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Prelúdio de um golpe

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Infelizmente, o autoritarismo voltou à moda. Tanto é verdade que a plataforma de streaming Netflix exibe uma série de bastante sucesso, cujo título em português é "Como tornar-se um tirano". O que Hitler, Stálin, Franco, Saddam Hussein, Muammar Kadhafi ou Idi Amin Dada tinham em comum? Primeiro, todos eles se aproveitaram de uma situação política conturbada ou de fragilidade da economia. A partir disso, se apresentaram como "salvadores de Pátria" como justificativa para dar o golpe. Todos fizeram uso de um discurso populista e demagógico para atrair grandes massas da população insatisfeitas com o regime. Na retaguarda, existia uma elite financiadora que se beneficiaria da ditadura. Depois de assumir o poder, pela via democrática ou não, esses falsos líderes trataram de esmagar qualquer oposição. Todos, invariavelmente, se apropriaram de símbolos nacionais e do nome de Deus para tornarem-se tiranos.

Qualquer semelhança com o comportamento de Bolsonaro, especialmente no caso das manifestações do dia 7 de setembro, não é mera coincidência. Poucos perceberam que os passos iniciais de um golpe estiveram presentes nessa data. Foi frustrado, primeiro, porque, apesar de ter reunido um número considerável de manifestantes, não foi grande o suficiente para impulsionar um golpe. Segundo, porque as demandas do movimento estavam descoladas da realidade da esmagadora maioria do povo brasileiro, preocupada com a fome, a carestia, o desemprego, a falta de vacinas, etc. A população que sofre com tudo isso não sai à rua para protestar contra o STF, pedir a volta do voto impresso, a intervenção militar ou a liberdade para propagar Fake News.

O que se viu no 7 de setembro está longe de ser um movimento espontâneo. Teve caravanas de ônibus para Brasília e São Paulo, além de farta distribuição de camisetas e bandeiras verde-amarelas no próprio evento. Houve denúncias do pagamento, por parte dos mesmos segmentos que costumam financiar os atos antidemocráticos (agronegócio, entre outros), de R$100 por pessoa presente ao ato. É preciso apurar isso, já que, além de ser crime, viola a legislação eleitoral. É certo que houve mau uso de dinheiro público, de uma forma ou de outra. Por fim, a participação dos caminhoneiros foi difusa e pouco representativa. Afinal, fica difícil explicar para a categoria porque suas lideranças foram a Brasília protestar contra o STF e não contra o alto preço do óleo diesel, do pedágio ou da péssima situação das estradas?

Como ele próprio gosta de dizer, ao incitar a multidão ao desrespeito às instituições, Bolsonaro dá mostras de querer jogar "fora das quatro linhas". Cometeu crime de responsabilidade (o que, por si só, seria motivo suficiente para impeachment) ao pregar descumprimento das decisões do STF e difamar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sem provas. Mas o comportamento golpista fica claro ao dizer que só deixa o poder "preso, morto ou vitorioso". Frase típica de um tirano de quinta categoria!

Diante de tudo isso, qual foi a reação de quem tem o dever de defender nossas instituições? "Noves fora" o discurso mais contundente (mas inócuo) do presidente do STF, a atitude dos presidentes da Câmara e do Senado foi de completa alienação, como se o Legislativo não tivesse nada a ver com isso. São atitudes como essa que facilitam os golpes à democracia. E respiraram aliviados quando Bolsonaro, com medo de ser preso, se socorreu do ex-presidente Temer para escrever uma espécie de armistício. E logo nossas autoridades começaram a falar em "virar a página". Nunca se viu tamanha hipocrisia na história da República!

A geração, como a minha, que viveu 21 anos num regime ditatorial, sabe dar valor ao regime democrático. Já a nova geração, por não ter vivido àquela época, precisa abrir os olhos. Não convém subestimar Bolsonaro pelo seu fracasso no 7 de setembro. Hitler também fracassou no chamado "putsch da cervejaria" e deu no que deu...

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