Carne bovina reduz 7% nos últimos meses; o valor deve subir início do ano

Carne bovina reduz 7% nos últimos meses; o valor deve subir início do ano

Foto: Renan Mattos (Arquivo Diário)

É comum ao consumidor especular em que estabelecimento irá pagar mais barato os itens desejados. Há um ano atrás, mesmo que se procurasse melhores preços para a carne bovina o resultado não seria vantajoso. Neste semestre, era para ser diferente. No entanto, o boi está sendo vendido 33% mais barato aos distribuidores brasileiros, mas essa diferença não está sendo repassada ao consumidor.


Os dados são da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), que também alerta para a redução dos preços ao consumidor em julho deste ano na casa de míseros 7%, comparado a julho de 2022. A situação é alarmante para o pecuarista, que vê seu produto desvalorizado e parado, pois não está barato o suficiente para que as vendas aumentem. A situação deve mudar no início do ano que vem, com menos boi disponível no mercado, e o preço das peças mais caras.


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Reduções brandas nos preços das carnes 

Ainda que cada região sinta de maneira diferente, há alguns parâmetros para observar a alteração dos valores da carne que chega à mesa dos brasileiros. O mais comum é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

 
Nos cálculos da professora Ednalva Felix, do Departamento de Economia e Relações Internacionais (Deri) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), depois da pandemia os brasileiros sentiram uma pequena diminuição dos preços. A queda se intensificou no primeiro semestre deste ano, com redução média de 3,65%.


Variação do preço da carnes em geral no período janeiro/ 2020 a julho/ 2023 

Variação do preço da carnes em geral

Pandemia (mar/2020-mar/2022)

2,97

Abr/2022 – jul/2023

-0,40

jan/2023 – jul/2023 (Governo Lula)

-3,67

                                                                                                                                                                  Fonte: IBGE - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)


A carne bovina na mesa do brasileiro em 2023

Foto: José Quintana Jr. (Arquivo Diário)

Se tratando da carne bovina, especificamente, o IPCA indica que os cortes de carne bovina reduziram em média 7,7% em comparação a julho do ano passado. Veja a média dos ajustes a seguir (%): 

Redução 

  • Filé-mignon              -8,40 
  •  Picanha                 -3,01                
  • Capa de filé           -1,80              
  • Alcatra                    -1,55                       
  • Pá                           -1,49                 
  • Músculo                  -1,34                   
  • Colchão de dentro    -1,12       
  • Lagarto comum        -1,11        
  • Acém                       -1,05        
  • Contrafilé                 -0,94
  • Costela                    -0, 62       
  • Peito                         -0,33

Aumento 

  • Patinho                     0,06          
  • Lagarto redondo       0,99        
  • Cupim                        2,69      
 Fonte: IBGE - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)


O quê explica as alterações do valor do boi? 

Foto: Renan Mattos (Arquivo Diário)


Na explicação do economista da Farsul Antonio da Luz, essa gangorra nos preços não é nada inesperada e diz respeito às lógicas de produção do campo.

 
– Quando o preço do boi está bom, e o terneiro está muito bom, as pessoas seguram mais vacas, que vão produzir mais terneiros, consequentemente. A movimentação é para aproveitar os preços maiores, só que daí produz demais – detalha Antonio da Luz.

 
Após uma maior produção para aproveitar o preço, o mercado tem como consequência uma grande disponibilidade dos produtos. O prejuízo se intensifica porque as vendas não acompanharam a produção. Primeiro, porque a diminuição do valor não foi repassada na ponta final.

