colunistas do impresso

Retratos antigos

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Quem não tem entre seus pertences algum retrato antigo, muitas vezes esquecido dentro de uma caixa, ou um álbum organizado cuidadosamente que eterniza momentos felizes e significativos? Mais um dos tantos objetos desvalorizados e esquecidos por força do tempo e das novas tecnologias. Nossos celulares e contas virtuais guardam milhares de fotografias que documentam eventos cotidianos ou especiais, com as quais ilustramos nossas páginas na rede social. Muitas vezes são aprimoradas por filtros antes de serem publicadas ou levadas para os arquivos virtuais onde frequentemente se perdem. Outras vezes são impiedosamente deletadas de forma definitiva.

Mas os antigos retratos permanecem. São imagens de um tempo antigo, às vezes em preto e branco, estremecidas ou manchadas, mas com o poder de emocionar. Revelam nossa história pública ou privada. Mostram rostos e cenários que hoje não vemos mais, fazendo com que, como por um encanto, um passado longínquo seja desvendado.

Os antigos postais das cidades renascem através da internet e, repentinamente, o local onde passamos nossa infância pode surgir diante de nossos olhos. Há pouco tempo isso aconteceu comigo, quando me deparei com um antigo retrato da vista aérea de minha cidade natal, tirado na década de setenta. Imediatamente, identifiquei a residência de meus pais, hoje um velho sobrado ilhado pelos prédios modernos.

A imagem revelava as casas vizinhas, há muito tempo demolidas. De um lado, as construções geminadas que ocupavam grande parte do quarteirão. Em uma delas o armazém onde eu e minhas irmãs comprávamos balas coloridas, levando para casa um pequeno pacote de papel, bem apertado na mão pelo medo de perder alguma pelo caminho. Do outro lado, residências dos antigos vizinhos, onde brincávamos com outras crianças. Numa delas, assistimos, com puro encantamento, as primeiras imagens de uma televisão. Foi como se uma pequena janela se abrisse diante de meus olhos trazendo nomes, objetos, fatos, cheiros e sensações de um tempo adormecido.

Certa vez encontrei uma postagem da foto do antigo parque ferroviário no Bairro Itararé. Meu marido a visualizou de longe e, surpreso, aproximou-se contando que, quando criança, costumava brincar em torno daqueles velhos chalés. Quantas lembranças foram despertadas, eis que aquele local se modificou completamente. As reformas transformaram completamente um cenário que hoje somente pode ser conhecido por ter sido perpetuado pelas mãos de um fotógrafo desconhecido.

Nas manifestações expressadas nos grupos virtuais, cujo tema são fotografias antigas, é possível comprovar as sensações que essas imagens provocam em qualquer pessoa. O despertar de uma memória afetiva e a emoção que ela traz é o grande sinal da nossa humanidade. Comprova que, apesar de todas as mazelas desses tristes tempos, ainda somos capazes de nos sensibilizar com pequenas coisas, especialmente as que nos fazem relembrar a nossa infância e a feliz convivência com nossos primeiros afetos.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Pulando para o futuro! Anterior

Pulando para o futuro!

Sobre erros que não podemos cometer Próximo

Sobre erros que não podemos cometer

Colunistas do Impresso