reportagem especial

7 de setembro: como as escolas trabalham patriotismo e suas ressignificações

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

Filas alinhadas, uniforme impecável, tons em verde e amarelo por todos os lados e muita disciplina compõem o cenário de quem já foi aluno, principalmente até a década de 1980, e desfilou para celebração máxima do patriotismo no Brasil no Dia 7 de Setembro. O Desfile Cívico-Militar, também conhecido como Desfile da Pátria, é protagonizado pelas forças militares, mas sempre contou com a representatividade das escolas, hoje, visivelmente, em menor número. Para muitas instituições, "ensinar" e preparar o aluno para ser um patriota exemplar não só eram um compromisso, mas uma determinação do governo na grade curricular. Ao longo dos anos, por conta das mudanças sócio-políticas do país, as ressignificações, os conceitos e o modo de trabalhar a cidadania nas escolas também mudou e tem sido, inclusive, motivo de polêmica.

Nos últimos dias, o Diário percorreu algumas escolas de Santa Maria para ilustrar nesta reportagem qual é o entendimento, a didática escolhida para falar de patriotismo e as contrastantes percepções do conceito em diferentes segmentos sociais.

A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e o Sindicato dos Lojistas de Santa Maria (Sindilojas), por exemplo, promoveram pelo segundo ano, a campanha Pátria Amada, com a distribuição de 20 mil bandeiras do Brasil no comércio e em escolas do município. A iniciativa tem apoio de outras entidades.

- Desde o ano passado, nossa ideia foi separar a política dos símbolos. É preciso que gente enxergue o valor do nosso território e tenha sentimento de pertencimento, independentemente de ideologia e de quem está no poder. Enquanto instituição, temos de dar exemplo, por isso, as lojas enfeitadas e o incentivo ao comércio - explica a presidente da CDL, Marli Rigo.

Já na escola de Cristiele, a data de 7 de Setembro nem sequer é celebrada formalmente. Isso não impede que a menina, oriunda do ensino público na periferia e apaixonada por futebol, se reconheça patriota toda vez que canta o Hino Nacional a cada partida que a jogadora Marta entra em campo.

Por outro lado, o Colégio Militar de Santa Maria (CMSM), onde os símbolos nacionais são cultuados todos os meses do ano, a iminência da data inunda a instituição de nostalgia e cria expectativa entre alunos e professores.

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NA HISTÓRIA
Em 1822, D. Pedro deu início a trajetória do Brasil como nação independente. As bibliografias discorrem que (supostamente), D. Pedro, futuro D. Pedro I, proclamou o grito da independência às margens do Rio Ipiranga, na atual cidade de São Paulo. Com isso, o Brasil rompeu sua ligação com Portugal e consolidou-se como nação independente, resultado de um processo de desgaste nas relações entre os colonos brasileiros, sobretudo da elite, com Portugal marcado com a transferência da família real portuguesa para o país.

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CIDADANIA QUE RESPEITA AS DIFERENÇAS
O conceito de nação abrange independência política, ter um espaço geográfico e Igualdade entre as pessoas, o que faz com que o Brasil seja chamado de nação. O marco foi em 1888, com a Abolição da Escravatura, quando, em tese, a igualdade de todos perante à Lei foi alcançada. Já o conceito de nacionalismo varia através do tempo, desde sua primeira utilização no século XVII, na França, conforme explica Gilmar Niederauer, que foi professor de História e Sociologia da rede pública estadual de Santa Maria por quase duas décadas. 

Em 2019, porém, conceitos de patriotismo, nacionalismo e novas diretrizes de ensino nas escolas acerca de temas afins têm inflamado debates. Em abril, o presidente Jair Bolsonaro anunciou pelo Twitter que pretendia reduzir os investimentos federais nas faculdades de Filosofia e Sociologia. Em junho, ele propôs a volta da disciplina de Educação Moral e Cívica (EMC), medida ainda debatida pelo Ministério da Educação (MEC). Já na última quarta-feira, a presidência lançou o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares. A intenção é que o país reforce o patriotismo, eleve os índices de educação e conte com até 216 escolas de educação básica funcionando pelo sistema em todos os Estados até 2023.

Professora de História aposentada e mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Irene Fernandes dos Santos, 72 anos, atravessou gerações e hoje guarda seu legado enquanto aluna e professora à época do regime militar e de períodos em que as aulas recebiam interferências do governo.

- Fui aluna na época da matéria Organização Social e Política do Brasil (OSPB) e falávamos muito mais dos símbolos nacionais. Posso dizer que, no período do Estado Novo, com o Getúlio Vargas na presidência, a influência do governo foi bem maior. No entanto, na minha época, tínhamos que enfatizar o nome das autoridades do país. As provas vinham prontas da Secretaria de Educação, não era a professora que as elaborava. Hoje, vejo que há mais autonomia das escolas. Acho importantíssimo celebrar o patriotismo, defender nossos valores, principalmente a ética, mas não só em um só dia (7 de setembro) - avalia.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

De acordo com o professor Niederaurer, o atual momento brasileiro que permeia a educação vive momentos nevrálgicos. Para ele, pode haver um desgaste do sentimento de amor à Pátria, (o patriotismo) por conta de governos truculentos, mesmo aqueles eleitos democraticamente. O professor avalia que os alunos devem exercitar o patriotismo no seu dia a dia, em suas comunidades, suas referências individuais e coletivas.

- A medida que o aluno se sente inserido em seu tecido social de forma voluntária, ele adquire respeito e amor a sua terra, sua gente e uma identificação com a sua cultura, o que irá adotar espontaneamente e propagar através de gerações - afirma.

Diorge Konrad, professor de História da UFSM é enfático e tem uma visão ainda mais crítica. Conforme ele, patriotismo é essencial, desde que não haja contrassensos:

- Penso quer todo dia é dia de patriotismo. Como educador, não tenho dúvida que a defesa da soberania nacional e o uso das cores da nossa bandeira são importantes para qualquer escolas e universidades. O que não pode é termos um governo que ataque a produção científica, setores de ciência e tecnologia, e celebrar o verde e amarelo.  


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