Coluna Tecnologia

Dez anos de smartphone: a revolução em nossas vidas

Voltemos 11 anos no passado, para o último semestre de 2006. Naquela época, rolavam boatos de que a empresa de tecnologia Apple finalmente entraria no mercado de celulares nos próximos meses. Até então, a empresa trabalhava basicamente com computadores de mesa, notebooks e com o tocador de música digital iPod, sucesso absoluto de vendas nos últimos seis anos e, para muitos, o produto responsável por iniciar a grande transição da era dos computadores pessoais para a era dos aparelhos móveis.

Eis o primeiro iPod, com controles físicos (no plástico)


Foto: Reprodução / Reprodução

Pulamos para o dia 9 de janeiro de 2007. Jornalistas e fãs da Apple se aglomeravam no centro de convenções em que era realizado o "Macworld", um evento anual em que a empresa costumava apresentar seus próximos lançamentos na indústria da tecnologia. Steve Jobs, chefe da empresa, estava prestes a entrar no palco para apresentar a mais "nova novidade": seria um novo iPod? Um novo computador? Seria, finalmente, um celular?

Jobs entra no palco e começa a falar. Jornalistas e fãs frenéticos fotografam sem parar com suas câmeras digitais e descrevem o acontecimento em seus notebooks. Já nos primeiros minutos, Jobs anuncia:

"Hoje, vamos apresentar três produtos revolucionários. O primeiro: um iPod de tela larga com controles no toque da tela. O segundo: um celular revolucionário. O terceiro: um avançado comunicador para internet".

Enquanto a plateia aplaudia, Jobs continuava repetindo: "um iPod, um celular, um comunicador para internet. Um iPod, um celular, um comunicador para internet. Um iPod, um celular, um comunicador para internet...". A cada repetição, a salva de palmas aumentava o tom porque mais e mais presentes compreendiam a razão da repetição insistente: os três produtos revolucionários eram, na verdade um só: o iPhone.

  1. Vídeo da apresentação

Talvez, o mais curioso da apresentação é perceber a reação de surpresa da plateia quando Steve Jobs demonstra ações que hoje são tão banais, como empurrar para baixo uma lista de nomes com o próprio dedo, trocar uma foto na galeria empurrando ela para o lado ou aproximar uma foto usando o gesto de pinça. Imagine: tais ações banais foram apresentadas como grande novidade há meros dez anos atrás.

A icônica apresentação do iPhone se tornou em um marco na história da tecnologia. Não só pela qualidade da apresentação em si, mas, principalmente, porque ali o mundo finalmente conheceria o produto que mudaria para sempre as vidas das pessoas... mesmo as vidas daquelas que nunca comprariam um iPhone.

No dia 29 de junho de 2007, há (quase) exatos dez anos, os iPhones começaram a ser vendidos no mercado. Até então, os smartphones (termo já usado na época) eram celulares com um teclado de plástico, uma pequena tela monocromática e muitas limitações de comunicação com a internet. Além disso, os aplicativos eram extremamente básicos, tais como calculadoras e agendas, e eram de difícil manuseio. Por isso, muitos creditam o iPhone como o verdadeiro primeiro smartphone do mundo. O impacto do aparelho foi tão grande que, a partir do seu lançamento, as outras empresas passaram a tomar o seu formato e funcionamento como padrão industrial de celulares.

  • Antes e depois do iPhone:


Foto: Reprodução / Reprodução

E por que um smartphone viria a mudar tanto o mundo nos anos seguintes? Seria pela tela grande, pelos controles touchscreen, pelos gestos com os dedos? Qual é o seu palpite?

Alguns dizem que o motivo da revolução foi a facilidade de uso. Outros, dizem que foi o apelo da tela touchscreen. Na minha opinião, a principal razão do smartphone ter revolucionado o mundo foi o fato de ter sido o aparelho que tornou a computação e a comunicação naquilo que chamamos de ubíquo.

No dicionário Michaelis, "ubiquidade" significa: qualidade do que está ou existe em todos ou em praticamente todos os lugares. O smartphone fez com que o ser humano pudesse usufruir dos poderes da computação e da comunicação em qualquer lugar que ele esteja.

