Consumo de álcool e sua relação com a vida

José Carlos Campos Velho

O álcool está presente na história da humanidade desde os primórdios da civilização. Por vezes sagrado (o vinho de Jesus Cristo – “o meu sangue que é dado por vós”) e outras vezes profano, o homem se relaciona com o álcool de forma dúbia. Celebrado, por vezes, como um componente de um envelhecimento saudável – em particular o vinho, e outras vezes execrado como o coautor da falência de uma família – ou sua desestruturação.

 

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Nas diferentes fases da vida, o álcool exerce papéis diferentes: festivo, alegre e por vezes desastroso, na adolescência. Este é um capítulo que vale a pena comentar: o álcool, bem como qualquer substância psicoativa (com excessão daquelas prescritas pelo médico, particularmente pelos psiquiatras) é extremamente tóxico para o cérebro do adolescente. O cérebro, ainda em formação, em franca transformação pela tempestade hormonal vivida neste período, recebe muito mal qualquer droga psicoativa, sejam elas lícitas ou ilícitas. Na juventude tardia e na meia idade, o álcool enquanto lubrificante social tem um papel importante no estabelecimento das relações interpessoais. Não necessário, mas frequente.


Adolescência
A questão da adolescência retorna: quanto mais precoce o contato com o álcool – e outras drogas, maior a probabilidade de uma futura dependência. Fora outras questões, como violência, gestações prematuras, desempenho escolar ruim ou mesmo o abandono dos estudos, delinquência, enfim. Na adolescência, se olhássemos com uma visão cuidadosa, talvez já conseguíssemos identificar os futuros dependentes. Estes, na meia idade, com frequência mantém certa funcionalidade, mas com prejuízos já evidentes em várias áreas da vida. Alguns já mergulharam profundamente no mundo do alcoolismo e necessitam de auxílio urgente, pois existe risco de morte por complicações do uso de álcool, e todo um comprometimento da vida pessoal, familiar, laboral e social.


Velhice
Na velhice, o que predomina é a moderação ou a abstinência. Embora o alcoolismo incida predominantemente em homens idosos, não podemos deixar de olhar a questão feminina. De diagnóstico talvez ainda mais difícil, pois muitas vezes se dá de forma velada, o alcoolismo feminino enfrenta um preconceito moral ainda maior da sociedade em relação à mulher que bebe em excesso. Pior ainda se forem mulheres idosas.

 
A Organização Mundial da Saúde conceitua o alcoolismo como o “uso abusivo de álcool, cuja dependência é acompanhada de perturbações mentais, da saúde física, da relação com os outros e do comportamento social e econômico do sujeito.” O alcoolismo, portanto, como outros transtornos por uso de substâncias não deve ser visto como fraqueza de vontade ou uma falha moral, mas sim como um distúrbio clínico e psiquiátrico que consta no Código Internacional de Doenças – CID XI com o código 6C40.2 . E que exige uma abordagem multiprofissional, além de uma série de outros suportes de caráter familiar e social. Ver o alcoolismo de uma maneira holística, como uma doença física, mental e espiritual, amplia as possibilidades de abordagens terapêuticas e a construção de uma estratégia bem sucedida que foque na abstinência.

 
A pessoa idosa, mais do que indivíduos de outras faixas etárias, tende a sofrer com a solidão. A solidão é considerada um problema de saúde pública em vários países do mundo, que vem criando políticas públicas para seu enfrentamento, inclusive com a estruturação de “Ministérios da Solidão”, como o Japão e o Reino Unido. Pois a solidão é um desencadeante de alcoolismo na velhice, bem como o luto, a aposentadoria, o desemprego e dificuldades financeiras. Claro que aquelas pessoas que já faziam uso regular do álcool, tem uma possibilidade maior de desenvolver uma dependência – mas não exclusivamente. Além disso, a geração que viveu as décadas de 1960 e 1970, tiveram contato com outras substâncias além do álcool e trazem este problema junto com o seu processo de envelhecimento. Portanto, embora o álcool também seja uma adicção, os adictos idosos vão começar a aparecer, e o serviço público de saúde deve estar preparado também para esta demanda.


Consumo do álcool
Os malefícios da doença do alcoolismo são de ordem clínica e psiquiátrica, olhando de uma perspectiva médica. Devemos lembrar que, quando a pessoa envelhece, frequentemente é portadora de outras doenças, cuja evolução pode ser agravada pelo consumo do álcool.

 
Um exemplo , são as interações medicamentosas, bem como uma menor aderência ao tratamento por uso errôneo e irregular de remédios de uso contínuo, utilizados no tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, tão prevalentes na velhice.

 
Não podemos deixar de citar um grande aliado na abordagem do alcoolismo, que são os grupos de mútua ajuda, baseados no Programa de Doze Passos, como os Alcoólicos Anônimos e os Narcóticos Anônimos. Estas organizações são bem estruturadas em nossa cidade, contando-se com reuniões praticamente diárias. Os idosos tendem a se adaptar bem à estas irmandades, pois seu desejo de socialização e a sensação de “fazer parte” podem ser sanada pela convivência com outras pessoas com problemas semelhantes ao que vive.

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