Nascida em Linha Holanda, na época interior de São Pedro do Sul, a pastora Lorena de Lourdes Souza Santos é estreante na Câmara de Vereadores de Santa Maria.
Nas eleições de 2016, ela concorreu pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), ficou na suplência, mas assumiu na vaga do colega de partido, o vereador reeleito João Chaves, que se licenciou para ser secretário municipal de Desenvolvimento Social.
Pastora Lorena, como é conhecida, está entre os 20 parlamentares mais votados da atual legislatura, com 1.633 votos, à frente do petebista Ovídio Mayer e da peemedebista Marta Zanella (licenciada para assumir secretaria municipal).
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A parlamentar se orgulha de ser a única negra no Legislativo, a primeira pastora a assumir na Câmara em toda a história da Casa, e também a primeira vereadora do PSDB na cidade.
Pastora Lorena veio aos 15 anos de idade para Santa Maria, com os pais e mais quatro irmãos, para morar na Vila Carolina e, mais tarde, na Vila Oliveira, Bairro Passo D’Areia. Filha de pai umbandista e mãe católica, seguia o catolicismo até começar uma história de "milagres e conversões".
– Eu era católica praticante, de confessar todo sábado e comungar nos domingos. E ainda frequentava a umbanda com meus pais – revela Lorena, que, aos 16 anos entrou para a Igreja do Evangelho Quadrangular graças, segundo ela, a um milagre que salvou a vida da mãe, "desenganada" pela medicina.
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IGREJA E FAMÍLIA
Casada desde os 18 anos com o reverendo Izidoro Leles dos Santos, a vereadora confidencia uma história de muita cumplicidade com o marido. Lorena já tinha alguns anos como evangélica quando Izidoro, católico, sofreu grave acidente no Exército e ficou três anos hospitalizado. O marido fez voto de fé e após a recuperação também se converteu à Quadrangular.
Entre 1981 e 1993, o casal morou em São Gabriel para trabalhar pela Quadrangular. Na Terra dos Marechais, ela atuou na área de educação da igreja e como voluntária em ações sociais.
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O interesse pela política surgiu no ano passado.
– Eu recebia convites de partidos há mais de 10 anos. Aí surgiu a possibilidade da candidatura e entendemos que deveríamos ter um representante no Legislativo.
Nos sentimos muito bem acolhidos no PSDB – conta.
Na Câmara, ela integra as comissões de Direitos Humanos e Cidadania e de Educação, Cultura e Lazer; a Frente Parlamentar em Defesa das Pessoas com Deficiência e a comissão especial dos parquímetros.
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Em seu gabinete móvel, a vereadora percorre bairros ouvindo a comunidade. Uma de suas bandeiras é a questão da mulher, principalmente o combate à violência. Ela é autora de um projeto de sugestão para garantir vaga em creche para filhos de vítimas de violência doméstica.
– É no meio da comunidade que me sinto realizada – diz ela.
Sobre o futuro político, a parlamentar tucana diz que não pretende concorrer a deputada no ano que vem e desconversa sobre a possibilidade de um dia concorrer a prefeita. A meta é disputar novamente uma vaga na Câmara em 2020.
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Amor à moda antiga
Lorena considera que a família é a base de tudo, defende o amor à moda antiga e se orgulha de ter casado virgem e de ter passado esses valores para as duas filhas. No tempo em que começou a namorar Izidoro, com quem está casada há 47 anos, era preciso o consentimento familiar e as visitas eram acompanhadas pelos pais.
Do posto de saúde para a Câmara
Formada em Teologia e em Administração de Empresas (curso que concluiu depois de encaminhar as filhas), a vereadora dispensa dedicação exclusiva à Câmara e à igreja. Todas as sextas-feiras, ela prega em cultos da Quadrangular, que tem 33 templos em Santa Maria e aproximadamente 5 mil fiéis cadastrados, que se somam a cerca de 2 mil simpatizantes. O restante do tempo Lorena dedica ao esposo, às filhas, genros e às duas netas adolescentes.
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ENTREVISTA
Diário de Santa Maria – Como a senhora entrou para a política e por que o PSDB? O fato de a senhora estar na vaga do titular, que é secretário, a incomoda?
Lorena Santos – Há mais de 10 anos, eu recebia muitos convites. Em 2016, fui convidada por um pastor a me filiar no PSDB. Entendi que deveríamos ter um representante na Câmara de Vereadores e decidi concorrer após conversar com a família e a igreja. Fomos muito bem acolhidos no PSDB. Não me sinto menos vereadora por ser suplente e estar na vaga do vereador João Chaves (reeleito pelo PSDB e atual secretário municipal de Desenvolvimento Social). Foi feito um acordo antes. O prefeito (Jorge Pozzobom, do PSDB) disse que, se ele se elegesse, eu viria para a Câmara de Vereadores, e ele cumpriu o acordo. Estou gostando muito e gostaria de ficar os quatro anos para fazer um trabalho bem-feito no Legislativo municipal.
Da sala de aula para a Tribuna da Câmara de Vereadores
Diário – Como a senhora vê a decisão do Supremo Tribunal Federal liberando o ensino de religião nas escolas públicas?
Lorena – Ainda não me aprofundei no assunto, mas, pelo que entendi, é facultativo, o aluno não é obrigado a assistir às aulas. Temos que ver o que é melhor para o aluno. O Brasil é um país laico e nada pode ser obrigado.
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Diário – A Câmara local nunca elegeu vereador negro, embora já tenha tido suplentes negros e um deles chegou a assumir nos anos 2000. A senhora já sofreu preconceito?
Lorena – Sei que no momento sou a única vereadora negra no Parlamento municipal de Santa Maria. Quanto ao racismo, eu não sinto em relação a mim. Nesses anos todos nunca sofri isso claramente, mas certamente existe.
Diário – Como evangélica, qual a sua posição sobre a terapia de reversão sexual, a chamada Cura Gay?
Lorena – Minha posição é de respeito pessoal. Tenho amigos homossexuais, e essa questão é uma opção deles e merece respeito, assim como a minha opção também deve ser respeitada. Agora, quanto a dizer se é doença ou não, quem tem que dizer é o médico.
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Diário – Qual sua opinião sobre a intolerância religiosa, ecumenismo e de igrejas que surgem apenas para ganhar dinheiro dos fiéis?
Lorena – Respeito todas as religiões e não gosto de brincadeiras com religião nenhuma, isso não é legal. Não é bom, nem para mim nem para os outros. Aqui na Câmara de Vereadores, somos dois evangélicos na atual legislatura, eu e o Alexandre Vargas (parlamentar do PRB ligado à Igreja Universal do Reino de Deus), e o que percebi é um respeito muito grande entre todos os colegas. Cada um tem sua crença e respeita a do outro. Quanto ao ecumenismo religioso, entendo que é uma prática saudável desde que tenha o objetivo de ajudar o povo. Sobre as outras religiões eu não tenho o que falar. Só sei falar da minha.
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