Série: Perfil dos Vereadores

Do posto de saúde para a Câmara

Em seu segundo mandato como vereadora na Câmara de Santa Maria, a médica pediatra Deili Granvile Silva, a Drª Deili, é uma das parlamentares que mais faz cobranças e críticas à prefeitura, mesmo sendo da base governista. 

Foto: Gabriel Haesbaert / NewCO DSM

Reeleita no ano passado para o seu segundo mandato pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), com 1.797 votos, Deili é a 17ª em votação entre os 21 da atual legislatura e afirma que sua posição é de "independência" em relação ao Executivo, o que justifica suas cobranças tanto ao governo do ex-prefeito Cezar Schirmer (PMDB) e quanto ao atual, Jorge Pozzobom (PSDB), ambos integrados por seu partido.

Deili conta que sua família teve políticos ligados ao trabalhismo (um tio que foi prefeito em Santo Augusto, e um primo que foi deputado federal e secretário de Estado, pelo antigo PTB), mas só entrou na política para concorrer nas eleições municipais de 2012. 

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Vereadora ´é médica pediatra no posto de saúde do Bairro Itararé e na Casa de Saúde, e plantonista no Hospital da Unimed Foto: Gabriel Haesbaert / NewCO DSM

Na época, o presidente do PTB, Ali Ramadan, coordenava a unidade de saúde do Itararé, onde ela trabalha, e numa conversa Deili mostrou interesse em concorrer.

– Foi um espanto geral – lembra, ao referir-se à repercussão do seu ingresso na política por colegas e comunidade.

Nas duas campanhas, contou com o apoio do casal de filhos, Luís Felipe, 29 anos, e Maria Antônia, 17. Sobre seu futuro político, a vereadora não descarta concorrer à Assembleia Legislativa, mas jura que não quer ser prefeita.

– Não almejo porque tenho pena dos prefeitos. Eles têm que fazer acordos e ficam atrelados – justifica a petebista.

EXPERIÊNCIA DE VIDA

Antes de entrar na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 1979, onde se formou em 1984, Deili tinha dúvidas entre Direito e Matemática. Prevaleceu a opção por cursar Medicina, sonho que o pai, militar, gostaria de ter realizado.

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Integrante da Comissão de Saúde da Câmara, a petebista vê problemas na atenção básica. 

Se questões simples fossem resolvidas na atenção primária (postos de saúde), diz, as unidades de pronto-atendimento, hospitais e pronto-socorro não estariam lotados.Em 

Em sua atuação parlamentar, a vereadora Deili Silva se considera "independente" e fiscalizadora do Executivo Municipal Foto: Gilvan Ribeiro / Divulgação

Deili está licenciada do posto de Saúde do Itararé, mas continua no Hospital Dia da Unimed, onde é plantonista, e na Casa de Saúde. 

Por 22 anos foi legista no Instituto Médico Legal (IML, hoje Departamento Médico Legal), órgão responsável por exames de lesões corporais e por laudos de cadáveres.

A médica-vereadora se descreve como técnica, que age mais com a razão do que com a emoção, embora admita que, muitas vezes, teve vontade de chorar ao examinar corpos de crianças violentadas ou mortas. 

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A experiência mais chocante foi na tragédia da Kiss, onde ela fez a inspeção (termo técnico) em vítimas do incêndio e deparou com corpos de pacientes que viu nascer e crescer.

Há 14 anos, ela própria quase viveu uma tragédia, quando o filho sofreu um acidente com arma de fogo e ficou paraplégico (perdeu o movimento das pernas), o que a fez repensar a questão da liberação de armas. 

A vereadora já praticou hidroginástica, mas hoje faz caminhadas. Fora do trabalho, prioriza a convivência familiar.

– Gosto de séries de tramas policiais e de um bom chimarrão – revela Deili, que passa os momentos de descanso em sua residência, em meio à natureza, no Bairro Campestre do Menino Deus.

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ENTREVISTA

Diário de Santa Maria – O PTB é governo, mas a senhora é a vereadora com maior número de requerimentos cobrando explicações e providências à prefeitura. A senhora não está mais para o bloco de oposição do que para o de situação?
Deili Granvile Silva – Só em pedidos de providências e informações tenho mais de 1 mil ofícios, e muitos são a respeito de leis que não são cumpridas, programas e verbas. Quanto ao governo, temos boa relação. Eu me elegi para dar a minha contribuição à cidade e não para exigir mais cargos. Isso me deixa tranquila. Um dia, o Jorge me perguntou: "Tu tá de mal comigo?". Conheço o prefeito Jorge Pozzobom há mais de 20 anos e sempre fui clara que não sou oposição nem situação. O vereador tem que fiscalizar. Estamos muito longe de exercer a verdadeira cidadania.

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Diário – Como médica pediatra e integrante da Comissão de Saúde da Câmara, quais são, na sua avaliação, os principais problemas na área em Santa Maria?Deili – Na minha opinião, falta atenção básica, há um déficit muito grande na pediatria nas unidades de saúde, o que leva a várias situações que poderiam ser prevenidas, como verminose, erros alimentares, desmame precoce, obesidade infantil, desnutrição, déficit de aprendizagem e transtornos emocionais. Isso tudo leva ao acúmulo de pacientes na UPA e no Pronto-Atendimento Municipal.

Ao falar sobre seu futuro político, vereadora Deili Silva não descarta concorrer a deputada, mas não pretende ser prefeita Foto: Gabriel Haesbaert / NewCO DSM

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Diário – A senhora se afastou do posto do Itararé. Como foi a reação da comunidade?
Deili – Estou em licença para mandato eletivo. Tive que abdicar de consultório, e ainda trabalho na Casa de Saúde e sou plantonista do Hospital Dia da Unimed. Trabalhei por 14 anos na unidade de saúde do Itararé e sei que meus pacientes se sentiram muito tristes, mas tive que fazer uma opção. Após 30 anos de pediatria, eu estava bastante estressada, esgotada emocionalmente. O pediatra não atende só a criança, atende a família inteira. É o psicólogo da família, porque a criança é o reflexo do lar.

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Diário – Além de pediatra, a senhora foi médica legista. Como é encarar a morte todos os dias? 
Deili – Trabalhei como legista por 22 anos, fazendo exames de lesão corporal e necrópsia. Sempre enfrentei a morte naturalmente, raramente tinha envolvimento emocional. Mas ficava muito chateada com mortes de crianças. Na tragédia da Kiss, eu trabalhei das 7h às 22h e saí arrasada. Fui convocada e fiz a inspeção externa de uns 40 corpos. Nessa situação me deu vontade de chorar, levei um baque, havia muitos pacientes meus entre as vítimas, crianças que vi nascer e crescer. Mas quando entrei no CDM, onde estavam os corpos, pensei: "a Deili pessoa fica aqui, do lado de fora, e entra a Deili técnica, para fazer o trabalho técnico, que precisava ser muito técnico e ágil, em respeito aos familiares".

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