"Meu nome é Ana Raquel Santos da Trindade. Estou no momento presa no Presídio Feminino de Florianópolis. Tenho 29 anos, aguardo julgamento por homicídio... Minha história começa em fevereiro, ou início de março de 2013. Creio que agora que o Renato morreu posso correr o risco de contar o que eu vivi".
É assim que a massoterapeuta santa-mariense começa a contar o seu drama em uma carta escrita em papel higiênico, no Presídio Feminino de Florianópolis, onde ficou 24 dias e saiu na última terça-feira sob aplausos das detentas. Ela ficou conhecida depois de atirar 12 vezes contra o ex-namorado que ela considera um torturador, e não alguém com quem teve um relacionamento , acertando nove tiros.
O fato ocorreu na casa onde ela morava, na praia de Ingleses, em Florianópolis (SC), em 16 de novembro. O empresário Renato Patrick Machado de Menezes, 35 anos, morreu no último dia 5. Ana Raquel responde pelo crime em liberdade.
Para a psicóloga clínica Maisa Brauner Velasquez, o grau de tortura física e psicológica ao qual Ana Raquel diz ter sido submetida pode ter feito com que ela não encontrasse outra forma de se defender.
Provavelmente, ela estava em uma situação de desespero tamanho que sentia, ao mesmo tempo, medo, ansiedade e pressão. Isso pode levar alguém a fazer aquilo que não quer, como matar alguém. Ela pode ter perdido o controle a ponto de nem se dar conta que tinha atirado tantas vezes diz a psicóloga.
Ana Raquel não fala sobre a origem da arma, mas diz que a comprou para se defender e para proteger o filho, de 5 anos a jovem fez pelo menos 20 ocorrências policiais contra o empresário. Ela afirma que era tratada como uma escrava sexual.
A delegada Débora Dias, da Delegacia para a Mulher de Santa Maria, encoraja as mulheres vítimas de violência a procurarem a polícia nesses casos:
A mulher deve buscar ajuda, não deve viver a situação de violência sozinha, porque o agressor se sente fortalecido.
Confira, abaixo, uma entrevista com Ana Raquel:
Diário de Santa Maria Como vocês se conheceram?
Ana Raquel Santos da Trindade Eu trabalhava com massagens tântricas. É um tipo de massagem que trabalha com a energia sexual da pessoa. Infelizmente, muita gente confunde com prostituição, mas não é. O Renato entrou em contato comigo para trabalhar com ele em Curitiba, disse que estava montando uma nova equipe por lá. Ele foi me buscar na rodoviária e, depois, sumiu por uns três dias. Quando ele voltou, primeiro, disse que ia fazer uma massagem em mim. E confiei, em princípio, ele era o meu chefe. Não imaginava que ele estava drogado e que eu seria estuprada. Fui dopada, trancada no quarto, lembro dele em cima de mim tendo relações comigo. E ele não era o único. Várias vezes, ele trazia alguns amigos que pagavam para ele para ter relações comigo. Eu estava fraca demais para conseguir reagir.
Diário Você não tentou fugir?
Ana Ele me ameaçava. Ameaçava matar a minha família, o meu filho. Várias vezes, pedi para me matar, mas ele dizia que eu estava dando lucros para ele. Quando eu me comportava, ele deixava eu ligar para o meu filho uma vez por dia e mandava eu entrar no Facebook e colocar alguma coisa para as pessoas acharem que eu estava bem. Tudo monitorado por ele. Passei a colaborar. Eu era a escrava sexual dele. Então, ele fez eu me relacionar com ele ou mataria o meu filho.
Diário Por que ele fazia isso com você?
Ana Ele achou um jeito fácil de ganhar dinheiro: fazer as terapeutas sexuais, como nós chamamos quem trabalha com massagem tântrica, se prostituírem. Eu não aceitava isso. Como eu sabia que ele estava metido com isso, ficava me ameaçando. Via ele enrolar as terapeutas. Ele manipulava as pessoas. Elas t