Antes, os celulares eram dispositivos que uniam a voz de um com o ouvido de outro. Hoje, o smartphone é um poderoso computador portátil que pode processar infinitas soluções, tão infinitas quanto o número de ideias que um cérebro humano pode gerar. Em outras palavras: o smartphone é uma forma portátil de executar soluções que, a cada dia, são inventadas por programadores criativos do mundo inteiro.

Com a ubiquidade da computação e comunicação, pudemos substituir tantas coisas com um único aparelho. Deixamos de gastar tempo em filas de banco e em serviços de atendimento em empresas, deixamos de carregar dezenas de aparelhos diversos, passamos a encontrar mais facilmente amigos e colegas, a qualquer hora e em qualquer momento. E tudo isso pode ficar ainda mais fácil nos próximos anos: basta que as ideias inovadoras de mentes criativas sejam concretizadas em forma de aplicativo.

  • Lista de aparelhos que o smartphone substituiu:


Foto: Reprodução / Reprodução

Essa é a beleza do smartphone: ele é uma máquina de processamento genérica, que pode processar das ideias mais simples, como agendas e blocos de nota, até as mais complexas, como mapas interativos com geolocalização construídos e atualizados em tempo real por milhões de pessoas espalhadas pelo mundo. E estas ideias que são executadas pela máquina de processamento genérica estão surgindo a cada semana, de diferentes formas, limitadas apenas pela criatividade humana.

Em míseros dez anos de existência, o smartphone conectado à internet conseguiu afetar imensamente diversos setores da indústria, como o das câmeras digitais e o dos gravadores de áudio, e está afetando fortemente os setores que trabalham com informação e comunicação, como o fonográfico, o editorial, o jornalístico, o publicitário e, inclusive, o próprio setor de telefonia. Afinal, para que ligar para aquele conhecido se você pode mandar um Whatsapp?

E não são apenas os setores de informação e comunicação que estão "penando" na concorrência com o smartphone: são, também, os setores de bens e serviços materiais. Graças à criatividade dos programadores de aplicativos, o smartphone passou a substituir o ponto de táxi, o personal trainer no condicionamento físico, o professor no treinamento de idiomas, a boate na função de facilitador da paquera. Em outras palavras: o smartphone virou o grande mediador do mundo contemporâneo, tirando a serventia ou o emprego de milhões de outros mediadores mundo afora.

Uma década de mudanças tão profundas na indústria, no comércio e nas comunicações não poderia passar impune. Além de todos os benefícios da ubiquidade, também tivemos consequências perigosas. Foram mudanças intensas demais para a sociedade conseguir lidar. O desperdício de tempo está a um toque de distância. Com a falta de tempo, vem a pressa, o estresse, a ansiedade. Ainda temos tantos outros problemas que estão sendo estudados, como os de privacidade e de segurança pessoal. Foram, de fato, dez anos bastante intensos. Talvez, só venhamos a compreender os impactos deste período na sociedade quando nos distanciarmos do presente, daqui a mais uns dez anos.

Se em apenas uma década observamos todas estas mudanças, imagino como serão nos próximos dez anos. Teremos um novo equipamento que revolucionará o mundo mais uma vez? Ou o smartphone deverá se reinventar? É por isso que as expectativas para o novo iPhone, que deverá ser lançado no final do ano, são enormes. 

Entretanto, vários consultores e jornalistas de tecnologia já preveem que deverá acontecer o que já anda acontecendo nos últimos anos: o aparelho não deverá apresentar nada de revolucionário, apenas alguns aprimoramentos estéticos e funcionais, como tela que ocupa toda a área frontal e melhorias ou mudanças em determinados sensores.

Eu, particularmente, não espero uma nova revolução dos próximos 
smartphones, porque independente do que vierem a trazer de novo, o mais importante para inovação todos eles já fazem: processam aplicativos e se conectam com outros minicomputadores de bolso. Por isso, para mim, as maiores novidades dos próximos anos estarão mesmo é na criatividade dos programadores.

Quais novas soluções para o mundo eles deverão criar?


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