 
As alterações no preço podem ser vistas nos dados publicados no Núcleo de Estudos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) da área


Foto: Gabriel Haesbaert (Arquivo Diário)

Preços do boi gordo (kg vivo) – no RS em junho 

  • 2020 – R$ 10,40 
  • 2021 – R$ 11,92
  • 2022 – R$ 10,79 
  • 2023 – R$ 9,10 
                                                                                                                *Nota: preços reais base junho 2023, tratados com IPA -DI/FGV
Fonte: Carta conjuntural do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva UFRGS

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Redução do preço do boi na Região Central 

Foto: José Quintana Jr (Arquivo Diário)


Conforme o último boletim da Emater/RS-Ascar, publicado em 24 de agosto, os preços do boi gordo e de outras categorias diminuíram consideravelmente nos últimos dias. E deve piorar, nos apontamentos da organização. Os motivos? Entre eles, estão a liberação das áreas de pastagem a partir de setembro para que comece o plantio das culturas de verão, como a soja. Logo, obriga o produtor a vender seu produto a preço baixo.

Nos dados, o Rio Grande do Sul indicou uma redução de 3,09% no preço médio do boi para o abate em relação à semana anterior, passando de R$ 8,09 para R$ 7,84/kg vivo.


O novo ciclo deve ser de preços salgados ao consumidor

Foto: Gabriel Haesbaert (Arquivo Diário)

Quando os pecuaristas veem seus bolsos mais vazios, em geral, a decisão é diminuir a produção. Logo, os preços pagos a eles sobem e para o consumidor também.  


– Matar mais vacas hoje significa menos terneiros amanhã e, consequentemente, tu vai ter menos boi gordo também. Então, eu imagino que daqui a pouco os preços vão aumentar – reitera o economista da Farsul, Antonio da Luz. 


Em movimento lento, o novo ciclo com valores mais altos deve aparecer no início do ano que vem, 2024 – na projeção do especialista. 


No mercado internacional a carne também é uma preocupação

Foto: Gabriel Haesbaert (Arquivo Diário)

As vendas externas do agronegócio do Rio Grande do Suno segundo trimestre de 2023 atingiram US$ 3,54 bilhões, mas isso não quer dizer algo positivo para o envio de carnes ao exterior. O segmento foi um dos que teve maior queda, com a redução de 21,4%, comparado ao mesmo período do ano passado (US$ 569,88 milhões).

Entre os motivos está a redução nas vendas da carne de frango (total de US$ 274,65 milhões; -35,7%) e carne bovina (total de US$ 83,16 milhões; -25,2%). 

Os dados são do relatório de atualização do Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) do RS. 

Nos apontamentos do economista Antonio, a China, o destino que mais compra remessas do setor, também estava de olho nessa movimentação e agiram estrategicamente. Viram que o preço do boi iria reduzir e seguraram suas compras até o momento mais propício. 


Por que os pecuaristas do RS estão faturando cerca de 17% a menos?

Foto: Eduardo Ramos (Arquivo Diário)

Os dados do NESPro sobre o primeiro semestre de 2023, comparado ao mesmo período de 2022,  demonstrou que:

  •  O rebanho bovino cresceu 2,5%
  •  O abate aumentou aproximadamente 10%
  •  Tivemos a entrada de 75 mil cabeças vindas de outros estados
  •  E a exportação da carne diminui em 12%
  •  53% da carne consumida no RS tem origem em outros estados


Veja mais 


O aumento dos combustíveis deve chegar à todos 

Ao tempo que o preço da carne é afetado, principalmente pela dinâmica dos ciclos de produção dos animais, outros fatores podem vir a contribuir com os números que aparecerão no caixa dos supermercados ou nas bocas de açougue – ainda que de maneira branda


Na percepção da professora do Departamento de Economia e Relações Internacionais (DERI) da Universidade Federal de Santa Maria, Ednalva Felix, o aumento no preço da venda de combustíveis para distribuidoras, anunciado pela Petrobras no último dia 15, será sentido nos mais diversos fatores. 


Estas consequências já estão aparecendo nos índices que balizam o movimento da economia – e isto já é sabido pelos gestores. Conforme o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto,a inflação será 0,4% maior entre agosto e setembro. 


Resultado disso, o BC e o governo devem buscar soluções para equilibrar os números reais em relação aos limites projetados para a inflação em 2023. 


  • A inflação é a demonstração do poder de compra da população. Se a inflação for maior, menor é o poder de compra das pessoas. Em outras palavras, o salário não acompanha o valor dos produtos.


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