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Maneco se despede da Câmara após 24 anos; em entrevista exclusiva, ex-presidente do Legislativo fala sobre sua trajetória

Maneco se despede da Câmara após 24 anos; em entrevista exclusiva, ex-presidente do Legislativo fala sobre sua trajetória

Foto: Beto Albert

Foi com um semblante alegre e orgulhoso da trajetória que construiu no Legislativo que o presidente da Câmara de Vereadores de Santa Maria, Manoel Badke (União Brasil), Maneco, como é conhecido, recebeu o Diário, na tarde do dia 26 de dezembro, para falar de um ciclo que se encerrou. Nessa terça-feira (31), ele concluiu os 24 anos consecutivos de mandato no Palácio da Vale Machado. Ingressou com 45 anos e sai com 69. E com uma importante anotação no currículo: prefeito interino de Santa Maria em 2024. Não imaginava passar tanto tempo na Casa do Povo, embora seus alunos na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), da qual está aposentado, tenham feito uma previsão.

 
– Os meus alunos da Medicina Veterinária me diziam: “o dia que o senhor ir para a Câmara, o senhor vai sair de lá vovô”, relembra Maneco, hoje avô de Eduardo, Rodrigo e Vinicius, sobre a previsão certeira.


Tabus quebrados
Na trajetória de mais de duas décadas no Legislativo, Badke se orgulha de ter quebrado “alguns tabus”, como ele próprio define.

 
– Quebrei o tabu de ser o primeiro vereador do último ano e também presidente da Câmara, em 2012, a me reeleger e aumentando a minha votação. Encerrei 24 anos sem financiamento de campanha no Parlamento de Santa Maria, então são alguns tabus que consegui quebrar – completa o vereador do União Brasil.

 
E se diz contra financiamento de campanhas.

 
– Financiamento de campanha é o princípio de um caminho para a corrupção em todos os sentidos – ressalta.


Lembrança mais dolorida
E foi por uma tragédia envolvendo seus alunos que viveu o momento mais difícil e tem a lembrança mais dolorida do período que exerceu o mandato de parlamentar: o incêndio da boate Kiss. E, que durante o seu desdobramento na Câmara com a instalação de uma CPI para apurar os responsáveis pela tragédia, acabou atingindo uma colega de Legislativo, Maria de Lourdes Castro.

 
– A Kiss foi uma um trauma para todos nós. Dei aula na sexta-feira e perdi oito alunos da Veterinária que não voltaram para a sala de aula, meus amigos, que ainda me disseram: “professor, vamos na boate?”. E eu disse que isso é da gurizada. Então. isso doeu. E me dói mais, quando vieram nesta Casa e chamaram a Maria de Lourdes de “assassina”. Ela sentava do meu lado e me disse: “Eu não sou nada disso”. E eu digo: “eu sei”. A maldade existe, e naquela noite ela “morreu” – relatou Badke sobre as situações envolvendo a Kiss.


Fidelidade e polêmicas
Descrito como um político de personalidade forte e fiel aos aliados, o vereador diz que “palavra dada é palavra empenhada. Fidelidade é a principal coisa, lealdade sempre”. Ao longo da trajetória, ele colecionou algumas polêmicas, seja por discussões acaloradas nas sessões, seja pelo cenário atual de uma polarização exacerbada. Em redes sociais e até em manifestações na Tribuna por colegas, o atual presidente foi apontado como apoiador da ditadura. O que ele tem a dizer sobre isso?

 
– Para começar, as pessoas que falam da ditadura, não sei se elas têm a leitura. Tudo que é extremo é ruim. A ditadura houve. E houve ações que são deploráveis. Eu fui para o Exército em 1976 e era rígido, mas tinham algumas coisas que eu admiro do Exército: princípios, disciplina, educação e hierarquia, valores que foram se perdendo com o tempo. Eu posso te dizer de cadeira, nós saímos na época tranquilos, nos anos 1970, se tu fosses abordado, tu estavas com tua identidade... não tinha as balbúrdias e os movimentos que hoje têm, essa é uma diferença. Eu senti isso na universidade. A cada década eu via uma evolução negativa. Hoje, a universidade terminou com a repetência, o respeito com o professor.


