Série Perfil dos Vereadores

Médica, terapeuta sexual e, agora, vereadora em Santa Maria

José Mauro Batista

Estreante na Câmara de Vereadores, a médica Maria Aparecida Brizola Mayer, 56 anos, conquistou seu primeiro mandato no ano passado ao se eleger pelo Partido Progressista (PP) com 1.759 votos, a 18ª mais votada entre os 21 parlamentares da atual legislatura. 

Drª Cida Brizola, como é conhecida, é obstetra e ginecologista, além de sexóloga e terapeuta sexual. Ela nasceu em Seberi, região noroeste do Estado, e aos 18 anos veio para o Coração do Rio Grande para fazer faculdade. Foi acolhida na casa dos pais do funcionário federal aposentado Marne Franco Rosa, suplente de vereador pelo antigo PFL nos anos 90, hoje radicado em Balneário Camboriú (SC).

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Cursou um ano de odontologia, mas, em 1983, entrou no curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Depois de formada, especializou-se como ginecologista e obstetra na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), campus de Pelotas, e em Brasília. 

Já em São Paulo, especializou-se em terapia sexual. Antes de se dedicar exclusivamente à Medicina, deu aula por 10 anos em duas escolas estaduais. Em 1994, passou num concurso para a área de saúde da Secretaria Estadual de Educação (médica de Saúde Escolar). Foi a partir dessa função que Cida se tornou palestrante, abordando questões como planejamento familiar e abuso de drogas, capacitando professores, alunos e pais. 

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Como sexóloga, a médica e vereadora trata, de forma clara, de assuntos polêmicos e de tabus, como prazer e perda do desejo sexual. Ela aborda esses temas, conforme o público, mas diz que não foge de respostas a perguntas feitas principalmente por adolescentes.

– Dá para falar sem rodeios – garante ela.

Na Casa de Saúde, Cida é plantonista na área obstétrica. Nessa especialidade, ela acredita ter feito dois mil partos durante a carreira. O que mais marcou foi o nascimento de um bebê na Santa Casa de São Gabriel, em 2012, fato que ganhou repercussão na imprensa. Segundo ela, o bebê com 6,5 kg seria o segundo mais pesado do mundo. Ela também trabalha como ginecologista na Unidade de Saúde do Bairro Tancredo Neves.

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Como integrante da Comissão de Saúde da Câmara, Cida faz um diagnóstico de que "falta um pouco de cada coisa na área de saúde pública, mas, com esforços, a situação vai melhorar" (leia entrevista completa abaixo). 

No Legislativo, ela também atua na comissão especial dos carroceiros, criada por iniciativa dela. Sobre o trabalho de quem depende de carroça e cavalo para sobreviver, a vereadora defende um debate mais amplo, envolvendo a questão do tratamento de lixo.

– Os carroceiros são de difícil acesso, temem que a gente vá mexer para piorar. É uma questão complexa e precisamos de planejamento. Não se resolve a curto prazo, mas tem que mudar. A população tem que entender que a saúde também passa por aí – destaca a vereadora, contando que se comoveu ao ver um menino dentro de um contêiner catando material reciclável.

 Da sala de aula para a Tribuna da Câmara de Vereadores

CTG, RELIGIÃO E POLÍTICA

Apaixonada pela cultura gaúcha, a vereadora faz parte do CTG Sentinela da Querência, onde integra um grupo de dança. Em termos de religião, a vereadora se assume como espírita kardecista, mas conta que já foi de Umbanda, religião praticada pela família que a acolheu em Santa Maria. No entanto, ela faz uma ressalva:

– Frequento todas as religiões e sempre digo para meus assessores que nada é por acaso – explica.

O ingresso na política veio pelo incentivo de um amigo que apresentou Cida ao então prefeito de Santiago, Júlio Ruivo, do PP. O apego pela política, no entanto, tem outra origem, no caso os líderes trabalhistas Getúlio Vargas e Leonel Brizola, ambos do antigo PTB.

 Do posto de saúde para a Câmara

– Gostava muito do Brizola. Pena que não foi presidente da República – lamenta a agora progressista.

ENTREVISTA

Diário de Santa Maria – Como a senhora entrou na política?
Cida Brizola
– Meu pai, Amazonas Cândido Mayer, foi subprefeito de Seberi, na época em que pertencia a Palmeira das Missões. Em 1960, ele participou da emancipação de Seberi. Ele era getulista e a minha mãe é prima do Brizola (ex-governador Leonel Brizola). Minha veia política vem daí. Em Santa Maria, um amigo, João Francisco Sarturi , me instigou. Em um evento do PP, no Clube Comercial, onde estava a senadora Ana Amélia Lemos, candidata do partido ao governo do Estado, esse amigo me apresentou ao então prefeito de Santiago, Júlio Ruivo. Antes eu já havia sido convidada pelo Dr. Farret (ex-prefeito José Haidar Farret). Aí, depois desse incentivo, montamos uma equipe de trabalho e eu resolvi me candidatar.

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Diário – Quais os principais problemas de saúde de Santa Maria?
Cida
– A saúde é uma rede e, se um lado não vai bem, o outro também não. Há problemas na atenção primária e na saúde mental. Há falta de leitos de UTI. Para a Casa de Saúde, por exemplo, o Estado deve dinheiro. O Sistema Único de Saúde (SUS) não tem verbas e onde um lado trava, trava todo o resto. Falta um pouco de cada coisa, mas vai melhorar. Há esforços para isso e acredito que vamos avançar porque Santa Maria tem excelentes profissionais. Não é falta de qualidade, é falta de quantidade, e é aí que falta o dinheiro.

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Diário – Como abordar perguntas das crianças sobre sexo?
Cida
– Para as crianças de 8, 9 anos, nas palestras, eu falo sobre o cuidado com o corpo, mas tem crianças que parecem ter 18 anos de tanto que sabem. E também falo bastante para adolescentes. No caso dos pais, quando uma criança faz uma pergunta, não dá para deixar para depois, se não ela vai aprender na rua. À medida em que a própria TV aborda cada vez mais esses temas, dá para falar, sem rodeios. No entanto, as mães é que sempre acabam explicando para o filho ou para a filha porque os homens têm vergonha, você não imagina. Diante de uma pergunta do filho homem mesmo, o pai diz: "pergunta para a tua mãe". Nas palestras sempre levo camisinha para falar sobre prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Seja sobre DST ou outros assuntos, o diálogo e a conversa franca são a melhor solução. Precisamos sempre falar abertamente sobre esse tipo de assunto.

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Diário – A senhora sugeriu lei sobre transparência nos postos de saúde. O que pretende?

Do microfone do rádio para a tribuna da Câmara de Vereadores

Cida – O projeto que apresentei dispõe sobre a obrigatoriedade de fixação de informação do nome dos médicos, especialidade, dias e horários de atendimento e número de fichas disponíveis por dia, nos estabelecimentos de saúde da rede pública municipal. É um projeto de sugestão envolvendo a transparência nas unidades de saúde e foi feito no intuito de defender o princípio constitucional da publicidade da administração pública. O direito à informação, à divulgação oficial das atividades prestadas, dos atos e das decisões, é uma qualidade da ética. A transparência atesta a eficácia do serviço público. E isso em todas as esferas.

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