Foto Fiocruz Divulgação
Uma das esperanças para tentar frear o número absurdo de casos (6 milhões só este ano) e de mortes por dengue no país (4,9 mil desde janeiro) ainda não é adotada no Rio Grande do Sul nem tem previsão de ser implementada, infelizmente. Seria a soltura de mosquitos Aedes aegypti com o bactéria Wolbachia, que em algumas cidades, como Niterói (RJ), reduziu o total de casos em 69%.
Em abril, foi inaugurada uma segunda biofábrica para produção em grande quantidade desses mosquitos, mas o Ministério da Saúde não tem previsão de quando parte desses insetos infectados com essa bactéria poderão ser usados para conter o número de casos e de mortes no Rio Grande do Sul.
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Além de questionar o Ministério da Saúde, a coluna cobrou também a Secretaria Estadual da Saúde se a pasta está pedindo a adoção dessa técnica aqui no Rio Grande do Sul. A resposta foi a seguinte: “Essa metodologia ainda está em estudo, por isso o projeto está sendo desenvolvido em alguns Estados. Com os resultados obtidos, o Ministério da Saúde está fazendo um amplo estudo clínico para a comprovação da eficácia e impacto para proteger a população. Após o estudo ser concluído, o ministério orientará os demais Estados. Até o momento, o Rio Grande do Sul segue as diretrizes já estabelecidas. É importante reforçar que não existe uma única ação capaz de reduzir os índices de infestação, é preciso várias ações ocorrendo simultaneamente.”
Claro que não há só uma bala de prata para conter a dengue, mas em conversa informal com alguns órgãos de vigilância sanitária, a constatação é de que as técnicas disponíveis hoje e adotadas pelas prefeituras e governos estão sendo insuficientes para conter a dengue e que a adoção desses mosquitos seria bem-vinda para tentar frear o avanço da doença e as mortes.
Segundo o Ministério da Saúde, “a maior fábrica do mundo de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia será construída no Brasil e terá capacidade de atender, cerca de 70 milhões de brasileiros, em 10 anos. Portanto, a previsão refere-se ao período de 10 anos. A biofábrica é resultado de uma parceria tecnológica firmada entre World Mosquito Program, Fiocruz e Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP).”
Ou seja, só em 2034, a previsão é atender cerca de um terço da população brasileira. Claro que, se for focado nos Estados com mais mortes e mais casos, já terá um efeito muito importante. Essa técnica é, sim, uma esperança de amenizar esse grave problema da dengue, mas ainda levará tempo.
Segundo o ministério, após o início das liberações dos mosquitos com Wolbachia, é feito o monitoramento nos locais. Esse método já é usado nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói (RJ) Campo Grande (MS), Petrolina (PE) e Belo Horizonte (MG).
COMO FUNCIONA O MÉTODO WOLBACHIA
- Segundo o ministério, a Wolbachia é uma bactéria presente em 60% dos insetos, inclusive em alguns mosquitos. No entanto, não é encontrada naturalmente no Aedes aegypti. Quando presente neste mosquito, a bactéria impede que os vírus da dengue, Zika, Chikungunya e febre amarela se desenvolvam dentro dele, contribuindo para redução das doenças. O método foi descoberto pelo pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira, que iniciou as conversas com o ministério após suas pesquisas na Austrália;
- Nesse método, mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia são liberados para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais estabelecendo, aos poucos, nova população dos mosquitos, todos com Wolbachia. Com o tempo, a porcentagem de mosquitos que carregam a Wolbachia aumenta, até que siga estável, sem a necessidade de novas liberações. Este efeito torna o método autossustentável e acessível a longo prazo;
- Os Wolbitos, como são chamados, não são transgênicos, ou seja, não há qualquer modificação genética no método, e também não transmitem doenças. A wolbachia não pode ser transmitida para humanos ou outros mamíferos. Pela técnica, são soltos mosquitos ou armadilhas com ovos dos mosquitos contaminados com a Wolbachia.
O QUE DIZ O MINISTÉRIO DA SAÚDE
"A biofábrica do mosquito com Wolbchia do Rio já está pronta e em funcionamento. Já em Minas Gerais, as obras foram finalizadas, a previsão é de que ela entre em funcionamento no próximo ano.
Em março de 2023, o World Mosquito Program Brasil e a Fundação Oswaldo Cruz anunciaram parceria com o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) para a construção de uma grande biofábrica que expandirá no Brasil o acesso ao Método Wolbachia. A previsão é que as atividades iniciem em 2025.
A maior fábrica do mundo de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia será construída no Brasil e terá capacidade de atender, cerca de 70 milhões de brasileiros, em 10 anos. Portanto, a previsão refere-se ao período de 10 anos. Essa estimativa refere-se apenas a produção da biofábrica que será construída em Curitiba. A Biofábrica é resultado de uma parceria tecnológica firmada entre World Mosquito Program, Fiocruz e Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP).
No caso do Ceará, existe um interesse do Ministério da Saúde na construção da biofábrica e estamos aguardando mais informações sobre.
O objetivo do World Mosquito Program é promover a substituição de Aedes aegypti por mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia, que têm capacidade reduzida de transmitir arboviroses como dengue, Zika, chikungunya e febre amarela.
As ações do projeto no Brasil seguem protocolo aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e se dividem em diferentes etapas. Na fase de Engajamento Comunitário, as equipes do projeto e dos municípios parceiros interagem com a população e instituições como unidades de saúde, escolas, igrejas, associações e organizações não-governamentais para compartilhar informações e explicar o Método Wolbachia e também como será o trabalho realizado em campo.
Formas de liberação
O WMP Brasil utiliza dois métodos de liberação de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia: a soltura de mosquitos adultos e a utilização do Dispositivo de Liberação de Ovos (DLO).
A soltura de Aedes aegypti adultos pode ser feita de carro ou a pé. Em ambos os casos são utilizados tubos que contêm mosquitos com Wolbachia e, à medida em que o colaborador avança no terreno, abre os recipientes e promove a liberação dos Aedes.
O dispositivo de liberação de ovos consiste em um recipiente com pequenos furos nas laterais. Ele contêm ovos de Aedes aegypti com Wolbachia, água e alimento para as larvas que vão nascer. Dentro do dispositivo, os ovos levam até um dia para eclodir e dar origem às larvas. Estas, levam entre sete e dez dias para se tornarem mosquitos adultos que voam para fora do dispositivo usando os furos das laterais.
É importante enfatizar que o Método Wolbachia é complementar às demais ações de controle. A população e poder público devem continuar a realizar as ações de combate à dengue, Zika e chikungunya que já fazem.
Monitoramento
Após o início das liberações, passamos a monitorar os mosquitos nas áreas em que atuamos. No Rio de Janeiro (RJ) e em Niterói (RJ), este monitoramento é feito por meio da coleta dos mosquitos capturados pelas armadilhas instaladas em casas e estabelecimentos comerciais de voluntários do projeto ou em espaços públicos.
Para os municípios de Campo Grande (MS), Petrolina (PE) e Belo Horizonte (MG), o monitoramento será feito em parceria com as equipes da prefeitura.
O diagnóstico da presença da Wolbachia nos Aedes aegypti é feito nos laboratórios do WMP Brasil/Fiocruz, por técnicas de biologia molecular. É importante destacar: o Método Wolbachia do WMP não envolve modificação genética nem no mosquito, nem na bactéria.
Após identificar o estabelecimento dos Aedes aegypti com Wolbachia, não são necessárias novas solturas destes mosquitos. Por isso dizemos que o Método Wolbachia do WMP é autossustentável."