Viradas de Mesa
Em anos de Legislativo, Badke presenciou muitos fatos, alguns envolvendo as viradas polêmicas de última hora na escolha da Mesa Diretora.

 
– Teve uma que um vereador aqui entrou como o presidente pela porta da frente e saiu lá pela garagem – recordou o parlamentar, sobre um voto que “não era seguro” e acabou virando e dando a vitória a outra chapa.


Não era água, era aguardente
Dos muitos fatos pitorescos e inusitados, o atual presidente da Casa contou que presenciou alguns, porém não dá para dar “publicidade” e nem nomes de colegas. Contudo, relatou um que aconteceu com ele, envolvendo um colega que se atrapalhou com as garrafas.

 
– Eu pedi água para um colega à tarde e fui tomar água e era aguardente. Aí, ele me disse: “Bah, Maneco, eu troquei a garrafinha”. E aí me deu água.


Mãos limpas
A obra inacabada da Câmara de Vereadores tem dado dor de cabeça a presidentes do Legislativo, principalmente para os que assinaram documentos referente à construção. Esse foi o caso de Badke que, como onerador de despesas, autorizou o pagamento depois que o engenheiro conferiu a medição construída. Por conta disso, o Tribunal de Contas do Estado apontou como uma irregularidade e aplicou uma multa de mais de R$ 130 mil. Na defesa, Badke comprovou que não havia cometido irregularidade e reverteu a decisão.

 
– Foi em 2012 e me chateou bastante, mas eu sabia do meu trabalho – comentou.

 
Já este ano, foi questionado em redes sociais sobre o valor pago na compra de cadeiras para a Casa.

 
– (...) Se voltasse no tempo, já pedi para Deus que quero voltar como professor, a política tu te envolves num ponto, outras pessoas também dependem da política. (...) E não tinha que ouvir muitas besteiras de pessoas, alegando aí que tu comprou uma cadeira, essas mãos aqui são limpas, tu podes mexer com tudo, mas a minha honestidade meu pai trouxe de berço, essa aí ninguém mexe – afirmou.


Herdeiro na casa
Depois de 24 anos, Badke se despede do Legislativo satisfeito não só pela sua trajetória construída na Casa, mas, especialmente, pelo legado e bandeiras que terão continuidade, agora com seu herdeiro político: Guilherme Badke. O Manequinho, como é conhecido, elegeu-se vereador pelo Republicanos com votos provenientes do reduto do pai: o Bairro Camobi. E já sabe que terá de encampar bandeiras do antecessor, especialmente na área da saúde. O pai já avisou para colocar na agenda a defesa, por exemplo, de um centro para idosos e um PA geriátrico.


Futuro político
Badke encerra o ciclo na Câmara, mas não na política. Já decidiu o presente e, ao mesmo tempo, planeja o futuro. Ele assume neste mês como assessor regional do gabinete do deputado estadual Gaúcho da Geral (PSD), que no momento está licenciado para atuar como secretário de Esporte e Lazer.

 
O convite ocorreu por intermédio do filho Manequinho, que tem uma relação com o deputado construída durante os jogos do Grêmio na torcida Geral. O agora secretário, inclusive, participou de um evento de campanha do vereador eleito.

 
Por enquanto, Badke permanece no União Brasil, apesar de trabalhar para um parlamentar de outro partido. Mas, no futuro, poderá aderir ao PSD ou a outra sigla que o deputado aderir. Independentemente disso, ele começará a pavimentar o caminho para 2026.

 
– Vou trabalhar para ele a deputado estadual e, ao mesmo tempo, fazer minha campanha a deputado federal – conclui o ex-presidente da Câmara, que mira no futuro, mas sem esquecer do, agora, passado no Legislativo.

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Jaqueline Silveira

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