habitação

145 famílias de Santa Maria vivem em zonas consideradas de risco pela Defesa Civil

Dandara Flores Aranguiz

Fotos: Renan Mattos (Diário)
Moradores de zonas mais elevadas, como no Bairro Campestre do Menino Deus (foto), convivem com a iminência de deslizamento de terra em dias de chuva forte

Além de ser cercada por morros e encostas, Santa Maria também tem como característica ser uma cidade que é repleta de sangas, afluentes de água, córregos, riachos e arroios. Ao longo dos anos, com o crescimento da população e com o movimento de urbanização - que, na maioria das vezes, foi feita de forma não planejada -, os desastres naturais e incidentes causados pelas chuvas tornaram-se mais frequentes.

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A Defesa Civil de Santa Maria não precisa quantas pessoas atualmente vivem em áreas consideradas de risco na cidade. No entanto, o Executivo afirma que, no último levantamento do Plano Municipal de Redução de Risco, havia pelo menos 22 locais nessa situação. Ainda de acordo com a prefeitura, há 145 cadastros de famílias que buscam ser beneficiadas com programas habitacionais e que moram em zonas classificadas como perigosas.

Foi pensando nesse cenário preocupante que a Defesa Civil municipal desenvolveu uma cartilha, disponível na internet, com orientações gerais à população - principalmente às que vivem nessas regiões - sobre como agir em caso de desastres naturais, como vendavais, inundações, alagamentos, deslizamentos e chuva de granizo (confira, abaixo, as dicas).

- Procurei montar algo para que a população possa compreender cada um desses eventos naturais, e que possa ter o mínimo de preparo antes, durante e depois da ocorrência, saber como agir para se proteger. Mas essa é a primeira etapa. Ainda quero ver esse guia sendo entregue à população que vive nas áreas desprotegidas, para que eles mesmos possam fazer essa prevenção - afirma Cladmir Cordeiro do Nascimento, coordenador da Defesa Civil de Santa Maria e responsável pela elaboração do material.

A Defesa Civil monitora de perto algumas das regiões próximas a encostas de morros e margens do Rio Vacacaí-Mirim (veja, abaixo, as principais), além de áreas de alagamento, que variam de acordo com os eventos climáticos.

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O pai de seu Avanir Luis de Oliveira Rosa, 71 anos, foi um dos primeiros moradores a construir uma casa na região ao pé do Morro do Cechella, no Bairro Itararé. O pedreiro aposentado mora há quase 40 anos na Vila Bela Vista, um dos espaços monitorados em função do risco de deslizamentos de terra. Hoje, depois de morar em outros bairros da cidade, ele retornou à região e está construindo um "puxadinho" aos fundos da casa do irmão, na Rua dos Canários.

- Aqui era uma pedreira. Quando começaram a abrir, tiraram um monte de pedra daqui. Agora, eu que emparelhei o terreno e estou fazendo uma peça. Eu fiz tudo na base da pá e do picão. Tudo nós que cavocamos. Como é pé de cerro, é bem molhado, úmido. Documento ninguém tem nada. É ruim, mas para a gente que não tem dinheiro para comprar um lugar bom, tem que arrumar onde ficar - relata Avanir.

A Central de Monitoramento 24 horas recebe chamados da população pelo telefone 153. Hoje, quem faz esse serviço é a Guarda Municipal, que aciona a Defesa Civil, se necessário. O mesmo serviço é feito pelo Corpo de Bombeiros, que entra em contato com o órgão em caso de desastre.

AS PRINCIPAIS ÁREAS MONITORADAS
Rua Canário, Vila Bela Vista, Bairro Itararé

  • Construções feitas de maneira irregular e sem planejamento na encosta do Morro do Cechella expuseram o solo, causando erosão. Em épocas de chuva intensa, há risco de desmoronamentos e deslizamentos de terra

Rua do Monumento, Bairro Campestre do Menino Deus 

  • Há três anos os moradores começaram a ocupar a área de encosta do Morro do Link, em ruas e vias que dão acesso ao Monumento do Ferroviário. Como muitas árvores foram retiradas para a construção das casas, a área de declive acentuado também concentra riscos de desmoronamentos e deslizamentos de terra

