Sociedade & comportamento

PLURAL: os textos de Suelen Aires Gonçalves e Marcio Felipe Medeiros



  • Autoritarismo, não!
    Suelen Aires Gonçalves
    Socióloga e professora universitária

    O artigo de hoje na "Coluna Plural" está dedicado ao tema em relação ao Lollapalooza, festival de música alternativa composto por gêneros como rock alternativo, heavy metal, punk rock. Na edição Lollapalooza 2022, houve um fato importante a ser refletido pela população e pelos leitores. Trata-se da concessão de liminar, no sábado (26), que proibia manifestações políticas de músicos no festival Lollapalooza, que ocorreu em São Paulo, no último final de semana. Tal decisão foi tomada pelo ministro Raul Araújo, do Tribunal Superior Eleitoral. Tentativa de censura, decisão equivocada?

    CENSURA?

    O que verificamos neste caso acima citado, conforme advogados eleitorais, é uma decisão equivocada e representa censura prévia. A determinação, apresentava uma multa de R$ 50 mil para cada descumprimento, sendo ela solicitada pelo Partido Liberal (PL), do presidente Jair Bolsonaro, contra manifestações políticas das cantoras Pabllo Vittar e Marina na sexta-feira, 25. De acordo com o Consultor Jurídico (ConJur), o presidente da Comissão de Direito Político e Eleitoral do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp), Fernando Neisser, apresenta que, "criticar um governante em exercício ou cantar o nome de um possível candidato não são atos de propaganda antecipada ilegal, pois não há pedido explícito de voto nem uso de meio proibido pela lei".

    SINAL DE ALERTA

    Observamos esse fato com preocupação, pois a tentativa de confundir livre expressão de opinião com propaganda eleitoral antecipada é um sinal de alerta para todas e todos. Nossa jovem democracia garante a liberdade de expressão por meio de manifestação espontânea e gratuita de ideias. A contraposição de pensamentos e o direito pleno da cidadania são essenciais ao processo democrático, de acordo com os princípios constitucionais e devemos zelar. Autoritarismo aqui, não!

    Recursos em uma guerra
    Marcio Felipe Medeiros
    Sociólogo e professor universitário

    Quando pensamos em guerras, algumas reflexões precisam ser estabelecidas como premissas. A fundamental é do que é feito uma guerra, qual seu material? A esta questão, a resposta é simples, ela é feita de pessoas. As guerras são feitas de indivíduos com histórias, os quais doam suas vidas em prol de uma causa. No que diz respeito à atual guerra, a da Ucrânia, narrativas surgem para que as tropas tenham um sentido de lutar. No caso ucraniano, elas lutam para manter sua identidade nacional. No caso russo, a narrativa é livrar os "pequenos russos" (pois a nacionalidade ucraniana não é reconhecida pela Rússia) das amarras do nazismo.

    Em toda guerra, cálculos são realizados, cujo recurso são vidas. Quantas são necessárias para tomar uma cidade ou para defender um posto. Todo o conflito, para ter sucesso, envolve que vidas sejam suprimidas. O cálculo feito pelos generais é simples. Não são eles que estão na linha de frente. Portanto, não irão ter as vidas ceifadas, podendo brincar com a existência alheia como se fossem peões. Basta analisar os recursos humanos, fazer o cálculo de perdas para saber se a missão terá ou não êxito.

    CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA

    Toda guerra, independentemente das razões, gera as mesmas consequências. As imediatas estão relacionadas à morte daqueles que ocupam a linha de frente de batalha. Em concomitância, civis, crianças, idosos e mulheres são mortos por "tiros errados", "bombas que erram alvos". Além disso, em todo conflito, mulheres são violentadas pelos soldados. Esses protocolos de destruição fazem parte da realidade dos conflitos desde tempos imemoráveis. O que muda é a capacidade de destruição e a complexidade das armas, não as consequências das guerras.

    Nesta esteira, a desumanização do outro assume proporções assustadoras. A guerra transforma humanos em estatísticas e vidas em números. Em suma, retira a subjetivação da vida. A guerra reduz os sonhos, anseios e esperanças a gráficos de morte e violência. Muitas pessoas, otimistas em relação ao mundo "ocidentalizado", encaram avanços civilizatórios analisando estatísticas de violência, democracias e renda, ou seja, seguem os passos de conversão humana em números. Será que nosso avanço civilizatório não seria o oposto, de encarar a vida não mais como projeções numéricas, mas como existências complexas?

    De tudo que vivenciamos, à luz dos comportamentos em relação à pandemia, a guerra e a violência, podemos perceber, com certa convicção, que os avanços civilizacionais foram pífios. Os avanços foram econômicos, tecnológicos, mas pouco éticos, morais e empáticos. O desenvolvimento civilizacional não está na disputa e no conflito, mas na habilidade de promover a paz e prezar pela humanização, caminho do qual, aparentemente, só nos distanciamos.


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