado Sandro saíssemos da cidade. Era muito claro. O poder público se sente perseguido até hoje, acham que fizemos o inquérito da Kiss com algum interesse, que pertencíamos a alguma partido. Nunca fui filiado a nenhum partido até hoje - diz Arigony.
Conforme o delegado, a partir dessas informações, ele pediu para ser transferido para a 1ª Delegacia de Polícia, que é responsável por casos ocorridos na região do centro da cidade. O seu desejo era ficar em Santa Maria, já que faltam pouco mais de quatro anos para sua aposentadoria, e ele poderia ser transferido da cidade, o que ele julgaria como sendo uma punição:
- Houve muita influência política para eu não permanecer e para o Sandro não assumir (a Delegacia Regional) - conta.
O delegado diz ainda que prefere não continuar como delegado na 1ª DP, já que a área compreende a prefeitura e a Câmara de Vereadores:
- Já tive problemas com o poder público municipal. Todas as ocorrências que envolverem a prefeitura e a Câmara vão cair na 1ªDP. Não que eu não me sinta isento, faria o meu trabalho da melhor maneira possível, mas poderia causar um desconforto. Achavam que eu tinha apego por esta cadeira, mas não tenho. Ser delegado regional é um fardo muito pesado - desabafa.
Trabalho na Delegacia Regional
Sobre o trabalho à frente da Delegacia Regional nesses mais de quatro anos, Arigony comemora o alto índice de resolução de casos graves, como homicídios e latrocínios. Por outro lado, lamenta o fato de que, mesmo que o trabalho tenha eficiência, isso não tenha reflexos na diminuição da criminalidade:
- Nesses quatro anos, tivemos um índice de esclarecimento dos crimes entre 85% e 90%. Isso demonstra que fizemos nosso papel. Mas a criminalidade tem aumentado muito, principalmente em relação aos adolescentes, que estão envolvidos em boa parte dos crimes. A polícia nunca foi tão efetiva em número de prisões e elucidação dos casos, mas o crime não cede - lastima Arigony.
Além da preocupação com a investigação policial, faz parte das atribuições do delegado regional a gestão administrativa na região em que é responsável. Para Arigony, esse é o maior desafio de Meinerz, já que o Estado vive tempo de cortes no orçamento para a segurança pública.
- São vários desafios, mas o principal é fazer a gestão com todas essas questões de recursos, com redução para combustível, para diárias, ameaças de não pagar o salário em dia. Estamos vivendo um momento difícil para a polícia, vai ser uma gestão difícil pela carência de recursos - opina.
Sobre o inquérito na tragédia da boate Kiss, que, para Arigony, foi o maior da história da Polícia Civil gaúcha, o delegado diz estar tranquilo com os apontamentos que fez, mesmo que tenha sido criticado por alguns, que, segundo ele, teriam interesse no caso:
- Fizemos o inquérito da maneira mais pública possível. A imprensa viu, passo a passo, tudo que fizemos. A imprensa é a coisa mais essencial do Estado Democrático. Existe