Travessa K, Vila Schirmer, Bairro Presidente João Goulart 

  • Região de construções muito próximas ao Rio Vacacaí-Mirim. Segundo a Defesa Civil, em função do desmatamento e retirada da mata ciliar, a área a jusante (ponto mais baixo em que se dá o fluxo de água normal) da barragem do DNOS (de onde vem a corrente do rio) está mais larga e há diversos pontos em que já é possível visualizar o assoreamento, processo em que se observa acúmulo de detritos, lixo ou entulhos e pode provocar o transbordamento e inundações em casas próximas às margens

Vila Bilibio, Bairro Km 3 

  • O local, que também fica às margens do Rio Vacacaí-Mirim, sofre há anos com os mesmos problemas. É formado por áreas de encosta inclinada, com erosão e dificuldade de drenagem, blocos de rochas suscetíveis a deslizamentos de terra e áreas de alagamento na parte mais baixa do terreno. A maioria das casas foi construída em desacordo com a legislação ambiental e com o código florestal, que estabelece um limite de 30 metros para construção à margem de qualquer curso d'água

Balneário Passo do Verde, distrito de Santa Maria 

  • Cerca de 100 famílias que residem no local são monitoradas em função do risco de alagamentos e enchentes em épocas de chuva intensa. Quando a barragem do Rio Vacacaí, em São Gabriel, enche, a água desce, o nível do rio sobe e atinge as construções próximas às margens

INVESTIMENTOS EM DRENAGEM URBANA EVITARIAM ALAGAMENTOSÉrica da Silva, que reside na Vila Schirmer, mora ao lado de onde cruza parte do Rio Vacacaí-Mirim

Outro problema que atinge as populações que vivem em áreas próximas a rios e riachos são os alagamentos. O Rio Vacacaí-Mirim, que atravessa Santa Maria (desde o Campestre do Menino Deus até Camobi), tem em suas margens diversas moradias que não obedecem a distância mínima de preservação estabelecida pelas legislações ambientais.

- Toda essa área é considerada de risco. O código florestal estabelece que não deve haver construções a menos de 30 metros do curso d'água, que são áreas de expansão. Uma vez que esses critérios não são obedecidos, as pessoas que estão dentro dessa área estão se expondo a um risco, que são os casos dos alagamentos - aponta Cladmir.

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Além disso, para o coordenador da Defesa Civil de Santa Maria, os alagamentos em áreas urbanas também são reflexo da deficiência do sistema de drenagem:

- A drenagem urbana foi feita para uma população que hoje já é quase 10 vezes maior do que era. Cada prefeito que passa tenta melhorar alguns aspectos, mas essa é uma área que precisa de investimentos pesados, são obras que não têm um impacto visual. Então, o gestor, que sobrevive de questões políticas, dificilmente investe grandes recursos nessa área. Para não fazer o redimensionamento de toda a cidade, alguns municípios brasileiros investiram em bacias de retenção de águas superficiais, que estão dando bons resultados.

Érica da Silva, 37 anos, mora na Travessa K, na Vila Schirmer, Bairro Presidente João Goulart. Um barranco e uma pequena área de cinco metros separam o terreno da casa onde mora com o filho e o marido há 14 anos. Do outro lado, passa o Rio Vacacaí-Mirim. O local é monitorado pela Defesa Civil principalmente pelo risco de alagamento e enchente após fortes temporais, que fazem com que o rio transborde.

- Já nem é mais rio, "tá" virado numa sanga isso aqui. De tanta terra e lixo que se acumulou do outro lado, ele tá mudando o curso e vindo todo para esse lado, do terreno. Eu morava na parte mais debaixo do pátio, mas tivemos que mudar a casa para mais para cima para não alagar se der enchente. A gente que foi plantando algumas árvores para poder segurar, porque não tem sido feito nada para manter ele no curso - comenta a atendente, que diz já ter recuado a cerca do terreno em 1,5 metro por conta dos alagamentos.

O QUE FAZER
A Defesa Civil de Santa Maria elaborou um guia com orientações em casos de vendaval, inundações e alagamentos, deslizamento de terra e chuvas de granizo. Confira:

Vendaval
O que fazer antes

  • Revisar o local onde se encontra, principalmente o telhado
  • Desligar os aparelhos elétricos e o gás
  • Fechar janelas, portas externas e internas para evitar que o vento circule dentro de casa
  • Verificar e, se for o caso, desobstruir as bocas de lobo próximas ao local onde de encontra
  • Evitar o descarte de lixo na rua
  • Jamais se proteger debaixo de árvores ou próximo de placas de sinalização ou propaganda

O que fazer depois 

  • Ajude na limpeza e recuperação da área onde se encontra, começando pela desobstrução das ruas e vias
  • Ajude os vizinhos que foram atingidos
  • Evite o contato com cabos ou redes elétricas (nesse caso, avise os Bombeiros ou Defesa Civil)
  • Evite andar descalço 

Inundações e alagamentos
O que fazer antes

  • Não deixar crianças em casa trancadas sozinhas
  • Separar água potável, roupa e remédios, caso tenha que sair rápido de casa
  • Coloque documentos e objetos de valor em um saco plástico bem fechado e em local protegido
  • Desconecte os aparelhos elétricos da tomada para evitar curtos-circuitos
  • Não construa próximo a córregos que possam inundar ou em cima de barrancos que possam deslizar
  • Retirar o lixo e levar para áreas não sujeitas a inundações
  • Fechar bem portas e janelas
  • Limpar o telhado e as canaletas para evitar entupimentos
  • Verificar e, se for o caso, desobstruir as bocas de lobo próximas ao local onde de encontra
  • Não descartar lixo em bueiros, nem madeiras, móveis ou materiais em locais que impedem o curso da água

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O que fazer depois 

  • Enterre animais mortos e limpe os escombros e lama deixados pela inundação
  • Lave e desinfete os objetos que tiveram contato com as águas de enchente
  • Verificar se a casa não corre risco de desabar
  • Raspe a lama e o lixo do chão, das paredes, dos móveis e utensílios
  • Cuidado com aranhas, cobras, escorpiões e ratos ao movimentar objetos, móveis e utensílios. Tenha cuidado com animais venenosos, pois eles procuram refúgio em lugares secos
  • Nunca beba água de enchente ou coma alimentos que estavam em contato com a água (se for o caso, solicite abastecimento de água para consumo à Defesa Civil)
  • Água para limpeza e desinfecção das casas, prédios ou ruas deve ter a seguinte dosagem: 1 litro de hipoclorito de sódio para 20 litros de água, ou 1 litro de água sanitária para 5 litros de água

Deslizamento de terra 
O que fazer antes

  • Se você observar o aparecimento de fendas, depressões no terreno, rachadura nas paredes das casas, inclinação de troncos de árvores e postes, o surgimento de minas d'água, avise imediatamente o Corpo de Bombeiros ou Defesa Civil
  • Avisar os vizinhos sobre os perigos
  • Convencer as pessoas que moram em áreas de risco a saírem de casa durante as chuvas
  • Elaborar, junto com a comunidade local, um plano de evacuação
  • Não destrua a vegetação das encostas
  • Construa canaletas para condução das águas
  • Não junte sujeira ou lixo em lugares inclinados
  • Não faça cortes em terrenos de encosta, para evitar o agravamento do declive
  • Barreiras devem ser protegidas com vegetação que tenham raízes compridas, gramas e capins que sustentam mais a terra
  • Em morros e encostas, não plante bananeiras ou outras plantas de raízes curtas, porque as raízes dessas árvores não fixam o solo e aumentam os riscos de deslizamentos

O que fazer depois 

  • Não se arrisque sem necessidade, não entre no local do desastre
  • Não permita que crianças e parentes entrem no local do desastre
  • Não conteste as orientações do Corpo de Bombeiros ou da Defesa Civil

Granizo
O que fazer durante

  • Abrigue-se da chuva torrencial, mas evite ficar debaixo de árvores ou coberturas metálicas, pois há risco de queda
  • Não estacione próximo a torres de transmissão e placas de propaganda, pois podem cair com os ventos fortes
  • Tenha cuidado com obras de construções inacabadas

Contatos de emergência

  • Defesa Civil Municipal - (55) 3222-5192 
  • Central Municipal de Monitoramento 24h - 153
  • Defesa Civil Estadual - (51) 3210-4219 ou 199

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